Daredevil | Primeira temporada em análise

 

Após mais de uma década afastado dos ecrãs, o “homem sem medo” faz o seu aguardado regresso em “Daredevil“, a primeira das cinco séries da Marvel para a plataforma de streaming Netflix.

Ao longo de 13 brilhantes e intensos episódios, “Daredevil” mostra a transformação de Matt Murdock (Charlie Cox) em Daredevil, assim como o seu primeiro confronto com Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio).

A série não se centra apenas na sua personagem titular, focando-se bastante em Fisk e nas lutas de poder no submundo de Hell’s Kitchen, debruçando-se também nas personagens próximas a Murdock, tais como Karen Page (Deborah Ann Woll), “Foggy” Nelson (Elden Henson) ou Ben Urich (Vondie Curtis-Hall).

“Daredevil” é, à semelhança da sua congénere da banda desenhada, mais do que uma história de ação/aventura de super-heróis, tendo uma forte influência de filmes noir ou de gangsters, e na série as cenas de ação estão lado a lado de momentos plácidos em que o diálogo entre personagens é predominante.

A ação de “Daredevil” é estonteante, nomeadamente as sequências de lutas, executadas de forma sublime e com uma intensidade acima da média (nomeadamente a do final do segundo episódio, talvez a cena mais impressionante de toda a série), que no entanto conseguem manter uma sensação de realismo.

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Outros dos elementos a destacar neste novo projeto da Marvel é o elenco, e todos os atores de “Daredevil” trouxeram para os ecrãs a essência que as suas personagens têm nas páginas dos livros da banda desenhada.

O elenco de luxo é liderado por Charlie Cox no papel de Matt Murdock/Daredevil, captando na perfeição todos os aspetos do “homem sem medo”.

Cox convence imediatamente desde o seu monólogo inicial, apresentando de forma exímia o conflito pessoal vivido pela sua personagem, os seus próprios “demónios”, a sua força de vontade e tenacidade, sem esquecer o clássico charme de Matt Murdock.

Quem também aqui brilha é Vincent D’Onofrio, que interpreta Wilson Fisk, um arqui-inimigo bem à altura de Daredevil.

Com um porte físico intimidante, imagem de marca do “Kingpin”, D’Onofrio traz todo o temor que a personagem representa no universo Marvel, transmitindo isto através de uma interpretação excepcional, dando vida a um Wilson Fisk profundamente perturbado e como tal, bastante perigoso.

O seu Fisk aparenta ser um homem nobre, calmo e calculista, mas de baixo desta falsa aparência existe um “rei do crime” sem escrúpulos prestes a explodir a qualquer momento.

Wilson Fisk Kingpin

O mais cativante neste Wilson Fisk é o modo como a personagem tenta conciliar a tormenta constante no seu interior com um lado mais humano, nomeadamente quando está ao lado de Vanessa (Ayelet Zurer), uma das poucas pessoas que conseguem suprimir (e por vezes alimentar) o seu lado de monstro.

Destaque também para o braço direito de Fisk, James Wesley, interpretado por Toby Leonard Moore, um dos elementos mais refrescantes e carismáticos de “Daredevil”, e para Deborah Ann Woll enquanto Karen Page, uma das figuras mais trágicas do universo Daredevil.

A atriz está soberba como Page, mostrando nos episódios um presságio do que está para vir, deixando nos fãs uma vontade ainda maior de uma futura adaptação de “Born Again”, de Frank Miller e David Mazzucchelli, considerada como a história seminal de Daredevil, e em que Karen Page é um dos fios condutores.

Relativamente à banda desenhada, este material de origem é muito bem utilizado por “Daredevil”.

“The Man Without Fear”, mini-série escrita por Frank Miller e com arte de John Romita Jr., é claramente uma grande inspiração, tanto em determinados elementos da história como na própria tonalidade adotada pela série.

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O ambiente de “Daredevil” parece ser também bastante influenciado pelo período em que o escritor Brian Michael Bendis e o artista Alex Maleev tomaram as rédeas da personagem (trabalho que Charlie Cox mencionou bastantes vezes como inspiração ao promover a série), e a arte de Maleev chega mesmo a fazer uma breve aparição no final da temporada.

Mas, apesar desta próxima ligação à origem, “Daredevil” conta a história à sua própria maneira, tornando-a original e única mesmo para quem conheça todos os cantos da Hell’s Kitchen dos comics.

A série mostra em várias ocasiões não se sentir constrita ao cânone da Marvel, como acontece por exemplo na morte do repórter Ben Urich, algo inesperado devido à importância da personagem no mundo de Daredevil.

O ambiente pelo qual Daredevil é caracterizado na nona arte é sem dúvida a melhor importação da série, o que a torna bastante diferente do restante universo cinematográfico da Marvel.

“Daredevil” apresenta uma Hell’s Kitchen “neo-noir”, com algumas parecenças à Gotham da triologia Dark Knight de Christopher Nolan mas mais violenta e suja. Dentro desta atmosfera a série sobressai pelos seus jogos de sombras e luzes, algo que torna esta adaptação muito mais intensa e séria do que o restante universo cinematográfico Marvel.

Daredevil

Ao lado disto está o som (a banda sonora, a cargo de John Paesano, é soberba) e a própria cinematografia, as grandes armas de “Daredevil” para mostrar os atributos especiais do seu herói, e de uma forma simples mas criativa a série consegue utilizar aspetos como o “slow-motion” ou o áudio para transpor estas habilidades para os ecrãs.

“Daredevil” apenas peca por não dar tanto destaque à sua personagem principal como esta à partida merecia. Quando Matt veste finalmente o seu famoso fato vermelho, a série já se encontra a caminhar para o final, o que deixou a boca praticamente a transbordar.

Apesar de mostrar muito, “Daredevil” deixou igualmente muito por mostrar, plantando algumas sementes para o que aí vem, e, tendo em conta a qualidade apresentada por esta série, mal podemos esperar pelo capítulo seguinte.

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