Collaborations Work | Franz Ferdinand + Sparks

 

Os Frank Ferdinand e os Sparks, estão de volta com um surpreendente disco em conjunto.

 

Franz Ferdinand ft Sparks

 

Rating: 9,5/10

Os Franz Ferdinand e os Sparks, os irmãos Ron e Russel Mael, estão de volta, em 2015, não com um disco novo cada um, mas com um surpreendente disco conjunto. Trata-se de “FFS”, Franz Ferdinand + Sparks, editado pela Domino Records, assim chamado por reunir estes dois importantes projetos musicais, com histórias e estéticas tão diferentes. Se um disco novo dos Sparks suscita sempre alguma curiosidade e pode ser, na maior parte das vezes, considerado um acontecimento cultural importante, o facto deste seu disco novo ter sido feito a meias com os Franz Ferdinand, ainda aumenta mais as expetativas.

E estas não saem defraudadas, pois o disco está repleto de canções brilhantes – aliás, todas -, merecendo, no entanto, especial destaque temas como “Collaborations Don’t Work”, talvez o melhor momento do álbum,“Little Guy From the Suburbs”, “Dictator’s Son”, “Sõ Desu Ne”, “Police Encounters” ou “Johnny Delusional” e “Call Girl”, os dois singles. Uma palavra ainda para o tema “Save Me From Myself”, que tal como uma parte de “Collaborations Don’t Work”, faz uma interessante incursão pela ópera, na linha do que os Sparks já tinham feito, em 2012, aquando da sua homenagem musical ao realizador sueco Ingmar Bergman.

Para além de um humor desconcertante, a roçar o nonsense, e um universo de referências, que vão de Mozart a Andy Warhol, passando por Jean Paul Sartre, Gary Cooper ou Frank Lloyd Wright, o disco impõe-se pelas letras inteligentes, os arranjos sofisticados e as interpretações vocais inesquecíveis, principalmente as de Russel Mael, que fazem jus à sua reputação como um dos melhores vocalistas pop-rock de sempre.

Resumindo, um disco de canções de extrema qualidade e que são bons exemplos da criatividade pop e da enorme latitude estética desta, ao cruzarem influências tão diversas como a música de dança, o jazz, a ópera, a música clássica ou o hard rock. “FFS” é sem dúvida um dos grandes discos dos últimos anos. Caso para dizer, ao contrário do que é dito na letra de “Collaborations Don’t Work”, que as colaborações funcionam e, neste caso, extremamente bem, pois o resultado é um disco fascinante e que ficará certamente na história, o que, aliás, já vem sendo hábito na carreira de mais de quarenta anos dos Sparks. A ouvir e reouvir até à exaustão.

 

SPARKS

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Sparks

 

Os Sparks surgiram em 1971, sob o nome de Halfnelson, com o apoio de Todd Rundgren que os levou para a Bearsville, a editora do seu primeiro disco. Depois do relativo fracasso dos seus álbum estreia e segundo álbum, “A Woofer in Tweeter’s Clothing”, em 1972, os irmãos Mael mudam-se para a Grã Bretanha, em 1973, onde recrutam novos músicos e gravam o excecional “Kymono My House”, produzido por Muff Winwood, uma verdadeira pedrada no charco no panorama musical de então.

O single “This Town Ain’t Big Enough For Both Of Us”, um dos melhores singles de todos os tempos, atinge o 2º lugar do top de singles britânico, não obstante a sua estética algo desconcertante e inusitada, cruzando o glam rock com a voz de castrato de opereta de Russel Mael. A partir daí, nada mais para os irmãos Mael, e “Propaganda”, produzido também por Winwood, em 1974, tal como “Indiscreet”, em 1975, produzido por Tony Visconti, o produtor dos T. Rex e de David Bowie, mantêm o elevado padrão de qualidade de “Kymono My House”. O mesmo já não acontece com os álbuns seguintes, “Big Beat”, em 1976, e “Introducing Sparks”, em 1977, discos em que os Mael dispensaram a banda que os acompanhava no Reino Unido até então, para começarem a gravar sozinhos, com apenas músicos de estúdio convidados.

