Do Livro à Tela | As Cinquenta Sombras de Grey

As Cinquenta Sombras de Grey Poster Livro

Do Livro à Tela

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As cinquenta sombras de Grey

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As cinquenta sombras de Grey são o grande fenómeno literário dos últimos tempos, vendendo milhões e alterando o mercado mundial, com as editoras a apostarem no género, tentando que outros autores menos conhecidos tenham aqui o boost de vendas simplesmente porque estão dentro do este livro no deu.

Na realidade, As cinquenta sombras de Grey não é inovador, mas sim um livro que explora bastante bem a base que agora se tornou comum no género: temos uma rapariga banal, sem grande sucesso financeiro e sem ser auto confiante ou muito atraente, e do outro lado temos o bonito e sensual homem bem sucedido de fato e gravata que vive num mundo em que o dinheiro tudo possibilita (isto é a base atual e este livro não a usa na totalidade, mas perto). E depois, ao apaixonar-se pela rapariga que nada tem a ver com o seu mundo, o segredo é revelado, e o homem controlador nos seus negócios e vida social, é ainda mais controlador na intimidade.

Fifty shades of grey

Não vamos aqui diagnosticar se este livro é ou não boa literatura, porque isso dependerá sempre na nossa própria experiência enquanto leitores, mas sim olharemos para os factos, sendo que o mais importante é o enorme sucesso do livro. Agora, colocado no cinema, o que se perdeu? A resposta é… bastante.

A primeira grande diferença na adaptação, e já esperada, é que o filme não é contado pela perspectiva de Ana, a personagem principal, e com esta simples alteração o filme dá mais foco a Grey, mas perde-se a ligação com Ana, o que no seu todo, acaba por fazer diferença, pois nunca nos identificamos tão bem com a personagem no filme. Com esta alteração vem também o facto de aqui não conhecermos o interior da personagem, os seus receios e a forma como se expressa em certos momentos, principalmente nos mais íntimos em que Ana quase se transforma (quem tiver lido os livros perceberá o que estamos a falar).

Fifty shades of grey

Um dos aspetos mais interessantes do filme é que tenta retirar de Ana alguma da imagem de pessoa fraca e que nem consegue tratar de si própria que pode existir durante a leitura. Um dos factos mais óbvios está na quase inexistente imagem dos problemas alimentares de Ana, um dos aspetos mais em foco no livro e que no filme é tratado de forma muito suave. A este junta-se o facto de no filme sabermos muito pouco sobre a vida profissional de Ana, e que terá uma maior importância nos próximos filmes.

Box Office

Uma das personagens que perde com esta adaptação é José, mas aqui percebemos e até acreditamos que o filme faz um bom trabalho em retirar alguma da atmosfera de triângulo amoroso que apenas iria tornar o romance mais complexo sem grande necessidade, porque, retirando alguns momentos chaves e nos quais aparece no filme, José não tem peso suficiente para ser mais importante, e por isso a adaptação faz um bom trabalho neste capítulo.

Todavia, a personagem mais diferente será, provavelmente, o próprio Grey, que no filme é muito menos possessivo. No livro temos um homem totalmente controlador, ao ponto de usar GPS para saber onde Ana está. No filme, apesar de essa característica estar presente, está suavizada, o que é compreensível, mas que retira detalhe à personagem.

Box Office

No entanto, é nos momentos mais hardcore que o livro se destaca e o filme se perde. Desde a conversa em que Ana e Grey fazem uma “negociação” sobre alguns aspetos mais íntimos, passando por cenas que visualmente poderiam chocar o público, o filme é muito mais suave, quer seja nas várias cenas de sexo, passando pela inexistente cena mais forte do livro (tampão…), a cena de sexo na propriedade dos pais (em que Grey se revela totalmente), ou ainda o momento em que Grey rouba a roupa interior de Ana antes da visita a casa dos país (que neste caso é suavemente mencionada no filme sem ter o impacto e a tensão do livro).

Fifty shades of grey

Então, afinal o que se perdeu na adaptação? Se olhássemos para todas as alterações, poderíamos dizer que são poucas. O problema é que as poucas alterações são o coração do livro, e com a adaptação o filme perde a identidade que criou o fenómeno literário, criando um filme que poderá cativar algumas pessoas, mas que não agradará à grande maioria dos fãs do livro. A ideia final é que o filme consegue entreter, mas não foi criado com inteligência. É verdade que a questão de tornar o filme mais soft dá a possibilidade de pessoas mais jovens conseguirem ver o filme no cinema, mas com isso não era necessário perder a identidade do enredo nem a relação entre personagens (que no filme não têm grande química), e é por isso que apesar de ter sido um fenómeno de bilheteira devido ao hype que se gerou, nunca será um um fenómeno de popularidade como o livro é.

LP

Para lerem a crítica ao livro no blog Ler y Criticar, cliquem aqui.

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