Top 10 cinema italiano | 6. Aconteceu no Oeste

Aconteceu no Oeste é um poema épico construído por Sergio Leone como a derradeira representação do Oeste americano em filme, elevando estas narrativas populares ao estatuto de mitos com dimensões bíblicas.

 

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Título Original: C’era una volta il West
Realizador:  Sergio Leone
Elenco:  Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards
1968 | 175 min


 

Só os primeiros 15 minutos de Aconteceu no Oeste já seriam suficiente justificação para a sua presença em qualquer tipo de lista do melhor cinema italiano alguma vez feito. Com o seu uso inigualável da épica e majestosa dimensão do Techniscope, sua exploração de sufocante tensão pontuada por uma orquestra de perturbadores sons a romperem o silêncio, assim como a primeira instância da melhor banda-sonora na carreira do lendário Ennio Morricone, Sergio Leone alcança uma espécie de agressivo nirvana cinematográfico. Tanto as expansivas paisagens como as faces em extremo grande plano e os mais ínfimos ruídos têm o grandioso poder cinemático de um ato de fúria divina, e isto são apenas os primeiros minutos. O resto do filme, se tal é humanamente possível, supera-os.

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Aconteceu no Oeste

Sergio Leone pega na narrativa do western e suas personagens usuais e eleva todo este folclore e cultura popular americana ao estatuto de mito. Longe de criar uma simples aventura de ação, Leone constrói uma ópera sanguinária, uma história de arquétipos cuja simplicidade, longe de menorizar o filme, confere-lhe a atmosfera de um conto bíblico passado nos desertos do Velho Oeste. Aconteceu no Oeste conta uma narrativa que encapsula três histórias em constante entrelaçamento, a de um errante sem nome, por vezes chamado de “Harmónica”, que procura vingar a morte do seu irmão; a de uma bela viúva que, após o assassinato do seu marido, tenta continuar o seu sonho de construir uma real comunidade no deserto inóspito; e a de um cruel assassino às ordens de um magnata dos caminhos-de-ferro que vai rasgando a paisagem americana com as suas linhas ferroviárias, não num nobre esforço por expandir a civilização, mas por ávida ganância e sede de poder.

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Raramente houve um filme com um domínio tão formidável do poder da composição retangular e do poder estilístico e emocional da música, construindo uma imagética e sonoridade que são a definição máxima do conceito de “épico”. De um modo imensamente bizarro, poder-se-ia mesmo dizer que esta obra-prima do cinema épico é também um dos mais formidáveis retratos do tenso e entediante ato de esperar. Com a sua longa duração e prolongamento de momentos como a sequência inicial, Leone construiu um ensaio sobre o prazer e necessidade da espera, pois em ordem para haver vingança há que se esperar pelo perfeito momento de retribuição, para o progresso existir há que trabalhar e desesperadamente aguentar a passagem do tempo, para se ter um final épico, operático e catártico, há que se suportar a duração de um épico.

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Se Leone celebrou e tornou mitológico um dos mais americanos dos géneros cinematográficos, Rossellini, no próximo filme da nossa lista, desconstrui e rejeitou, com o mesmo fervor, os epítetos melodramáticos do cinema romântico de Hollywood.

 

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