Sparks 1974 This Town Ain't Big Enough For Both Of Us
Sparks 1974 This Town Ain’t Big Enough For Both Of Us



Quando tudo parecia indicar que já não viriam mais surpresas dos Sparks, estes efetuam uma reviravolta de 180º na sua carreira, ao editar o espetacular “The Number One In Heaven”, com produção de Giorgio Moroder, uma extremamente bem conseguida incursão pela pop eletrónica, então nos seus primórdios, que os conduz de novo aos tops – “The Number One Song in Heaven” e “Beat The Clock” são Top 20, no Reino Unido. Embora repita a fórmula e a produção de Giorgio Moroder, ou talvez por isso, o disco seguinte, “Terminal Jive”, não consegue manter entusiasmo de “The Number One In Heaven”, apesar do single “When I’m With You”, ter tido um relativo sucesso na Europa continental. Os discos seguintes, “Whomp That Sucker”, em 1981, “Angst in My Pants”, em 1982, “In Outer Space”, em 1983, “Pulling Rabbits Out of a Hat”, em 1984, “Music That You Can Dance To”, em 1985, e “Interior Design”, em 1988, pouco ou nada trazem de novo, insistindo na fórmula dançável da pop eletrónica, por vezes, sem grandes resultados.

1979 Sparks - The Number One In Heaven
1979 Sparks – The Number One In Heaven

 

Depois de uma paragem de seis anos, a lufada de ar fresco aconteceu com a edição de “Gratuitous Sax & Senseless Violins”, o décimo sexto álbum do grupo, editado em Novembro de 1994. Era o regresso às grandes canções e ao humor de primeira qualidade, com temas como “When Do I Get to Sing “My Way”, “Now That I Own the BBC”, “(When I Kiss You) I Hear Charlie Parker Playing” ou “The Ghost of Liberace”.

Depois de“Plagiarism”, em 1997, um disco em que os Sparks se plagiam a si próprios, fazendo novas versões de velhas canções da banda, algumas delas com convidados, como os Faith No More, Jimmy Somerville ou os Erasure, editam “Balls”, no primeiro ano do século XXI, mas voltam a repetir a fórmula já algo gasta da pop eletrónica pelo que, não obstante alguns bons momentos, não conseguem igualar as obras-primas do passado.

A situação muda, no entanto, radicalmente em 2001, com a edição de “Lil’ Beethoven”, um dos melhores álbuns de sempre do duo, e uma nova reviravolta na sua carreira. O álbum, gravado com músicos dos Faith No More, é inspirado em música clássica, mais exatamente em Beethoven, e consegue uma ambiência extremamente inspirada e original, em grande parte devido ao contraste da seriedade da música com as letras, extremamente irónicas e inteligentes.

A seguir, o álbum “Hello Young Lovers”, de 2006, volta a não corresponder às expectativas, no sentido em que não atinge a genialidade de “Lil’ Beethoven”, apesar de ser um bom disco e de “Perfume”, o seu primeiro single, ser uma excelente canção. Em 2008, “Exotic Creatures of the Deep”, é o vigésimo e último álbum convencional da carreira dos Sparks, até ao momento, já que os três álbuns seguintes, “The Seduction of Ingmar Bergman”, de 2009, uma ópera pop em homenagem a Ingmar Bergman, patrocinada pela Sveriges Radio, a estação pública de rádio da Suécia, “Two Hands, One Mouth: Live in Europe”, de 2013, o seu primeiro e único disco ao vivo, e “FFS”, de 2015, de parceria com os Franz Ferdinand, não são álbuns de estúdio dos Sparks, no sentido tradicional.

1994  Sparks - Gratuitous Sax & Senseless Violins
1994 Sparks – Gratuitous Sax & Senseless Violins

 

 

FRANZ FERDINAND

 Franz Ferdinand
Franz Ferdinand

 

Os Franz Ferdinand formaram-se em Glasgow, em 2002, sob a liderança de Alex Kapranos, músico do projeto musical, de fusão rock e jazz, Karelia. Depois da estreia com um álbum homónimo, de enorme impacto, em 2004, que incluía temas como “Take Me Out”, “The Dark Of The Matinée” e “Jacqueline”, os Franz Ferdinand lançaram mais três álbuns, “You Could Have It So Much Better”, em 2005, “Tonight”, em 2009, e “Right Thoughts, Right Words, Right Action”, em 2013, para além de alguns discos de remixes, ao vivo e de covers, mas nenhum deles repetiu a qualidade e o sucesso do primeiro disco, “Franz Ferdinand”.

Em 2015, o álbum de parceria com os Sparks, é o regresso dos Franz Ferdinand às grandes canções, apesar de se notar que a influência dos irmãos Mael é dominante, quer nas letras quer nas melodias e arranjos.

Franz ferdinand 2004 Take me out
Franz Ferdinand 2004 – Take Me Out

 

 

 

João Peste Guerreiro

 

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