Vencedores de Óscares contra a Academia de Hollywood

Christopher Nolan, Alfonso Cuarón, Quentin Tarantino, Spike Lee, Roger Deakins e quase toda a indústria de cinema contra a Academia.

Toda a gente quer que os Óscares 2019 sejam uma cerimónia mais curta. Afinal quem é que não fica até quase às 5 da manhã em Portugal para assistir à cerimónia dos Óscares por completo? Mas quem é que não acredita que a noite dos Óscares é a noite em que sonhos se concretizam? Bem, por mais admirador que sejas dos Óscares este ano não viverás todas as emoções. Isto, uma vez que a Academia decidiu reduzir o tempo de antena para quatro categorias.

Assim, os Óscares para Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Curta-Metragem de Imagem Real e Melhor Maquilhagem & Cabelos serão entregues durante os anúncios publicitários e depois editados para serem incluídos na transmissão em direto. Tudo parecia um mar de rosas para o presidente da Academia John Bailey que referiu que foram os próprios artistas por detrás dessas categorias a se oferecer para terem as suas categorias reeditadas para a transmissão televisiva dos Óscares. No entanto, o mar de rosas rapidamente transformou-se em pesadelo e a Academia de Hollywood está agora debaixo de fogo.

Artistas enviam carta aberta à Academia

Academia de Hollywood
Alfonso Cuarón, Guilhermo del Toro e Alejandro Gonzalez Iñarritu

Não só espectadores, como os mais conceituados cineastas criticaram a decisão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood de recortar estes Óscares da cerimónia ao vivo. Nomes fortes da indústria (Seth Rogen, Alfonso Cuarón, etc.) rapidamente expressaram o seu desagrado pela decisão da Academia tomada em conjunto com os produtores da ABC, canal responsável pela transmissão dos Óscares nos EUA.

Uma carta assinada por vários artistas, muitos deles nomeados e vencedores de Óscares, foi enviada para a Academia, para que a mesma reconsiderasse a decisão. Mais de de 100 realizadores entre eles Alfonso Cuarón, Guilhermo del Toro, Christopher Nolan, Angelina Jolie, Quentin Tarantino, Brad Pitt, George Clooney, Emma Stone, Spike Lee, Spike Jonze, Dee Rees estão contra a Academia. Para não falar do diretor de fotografia Roger Deakins ou das rainhas do Óscar de Melhores Figurinos Colleen Atwood e Sandy Powell, por exemplo, e a lenda viva da cenografia que é Dante Ferretti. Nunca ninguém viu a indústria cinematográfica se virar contra Academia de tal maneira. E o sucedido só revela uma coisa: os Óscares estão em crise.

Academia de Hollywood
Óscares em crise?

Depois de temáticas como a diversidade e o movimento #MeToo terem exposto problemas graves na indústria cinematográfica, com reflexos nos artistas reconhecidos com os Óscares, agora a Academia enfrenta o seu maior medo: uma revolta contra si mesmo. Será que os Óscares conseguem adaptar-se à mudança? Será que John Bailey, o presidente da Academia será vaiado durante o discurso na transmissão em direto ou será que se demite? Relembramos que a Academia nunca esteve em águas tão tormentosas, afinal ainda há pouco tempo atrás criar uma categoria para Melhor Filme Popular…Tudo isto faz-nos rir de tamanha ironia. Não faltará muito para Academia encontrar outra administração.

Esta tentativa falhada da Academia querer supostamente modernizar-se teve efeitos imediatos sobre a indústria cinematográfica que tomava a criação do Óscar de Melhor Filme Popular um insulto, uma vez que distinguia entre filmes mais comerciais e filmes independentes, quando na verdade todos deverão ser considerados para o Óscar de Melhor Filme. Afinal ainda são feitos grandes filmes de ambos os lados! E nos dias de hoje quando a Academia revela uma coisa que não cabe na cabeça de ninguém, o Twitter responde. Vários foram os nomes a apresentar-se contra essa decisão, depois anulada. Agora o insulto aos artistas parece maior, quanto ao facto da Academia deixar quatro categorias para serem entregues durante a publicidade.

