Monstra’16 | Memórias de Marnie, em análise

Memórias de Marnie, nomeado ao Óscar da Academia de Melhor Filme de Animação e vencedor do Grande Prémio da MONSTRA, é um filme imperdível. 

FICHA TÉCNICA

Memórias de Marnie

Título Original: Omoide no Mânî | When Marnie was There
Realizador:  Hiromasa Yonebayashi
Elenco (vozes): Sara Takatsuki, Kasumi Arimura, Nanako Matsushima, Susumu Terajima, Toshie Negishi
Género: Drama
Outsider Films | 2015 | 103 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

 

Finalmente chega a Portugal o derradeiro filme do estúdio responsável por O Meu Vizinho TotoroA Viagem de Chihiro, As Asas do VentoO Conto da Princesa Kaguya, entre outros tantos projetos que foram verdadeiros gigantes no que diz respeito ao cinema de animação proveniente da cultura oriental. Sabíamos que com Memórias de Marnie não seria excepção, mas nunca imaginávamos que o projeto realizado por Hiromasa Yonebayashi (O Mundo Secreto de Arrietty) fosse um maravilhoso hino à importância desse pouco e desse tudo que são as memórias.

Memórias de Marnie

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Baseado no livro publicado em 1967 pela romancista britânica Joan G. Robinson, Memórias de Marnie conta a história de uma jovem solitária de 12 anos, Anna (Sara Takatsuki), que devido a problemas respiratórias é enviada pelos seus tutores para a pequena cidade de Kushiro, situada à beira-mar numa província do Japão. Lá, e para recuperar da sua débil saúde, conhece uma misteriosa rapariga com aproximadamente a mesma idade de nome Marnie (Kasumi Arimura). À primeira vista, esta é tudo aquilo que a quase ‘maria-rapaz’ Anna nunca foi: energética, confiante e expressiva – ambas apenas partilham de semelhantes olhos azuis brilhantes, que aparentam escondem algo. Além disso, Marnie vive numa espaçosa e requintada casa aristocrática, onde, como ela afirma, pode usufruir de todos os vestidos que queira, porém não é feliz. Na verdade, Marnie não tem amigos e é permanentemente neglicenciada pelos seus próprios pais que a deixam sozinha com um grupo de desprezíveis amas. Ora, estas duas almas gémeas, demasiado frágeis em tão tenra idade, conhecem-se e prometem nunca mais se separar.

O problema é que o palacete onde Marnie vive pode muito bem estar assombrado, como revelam os outros habitantes da região. “Não sou um sonho” diz Marnie a certo ponto, no sentido de convencer a protagonista e o espetador que não se trata de um mero produto da mente. Mas será que é mesmo? Como o estúdio bem nos habituou, as linhas entre a realidade e a fantasia esbatem-se ao longo do enredo e não seria por menos. Só assim conseguimos entrar no mundo da protagonista recheado de traumas e momentos do passado mal resolvidos. Tudo isso verifica-se porque, na sequência de uma descoberta, Anna é curiosa e atenta aos passos dados pelos adultos que a circundam, espelho também daquilo que as crianças são cada vez mais hoje em dia. Na jornada de auto-conhecimento e de instante em instante somos confrontados com o retrato daquela miúda que não tardará em ser mulher.

Memórias de Marnie

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Destaque claro para as maravilhosas e tão coloridas imagens em 2D, um mimo face à tão dominante indústria de Hollywood e que parecem saídas de um quadro naturalista do século XIX, responsáveis por transmitir a dor, a alegria, a melancolia e todo esse conjunto diversificado de emoções que estão sempre no devir de alguma coisa. Seja na amizade que evolui (Anna e Marnie cada vez que se encontram prometem partilhar um segredo e responder a três perguntas) ou nos espaços que visitam (presença constante da natureza), Memórias de Marnie faz-nos preocupar com o temeroso corte com a infância que, de uma maneira ou de outra, nos afetou a todos.

É admirável também algumas das referências cinematográficas, desde logo ao estilo de Alfred Hitchcock – com notas ao seu filme Rebecca (1940) -, ou até uma outra curta cena que relembra o igualmente emocionante Titanic (1997), de James Cameron. Ao longo do tempo, todas as dúvidas acerca da existência ou inexistência de Marnie acrescentem, mas até ao terceiro ato nada fica por explicar. Perceber quem é Marnie transporta-nos para um tempo que não regressa, para dias em que demos os primeiros passos com ajuda de alguém, só para que depois consigamos seguir em frente, sem medos. Todos nós afinal de contas temos uma Anna no nosso íntimo, não usufruímos totalmente deste presente e das pessoas predispostas a nos amar, porque estaremos seriamente preocupados com o futuro, com o receio em perdê-las.

Memórias de Marnie

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Nota-se claramente como o estúdio Ghibli pretende mesmo que este seja o seu último filme. Anna, por todo o lado que caminha, leva sempre o seu livro de sketchs, talvez só numa chamada de atenção ao facto de nunca perdemos a inspiração para contarmos história criativas com personagens mais ou menos reais.

Sobre o resto o melhor mesmo são as memórias que vão e as memórias que ficam, os inúmeros filmes que vão e os filmes que ficam, tudo culpa da magia do Estúdio Ghibli. Que seja simplesmente um “até logo” para todas as mentes criativas desta produtora, um até já à magia do cinema.

O PIOR – Não queremos que este seja o último projeto do Estúdio Ghibli.

O MELHOR – As peças de puzzle que vão sendo preenchidas aos poucos, como memórias recônditas no nosso subconsciente; a temática de depressão infantil que os pais deverão prestar mais atenção.

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