10 filmes esquecidos pelos Óscares | A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares

A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares marcou um leve regresso de Tim Burton à qualidade criativa que, em tempos, caracterizou o seu trabalho.

 


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tim burton A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares

Seguindo as fantasias juvenis e dor psicológica da última página, chegamos agora ao mais recente filme de Tim Burton, A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares. Permitam-nos uma hipérbole muito merecida, este é o melhor filme, não animado, do realizador desde a sua seca, mal cantada mas visualmente cativante versão de Sweeney Todd. Não que, verdade seja dita, haja muita competição, sendo que a qualidade dos seus trabalhos tem vindo a sofrer uma queda tão vertiginosa que um nome outrora associado a idiossincráticas aventuras expressionistas cheias de criatividade despregada e paixão inebriante, agora é sinónimo de cansativo auto-plágio e enjoativas salganhadas de efeitos visuais mal empregues.

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Mas chega de negativismos, com A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, parece que estamos finalmente a ver Tim Burton voltar ao que era, mesmo que, como não podia deixar de ser, o argumento com que trabalha e a sua direção de atores continuem a ser, no mínimo, trágicos. E lá caímos outra vez no negativismo, um pouco como o protagonista deprimido do filme, que, após a morte violenta do seu adorado avô e uma vida passada como um pária mesmo aos olhos dos pais, se vê envolvido num mundo paranormal que ele há muito se tinha convencido serem apenas invenções mirabolantes do seu avô.

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Tal como muitos filmes de 2016 (Jackie, Sete Minutos Depois da Meia-Noite, Vaiana, Manchester by the Sea, O Que Está Por Vir, etc.), esta é uma obra focada grandemente na aceitação da perda e da morte, se bem que, neste caso, tal fim não é um ponto final incontornável. Essa dimensão enlutada, acaba por sombrear muitos dos devaneios mais insanos do enredo (incrivelmente convoluto na sua sintetização da obra literária original), trazendo-lhes alguma da melancolia subtil de Eduardo Mãos-de-Tesoura ou o peso da mortalidade sentido em Ed Wood.

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Além do mais, tal como esses dois filmes da era dourada na filmografia de Burton, A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares é abençoado com um ou dois desempenhos que elevam todo o projeto e uma coleção de cenários, figurinos, maquilhagens e efeitos visuais espetaculares na sua ingenuidade. No que diz respeito aos atores, Eva Green é a absoluta estrela do elenco, trazendo uma natureza profundamente anti sentimental a um papel que, nas mãos de uma atriz menos inteligente ou estilizada, teria sido um aborto de inapropriada lamechice maternal. Não que Green seja fria, longe disso, mas há uma solenidade estoica no seu trabalho que faz mais para sugerir o perigo e a ameaça deste mundo fantasioso do que qualquer outro ator em cena. Com um papel muito mais pequeno, o lendário Terrence Stamp converte o avô do nosso herói numa âncora emocional para todo o filme.

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Mas isso são os atores e ao todo é maior a mediocridade que a qualidade no elenco. A verdadeira razão para a presença desta obra na nossa lista dos injustamente esquecidos pelos Óscares, é a sua sublime construção visual de um mundo de fantasia. A cenografia de Gavin Barrett é da usual qualidade saturada de detalhes dos filmes recentes de Burton, mas mostra contenção suficiente para não se tornar numa violação às retinas da audiência como os filmes de Alice no País das Maravilhas e o seu barroco horror ao vazio. Por seu lado, os figurinos de Colleen Atwood são bem melhores que os esforços no filme do mundo Harry Potter que efetivamente lhe garantiu uma nomeação para o Óscar este ano.  O seu trabalho com as diversas crianças aos cuidados da Senhora Peregrine é particularmente audacioso na sua celebração do grotesco e elementos de inquestionável terror.

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Finalmente, temos que celebrar os efeitos visuais criados para este filme pois, com exceção de Doutor Estranho, mais nenhum projeto de 2016 mostrou tanta criatividade na conceção dos seus espetáculos em CGI. Não estamos a sugerir que os efeitos de A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares são os mais fotorrealistas do ano, mas a sua inventividade e papel integrante da estética do filme transcende tais questões. Veja-se, por exemplo, a inspirada homenagem aos guerreiros esqueletos de Ray Harryhausen ou o interior de um navio afundado a ser esvaziado do seu conteúdo aquoso com um sopro sobrenatural. Não é de realismo que se trata, mas sim da criação de imagens apenas possíveis no cinema, o âmago da magia da sétima arte enquanto entretenimento e fábrica de sonhos.

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Outra nomeação que o filme podia ter merecidamente recebido seria Melhor Canção para “Wish That You Were Here”, onde Florence Welsh faz um melhor trabalho que Asa Butterfield a telegrafar os desejos amorosos da sua personagem. Mas, como temos visto nos últimos anos, a Academia não é fã dos esforços cinematográficos da vocalista de Florence + the Machine.

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