Óscares de segunda
O Presidente da Academia John Bailey

Depois da mal reacção a essa mudança, John Bailey procurou trabalhar noutras mudanças, sobretudo de tentar reduzir a duração da cerimónia dos Óscares a fim de aumentar o número de telespectadores que acompanham a cerimónia. Mais telespectadores afinal significaria mais dólares no bolso. Segundo membros da Academia revelaram a publicações norte-americanas, John Bailey trabalhou por detrás das câmaras para persuadir o seu setor de diretores de fotografia a aceitar que a categoria fosse reeditada na transmissão ao vivo. Enquanto isso a sua esposa Carol Littleton fazia o mesmo juntos editores. Os figurinos acabariam por seguir pelo mesmo caminho. E todos pareciam felizes com um vídeo que mostrava a reedição das categorias. Mas tudo mudou na segunda-feira 11 de fevereiro.

Guilhermo del Toro foi um dos primeiros a pronunciar-se como é possível ver no seu comunicado partilhado no Twitter.

Se me permitem: não pretendo sugerir que categorias cortar durante a cerimónia dos Óscares, mas — Fotografia e Montagem estão mesmo no coração do nosso ofício. Não são herdados de uma tradição teatral ou literária: eles são o próprio cinema

O seu compatriota Emmanuel Lubeszki, vencedor de 3 Óscares de Melhor Fotografia em 3 anos consecutivos, também não gostou da decisão da Academia e referiu-se assim,

a fotografia e a montagem são provavelmente as ‘partículas elementares’, os componentes primordiais do cinema. É uma decisão infeliz

Talvez a reação fosse inevitável, já que muitas pessoas não perceberam os detalhes de como os prémios seriam apresentados. Um grande grupo de artistas pensaram que estavam sendo retirados da transmissão por completo. A Academia, por sua vez, não organizou entrevistas com a imprensa para explicar os detalhes da mudança, e agora aponta a culpa às reportagens imprecisas dos jornalistas que disseminaram a incorretamente a informação. Mas quanto dano continuará a Academia a infligir a si mesma? Não será o culpado o próprio presidente da Academia John Bailey por não gostar de novos media?

Como resultado a Academia tem uma resposta pelos seus líderes. Os artistas estão aborrecidos por serem liderados por uma instituição velha, desajeitada que não tem noção daquilo que vai na cabeça dos artistas que supostamente representa. E muitos artistas estão-se literalmente nas tintas. A situação intensificou-se no momento em que uma lista de mais de 40 nomes da indústria de cinema, liderados pelo diretor de fotografia Roger Deakins e por realizadores como Spike Lee e Quentin Tarantino, decidiu direcionar uma carta aberta à Academia. O pedido era óbvio: manter as categorias na transmissão em direto. Afinal, ninguém se importa de ter uma cerimónia 15 minutos mais longa, desde que os vencedores sejam devidamente recompensados.

Awards Season
Regina King em “Se Esta Rua Falasse”

Regina King, artista nomeada ao Óscar de Melhor Atriz Secundária por “Se Esta Rua Falasse” também afirmou-se contra a decisão da Academia de apresentar as quatro categorias nos intervalos.

Eu não gosto disto. Eu não acho que seja um tratamento simpático. Eu sou uma artista e acredito que todos nós trabalhamos muito, nutrimos nossos presentes e todos poderíamos celebrá-los com o mundo. Não parece que 15 minutos vão fazer essa grande diferença.

Será que a Academia continuará a responder? Ou será que a Academia aceita a decisão dos artistas? A carta aberta direcionada à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e aos produtores da 91ª edição dos Óscares da Academia pode ser lida abaixo. Podes igualmente conhecer os nomes dos artistas que a assinaram. O que seriam dos Óscares sem politiquices?

John Bailey, Presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, anunciou que este ano a apresentação dos Óscares para Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Curta-Metragem de Imagem Real e Melhor Maquilhagem e Cabelos não se realizaria em direto, mas decorreria durante os intervalos para anúncios. Esta decisão foi tomada para reduzir a duração da cerimónia de quatro para três horas. A resposta dos nossos companheiros e a revolta dos líderes da indústria face à decisão da Academia revelam que não é tarde para voltar atrás na decisão.

A Academia foi fundada em 1927 para reconhecer e defender a excelência das artes cinematográficas, inspirar à imaginação e ajudar a conectar o mundo através do universo dos filmes. Desafortunadamente, temo-nos desviado desta missão na busca pela apresentação do entretenimento em vez de apresentar uma celebração da nossa forma de arte e das pessoas por detrás dela.

