A Bela e o Monstro | O pomposo estilo de Gaston

Como o vilanesco Gaston, Luke Evans é, provavelmente, a pessoa mais bem vestida do elenco da nova versão de A Bela e o Monstro.

 


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Uma das personagens mais alteradas de A Bela e o Monstro, em relação ao filme original de 1991, é interessantemente o seu vilão. Tal como os servos tornados objetos (no conto-de-fadas original eles são invisíveis e mudos), o vilão original da narrativa da Disney foi uma criação mais ou menos nova, sendo que o seu único precedente era o vilão que Jean Cocteau concebeu para a versão de 1946. Aí, o arrogante e muito atraente pretendente de Belle serve para contrastar a crescente gentileza do Monstro.

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Efetivamente, o filme de animação usa Gaston como um arquétipo subversivo, um homem charmoso, atraente, musculosos, atlético e aventureiro que, noutra narrativa mais tradicionalista, seria o herói com quem a heroína acabaria apaixonada. Em A Bela e o Monstro de 1991 ele está longe de ser heroico e acaba por ser uma personificação de machismo e noções de masculinidade tóxica, incluindo a estúpida crença que, porque ele quer, Belle tem o dever de se render aos seus avanços.

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Outro dado importante do filme de 1991, é que Gaston é um antagonista perfeitamente bidimensional. Para além do seu aspeto, ele não tem nada de positivo, sendo que até desrespeita a protagonista e lhe mostra como, para si, apenas a beleza exterior interessa e que a altivez intelectual de Belle é apenas um incómodo. Na nova versão, surpreendentemente, Gaston parece apreciar Belle tanto pela sua beleza como pela sua personalidade.

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Uma das piadas do filme, tem mesmo Gaston a elogiar a dignidade da protagonista e a afirmar que é uma qualidade imensamente atraente. Em contraposição, as suas atitudes negativas deixam de ser o fruto de um privilégio internalizado e passam a parecer rasgos de inesperada psicopatia, como quando ele decide deixar quase mata o pai da sua suposta amada num acesso de raiva e orgulho ferido.

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Todas estas facetas, mais textuais que visuais, têm impacto na sua aparência final no grande ecrã e seus contrastes para com a versão de 1991. No filme mais antigo, Gaston parece um bodybuilder daltónico mascarado de Robin dos Bosques (o seu figurino principal não tem grandes referências ao século XVIII), enquanto no filme de 2017 ele é interpretado por Luke Evans que, apesar de ser um magnífico espécime esteticamente falando, não tem o tamanho de uma embarcação pequena (“I’m roughly the size of a barge” é um dos versos da canção Gaston). Para além disso, os seus figurinos são completamente situados numa estética militar setecentista bem mais dependente de referências históricas que a maioria das outras figuras do filme.

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Na sua primeira aparição, vemos Gaston chegar à aldeia de Villeneuve, depois de, aparentemente, ter combatido numa guerra sangrenta. Como tal, ele está vestido com um uniforme militar pontuado com detalhes em vermelho vivo – a cor principal da personagem que nos lembra sempre da sua perigosa agressividade. De certo modo, tais traços militares seriam a epítome da masculinidade neste contexto histórico e, como já estabelecemos, Gaston teve a sua origem numa personificação de masculinidade tóxica. Além disso, há um rigor na elegância do seu traje que sugere imediatamente a pomposidade egotista de Gaston que, para salientar o seu físico, anda sempre com uma camisa branca de gola aberta.

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Depois das suas tentativas falhadas de conquistar Belle, voltamos a ver este vilão na taberna local, onde LeFou, o seu fiel companheiro, convence os outros aldeões a lhe cantarem uma canção a elogiar a sua grandiosidade. Para esta cena, Luke Evans veste aquele que é, provavelmente, o melhor figurino do filme. Referimo-nos ao seu magnífico traje militar setecentista que copia o esquema cromático de vermelho e amarelo do filme de animação e acrescenta alguns detalhes doirados para veracidade histórica. Há uma simplicidade magnífica no figurino que, ao mesmo tempo, consegue sugerir a carga icónica de algo tão memorável como o vestido amarelo que Belle na versão de 1991.

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Por fim, Gaston termina o seu arco narrativo noutra indumentária escarlate, desta vez numa tonalidade mais escura e sugestiva de sangue que o fogoso vermelho da cena na taberna. As linhas militarísticas mantêm-se, mas agora os materiais são mais fortes e a casaca de cabedal é, consequentemente, construída de modo a ficar mais ajustada ao seu corpo possante. Quando a sua fúria homicida chega aos seus píncaros, também o guarda-roupa de Gaston parece mais ameaçador do que antes, sugerindo um monstruoso guerreiro pronto a derramar o sangue dos seus inimigos sem misericórdia ou remorsos.

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Na próxima página, chegamos ao fim da nossa exploração dos figurinos de A Bela e o Monstro. Apenas nos falta falar de LeFou, Maurice, os aldeões e uma personagem nova nesta versão do conto clássico. Não percas!

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