Monstros Fantásticos vs Harry Potter: Uma História dos Óscares

Depois de uma inesperada vitória numa noite de surpresas, Monstros Fantásticos tem mais Óscares que todos os filmes da saga Harry Potter juntos.

Entre a maior bronca que já se viu em cerimónias dos Óscares, a gloriosa consagração de uma narrativa LGBT focada em comunidades afro-americanas como o Melhor Filme do ano, a crítica política subjacente a muitos dos discursos e até a Dantesca ideia que teremos de nos passar a referir a Esquadrão Suicida como um filme vencedor de um Óscar, algumas histórias da 89ª cerimónia dos Prémios da Academia perderam-se entre a confusão. Uma delas está relacionada com a quarta vitória de Colleen Atwood, uma figurinista que se pode justamente chamar a Meryl Streep da sua área. É que, com esse triunfo, Monstros Fantásticos ganhou um Óscar, algo que os oito filmes da saga Harry Potter nunca conseguiram fazer.

 

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Com 4 vitórias, Colleen Atwood já tem mais Óscares que a própria Meryl Streep

 

Mas afinal como é que isto aconteceu? Certamente não é um reflexo das diferenças qualitativas dos dois projetos ou estaríamos mais próximos de uma conta ao estilo de 20 Óscares para Harry Potter contra 1 para Monstros Fantásticos. No final, e como é costume acontecer em casos destes, a resposta é mais complicada que uma simples e singular causa. Para começar, há que se esclarecer uma coisa – os filmes do universo Harry Potter, incluindo o recente spin-off, estão bem longe de serem filmes de prestígio. É certo que os seus elencos, cheios de alguns dos melhores atores britânicos de sempre, e a sua origem literária os elevaram acima dos usuais blockbusters na consideração da Academia, mas isso não implica que fossem favoritos da Awards Season.

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Na verdade, os filmes da saga Harry Potter tiveram apenas dois anos em que os seus esforços para ganhar Óscares poderiam racionalmente ter sido bem sucedidos. Referimo-nos ao seu primeiro e último ano, respetivamente 2001 e 2011. No primeiro caso, Harry Potter e a Pedra Filosofal foi indicado para Melhor Design de Produção, Guarda-Roupa e Banda-Sonora Original. Infelizmente, nesse ano, havia dois filmes, ambos nomeados a Melhor Filme, que eram claros favoritos nestas categorias, pelo que não foi nenhuma surpresa quando O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel e Moulin Rouge! arrancaram as estatuetas das mãos da equipa de Harry Potter. Em 2011, quando Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2 foi nomeado para Melhor Design de Produção, Efeitos Visuais e Caracterização, todas essas categorias já tinham claros favoritos mais prestigiados. Os filmes em questão foram A Invenção de Hugo e A Dama de Ferro, que, depois desses três prémios, conquistaram ainda mais 5 galardões comulativamente.

 

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Stuart Craig já tem 3 Óscares, mas nenhum deles foi ganho por um filme no universo Harry Potter

 

Para além do mais, é difícil para qualquer franchise, que está a ser considerado exclusivamente para categorias “técnicas”, triunfar quando os seus filmes nomeados são alvo da crítica recorrente de que se está a somente a celebrar o trabalho já feito em filmes anteriores. O compositor John Williams recebeu mais uma nomeação em 2004 por Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. O cenógrafo Stuart Craig arrecadou umas surpreendentes duas nomeações adicionais às de 2001 e 2011, com O Cálice de Fogo em 2005 e Os Talismãs da Morte: Parte 1 em 2010. Pela sua parte, a equipa de efeitos visuais, recebeu, para além da nomeação de 2011, indicações pelo terceiro filme em 2004 e pelo sétimo em 2010. Tirando isso, apenas Harry Potter e o Príncipe Misterioso se afirmou noutra categoria, a de Melhor Fotografia, mas, no seu ano, todos sabiam que Avatar ia conquistar essa estatueta.

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Basicamente, a saga Harry Potter foi sempre vítima de um diabólico azar no que dizia respeito à sua competição e aos preconceitos da Academia. Monstros Fantásticos, pelo contrário, foi beneficiado por um maravilhoso acaso. Este ano, o filme que todos os experts apontavam como o favorito para o Óscar de Melhor Guarda-Roupa era La La Land. Só que, como qualquer pessoa com dois dedos de testa que preste atenção ao modo como a Academia premeia figurinistas vos podia dizer, o musical de Damien Chazelle é uma narrativa contemporânea com um vestuário que, apesar de híper-colorido e dramaturgicamente sagaz, não é nada vistoso ou detalhado no sentido que a Academia normalmente prefere. Aliás, há mais de 20 anos que nenhum filme contemporâneo ganha este específico galardão.

 

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Um esboço de Colleen Atwood e o figurino final vestido por Eddie Redmayne

 

Excluindo La La Land, restavam à Academia quatro opções. Duas delas, Jackie e Florence – Uma Diva Fora de Tom são filmes pelos quais os Óscares claramente não morreram de amores e as suas figurinistas, Madeline Fontaine e Consolata Boyle, estão longe de ser favoritas da Academia. Aliados, com os figurinos desenhados por Joanna Johnston foi um filme ainda mais ignorado pela Academia e, apesar de glamourosos, os seus figurinos dos anos 40 estão longe de serem tão faustosos como os trabalhos normalmente galardoados com este prémio. E assim resta Colleen Atwood e o seu guarda-roupa para Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los, um trabalho vistoso com elementos de época e fantasia assinado pela figurinista preferida da Academia. Não é preciso ter-se o intelecto de um cientista espacial para se deduzir o resultado final desta conflagração de fatores, por muito injusta que seja.

 

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Qual é a tua opinião em relação a este insólito resultado? Pensas que é justo que Monstros Fantásticos tenha mais Óscares que toda a saga Harry Potter?

5 thoughts on “Monstros Fantásticos vs Harry Potter: Uma História dos Óscares

  • Quer escrever sobre Harry Potter mas não sabe nem o nome dos filmes.

  • Pedimos desculpa se houve algum erro relativo aos títulos dos filmes mencionados neste artigo. No entanto, não estamos a encontrar o engano em questão. Se não te importares, podias esclarecer qual ou quais sãos os títulos equivocados?

  • A pessoa que escreveu com certeza tá acostumada com os nomes originais em inglês, e pra escrever esse texto, traduziu ao pé da letra, o que é um pouco diferente da tradução oficial, tipo o nome do filme no Brasil ficou Animais fantásticos e onde habitam, mas deu pra entender tudo.

  • Débora Gláucia, se tua ignorância – e não digo no tom pejorativo, como de deboche, mas de realidade – não te faz ver que não é só o Brasil que fala português, e que nenhum dos países que falam português assemelham os nomes de qualquer filme que é lançado, eu realmente sinto pena de ti.
    Para constar, com o Brasil, temos ao todo nove países que falam português: Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Portugal, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Macau.
    Tu achas mesmo que o nome da franquia Harry Potter ou de seus spin-offs seriam iguais?

  • Débora Glaucia, também sou brasileira.Os títulos em Portugal são diferentes dos brasileiros.

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