Relegar estas artes essenciais com a de fotografia, a um status menor nesta 91ª edição dos prémios da Academia, não é mais do que um insulto a todos os que entregamos as nossas vidas e paixões à profissão que escolhemos.

O produtor da transmissão televisiva Glenn Weiss revelou que se selecionariam quais os momentos irão determinar uma certa emotividade nos discursos e que depois seriam editados para serem inseridos na transmissão, algo que consideramos um reflexo de potencial censura e algo que vai contra o espírito da Academia.

Desde a sua criação, a transmissão televisiva dos prémios da Academia foi alterada ano após ano para manter o formato original, mas nunca por sacrificar a integridade da missão base da Academia. Quando o reconhecimento por aqueles responsáveis pela criação de um cinema excepcional está a ser diminuído pela mesma instituição cujo propósito é protegê-lo, não estamos sustentando a promessa da Academia de celebrar o cinema como uma forma de arte colaborativa. Para citar o nosso colega Seth Rogen, “Que melhor maneira de celebrar conquistas no cinema do que NÃO honrar publicamente as pessoas cujo trabalho é literalmente filmar as coisas?”

Assinado

Diretores de Fotografias

Thomas Ackerman
Javier Aguirresarobe
Fernando Argüelles
Paul Atkins
Gary Baum
Bojan Bazelli
Dion Beebe
Bill Bennett
Gabriel Beristain
Oliver Bokelberg
Russell Boyd
Natasha Braier
Vance Burberry
Antonio Calvache
Rodney Charters
Christopher Chomyn
James Chressanthis
T.C. Christensen
Jack Cooperman
Dean Cundey
David Darby
Roger Deakins
Frankie DeMarco
Peter Deming
Jim Denault
Caleb Deschanel
George Spiro Dibie
Billy Dickson
Mark Doering-Powell
Todd A. Dos Reis
Stuart Dryburgh
Bert Dunk
John Dykstra
Robert Elswit
John C. Flinn III
Mauro Fiore
Markus Förderer
Ron Fortunato
Greig Fraser
Jonathan Freeman
Alex Funke
Steve Gainer
Dana Gonzales
Nathaniel Goodman
David Greene
Alexander Gruszynski
David R. Hardberger
Gregg Heschong
Tom Houghton
Paul Hughen
Shane Hurlbut
Peter James
Johnny E. Jensen
Matthew Jensen
Tor Johansen
Shelly Johnson
Janusz Kaminski
Adam Kane
Stephen M. Katz
Darius Khondji
David Klein
Ellen Kuras
Joseph Labisi
Ed Lachman
Jacek Laskus
Patti Lee
Robert Legato
John Leonetti
Philippe Le Sourd
Peter Levy
Karl Walter Lindenlaub
Jimmy Lindsey
Emmanuel Lubezki
Glen Macpherson
Paul Maibaum
Constantine Makris
Denis Maloney
Anthony Dod Mantle
Clark Mathis
Michael McDonough
Erik Messerschmidt
Anastas Michos
Gregory Middleton
Charles Minsky
Seamus McGarvey
Robert Mclachlan
Suki Medencevic
Chris Menges
Dan Mindel
George Mooradian
Reed Morano
Polly Morgan
Rachel Morrison
Peter Moss
David Moxness
M. David Mullen
Guillermo Navarro
James Neihouse
Michael Negrin
John Newby
Sam Nicholson
Crescenzo Notarile
Jules O’Loughlin
Thomas Alger Olgeirsson
Phedon Papamichael
Andrij Parekh
Daniel Pearl
Dave Perkal
Wally Pfister
Rodrigo Prieto
Robert Primes
Frank Prinzi
Christopher Probst
Robert Richardson
Anthony B Richmond
Antonio Riestra
Pete Romano
Martin Ruhe
Paul Ryan
Alik Sakharov
Mikael Salomon
Linus Sandgren
Germano Saracco
Paul Sarossy
Tobias Schliessler
John Seale
Ben Seresin
Steven Shaw
Lawrence Sher
Newton Thomas Sigel
John Simmons
Vittorio Storaro
Gavin Struthers
Tim Suhrstedt
Attila Szalay
Mario Tosi
Salvatore Totino
Kristy Tully
Eric van Haren Noman
Hoyte van Hoytema
Kees van Oostrum
Theo Van De Sande
Checco Varese
Mark Vargo
Roy Wagner
Colin Watkinson
Michael Weaver
Mark H. Weingartner
Jo Willems
Kenneth Zunder

