Volta Daniel! Não precisas de cortar os pulsos!
Se Daniel Craig abandonar o papel do super-espião, depois de 007 Spectre, perde-se o mais credível e autêntico actor para dar continuidade à espantosa e imemorável saga de James Bond. Será que Craig vai mesmo embora?
Daniel Craig, o ator britânico que vai aparecer pela quarta vez como James Bond, em 007 Spectre disse que preferiria cortar os pulsos a interpretar novamente o famoso agente secreto:
Preferiria quebrar esse vidro e cortar os pulsos, disse Craig, de 47 anos, à revista britânica de Time Out, logo depois de ter terminado o seu trabalho, em Julho passado, no 24º filme de James Bond. Quando insistiram em perguntar-lhe se iria continuar a fazer o papel, respondeu: Não, não no momento. De modo algum. Superei isso. Tudo o que quero fazer é seguir em frente, disse Craig.
O actor afirmou ainda que é muito duro atender às expectativas que a imagem de Bond tem de projetar, e que deu tudo de si no mais recente 007 Spectre:
Todas as ideias que já tive para o papel de Bond, pus neste último filme. Já está tudo lá. O banco de Bond está vazio. Se me perguntassem o que faria com um novo filme do Bond? Não faço ideia. Ir para o espaço? Vamos! Já foram. Vamos outra vez?
Apesar das palavras do actor há muitas razões para os admiradores de Craig ficarem desapontados pois fica-se com a sensação de que todos os James Bonds foram necessários para chegar a este, quase numa espécie de selecção natural. O Bond de Craig é o mais parecido com o retrato do espião duro e frio, criado nos romances de Ian Fleming (embora diga-se que aparentemente o escritor preferia Roger ‘O Santo’ Moore).
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Desenhados a partir das famosas silhuetas dos créditos Bond, para despertar todo o tipo de emoções, mas igualmente para lhes introduzir um faceta e uma perfeição mais ou menos irrealistas, todos os Bond foram bem diferentes, dependendo não apenas do físico dos actores. Temos tido Bonds mais ou menos brandos, mais ou menos convincentes, mais ou menos tolerantes: desde o charme de Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan, ao perfil trágico e shakspeariano de Timothy Dalton, entre outros como o sorridente australiano George Lazaby, o mais tímido com as mulheres e protagonista de 007: Ao Serviço de Sua Majestade, rodado em parte entre o Guincho e Lisboa, em plena Ponte Sobre o Tejo.
Na verdade diga-se (e não de passagem) que nenhum pareceu tão autêntico e ‘realista’ como Craig: um sinal dos tempos e uma evolução positiva nas histórias e no contexto actual de um mundo cada vez mais sujeito às incertezas e convulsões. Mas também há muito da personalidade e do caráter do actor que não hesita impulsivamente em dizer, que preferia cortar os pulsos, a voltar ao papel. O Bond de Craig consegue de facto ser o mais diferente e original de todos os outros: sangra quando luta, amarrota e mancha os fatos, quando não se lança ao ataque num tronco nu musculado apesar da sua madurez, (um pouco de Action Man) conduz carros simples e não apenas o Austin Martin, tem dúvidas e poucas certezas, sofre que nem um cão, é rebelde como um revolucionário, descontrolado como um louco, sofre de insónias, sorri apenas, seduz mais pela sua frieza do que pela simpatia (lembra Vladimir Putin), tem um olhar fixo e obsessivo e aparenta um lado algo negro, complexo e contraditório como todos os seres humanos e outros heróis do cinema e banda desenhada.
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Este Bond de Daniel Craig está quase sempre sozinho, não pede instruções à Moneypenny e raramente usa os ‘gadgets’ de ‘Q’, engana-se por vezes, é brutal, arrogante, impulsivo, mata friamente como qualquer assassino, e por outro lado apaixona-se perdidamente,como em Casino Royal por Vesper Lyind. Recorde-se que os primeiros segundos do Bond de Craig, foram propositadamente rodados a preto e branco (no principio da saga que se reinicia com ‘Casino Royal’) procurando situar o personagem um pouco antes do agente secreto ser promovido a duplo zero e depois do seu segundo assassinato. Aí estava Craig na origem de James Bond no MI6. Quando viram este filme todos os grandes admiradores da saga, decerto pensaram: não era exactamente isto que eu pensava que seria um verdadeiro James Bond. Provavelmente Craig não é o Bond mais bonito, nem o mais atraente.
Para quem ama o cinema e tem acompanhado fervorosamente todos os filmes de James Bond, Daniel Craig é sem dúvida o mais crível e talvez por isso também o mais sexy, (ou antes o verdadeiro sexy mother fucker) de sempre. Craig é como uma espécie de aguardente velha bem destilada, e o talvez o mais adequado actor para representar o personagem-ícone de Fleming neste século XXI e num mundo ainda mais perigoso, do que era antes para os outros Bond. Veja-se abaixo a actualidade argumentos dos filmes com Craig: o terrorismo financeiro, a água como recurso escasso, terrorismo. Em ‘Casino Royal’ há uma cena em que James Bond (Craig) sentado junto a chaminé olha friamente e com um esgar diz para M (Judie Dench): Dizem que os duplos zero têm uma vida curta, portanto serei um erro efémero. Na verdade e apesar de Daniel Craig querer deixar de fazer de Bond, o que ele diz só pode estar longe da realidade e da…ficção. Por favor volta Daniel, volta a ser Bond, não é preciso cortares os pulsos!
OS FILMES DE ‘JAMES’ DANIEL ‘BOND’ CRAIG
Casino Royale (Martim Campbell, 2006)
Argumento: O recém promovido agente 007, James Bond, enfrenta um poderoso terrorista financeiro (Mads Mikkelsen), apoiado numa misteriosa e obscura organização. Na sua perseguição vai ter de jogar una partida de poker no Casino de Montenegro e para isso vai contar com ajuda de Vesper Lynd (Eva Green), uma bela representante do Ministério do Tesouro.
Quantum of Solace (Marc Foster, 2008)
Argumento: Depois de capturar o misterioso Senhor White, Bond descobre que a Quantum, organização que este representava é muito mais perigosa e poderosa do que se pode imaginar. O percurso das suas investigações leva-o a enfrentar Dominic Green (Mathieu Amalric) um empresário sem escrúpulos, que trama um plano maléfico para tomar conta de um recurso essencial na Bolívia.
007 Skyfall (Sam Mendes, 2012)
Argumento: Depois de uma acidentada missão, Bond é dado como morto. Na realidade encontra-se propositadamente retirado e fora de circulação em busca de um sentido para o seu trabalho e a sua vida. No entanto, vê-se obrigado a regressar ao activo quando o MI6 sofre uma série de brutais ataques que colocam em perigo toda a organização dos serviços secretos, inclusive os seus agentes e a própria M (Judie Denche).
007 Spectre (Sam Mendes, 2015)
Argumento: Depois de receber uma mensagem misteriosa que provém do seu passado, Bond segue a pista para descobrir uma sinistra organização. Enquanto M (Ralph Fiennes) luta contra forças políticas que ameaçam acabar com os serviços secretos, Bond revelará o engano que oculta uma verdade terrível e que esconde afinal essa organização Spectre.