Realizadores

Darren Aronofsky
Brad Bird
Danny Boyle
Damien Chazelle
George Clooney
Joel Coen
Brady Corbet
Alfonso Cuaron
Guillermo del Toro
Steve Faigenbaum
Rick Famuyiwa
Rodrigo Garcia
Drew Goddard
James Gray
Luca Guadagnino
Sam Hargrave
Alejandro G. Iñárritu
Spike Jonze
Nicole Holofcener
Ron Howard
Karyn Kusama
Yorgos Lanthimos
Ang Lee
Spike Lee
Will Lovelace
Kevin Macdonald
Dennis Maguire
Michael Mann
Rob Marshall
Sam Mendes
Christopher McQuarrie
Christopher Nolan
Pawel Pawlikoski
Alexander Payne
Mark Pellington
Michael Polish
Sam Raimi
Jason Reitman
David O. Russell
Dee Rees
Nicolas Winding Refn
Seth Rogen
Joe Russo
Marjane Satrapi
Julian Schnabel
Martin Scorsese
M Night Shyamalan
Dylan Southern
Quentin Tarantino
Fernando Trueba
Denis Villeneuve
Chris Weitz
Joss Whedon
Edgar Wright
Joe Wright

Atores

Kathy Baker
Elizabeth Banks
Kate Bosworth
Zach Braff
Sterling K. Brown
Sandra Bullock
Rose Byrne
Bobby Cannavale
Max Casella
Jessica Chastain
Robert De Niro
Peter Dinklage
Ann Dowd
Elle Fanning
Paul Giamatti
Bill Hader
Michael C. Hall
Jon Hamm
Catherine Keener
Barry Keoghan
Riley Keough
Jude Law
Virginia Madsen
Frances McDormand
Max Minghella
Rosamond Pike
Brad Pitt
Jason Segel
Chloe Sevigny
Tye Sheridan
Emma Stone
Jason Sudeikis
Ulrich Thomsen
Kerry Washington
Olivia Wilde

Cineastas

Jacques Audiard
Collen Atwood
Kym Barrett
Thomas Barron
Alan Baumgarten
Alan Edward Bell
William Brent Bell
Erin Benach
Avril Beukes
Consolata Boyle
Maryann Brandon
Alexandra Byrne
Eugenio Caballero
Milena Canonero
Hank Corwin
Scott Dale
Sophie De Rakoff
Chris Dickens
Matthew Duclos
Bob Ducsay
Mark L Duncan
Seth Emmons
Louie Escobar
Lou Eyrich
Dante Ferretti
Eric Fletcher
Glenn Fremantle
Jose Antonio Garcia
Dana Glauberman
William Goldenberg
Affonso Goncalves
Adam Gough
Jon Gregory
Clay Griffith
David Gropman
Mark Helfrich
Dorian Harris
Michael Hatzer
Rick Heinrichs
David Heyman
Amy Hobby
Frieder Hochheim
Jay Holben
Nichole Huenergardt
Rob Hummel
Chris Innis
Alan Ipakchian
Joanna Johnston
Frank Kay
Debbie Kennard
Douglas Kirkland
Jon Kilik
Anne Kuljian
Michael Legato
Devin Mann
Michael Mansouri
Mary Jo Markey
Joi McMillon
Ellen Mirojnick
Stephen Mirrione
Bob Murawski
Jeffrey A. Okun
John Ottman
Ellen Page
Michael Pizzuto
Sandy Powell
Fred Raskin
Tatiana S. Riegel
Amy Robinson
Elísabet Ronaldsdóttir
Mayes Rubeo
Nat Sanders
Pietro Scalia
Steve Schklair
Ellen H. Schwartz
Alexander Schwarz
Steven J. Scott
Anna B. Sheppard
Terilyn A. Shropshire
Lee Smith
Joan Sobel
Stefan Sonnenfeld
D. Brian Spruill
Mick Strawn
Juli Silver Taracido
Matthew Tomlinson
Michael Tronick
Plummy Tucker
Mark Ulano
Martin Walsh
Gary Wattson
Billy Weber
Julie Weiss
Hughes Winborne
Janty Yates

Os Óscares acontecem no próximo dia 24 de fevereiro sem apresentador, obviamente outra das controvérsias da 91ª edição dos Óscares. 

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