A fantasia colorida dos figurinos de La La Land

Os figurinos de La La Land são uma parte essencial da sua atmosfera fantasiosa e poderão valer à figurinista Mary Zophres o seu primeiro Óscar.

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Entre as suas 14 nomeações para os Óscares (um recorde que partilha com All About Eve e Titanic), La La Land arrecadou uma indicação para o prémio de Melhores Figurinos. Apesar de ser algo que todos previram, este reconhecimento é fora do comum pois, apesar do seu status de frontrunner da Awards Season, o musical de Damien Chazelle é uma narrativa contemporânea e é raríssimo vermos a Academia celebrar figurinos modernos. Isso não implica nenhuma carência qualitativa e já está na altura dos figurinistas que votam nestes prémios se livrarem do preconceito que apenas roupas elaboradas de filmes de época merecem elogios.

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É fácil subestimar o esforço criativo e a sofisticação de discursos estéticos quando vemos roupas que pouco diferem daquilo que vestimos todos os dias, mas é certo que a figurinista Mary Zophres criou em La La Land um dos melhores guarda-roupas cinematográficos do ano. Parte da sua genialidade, no entanto, não é tão percetível quando pensamos nas peças individuais. Para sermos justos, há que pensar nestes figurinos em harmonia com os cenários concebidos por David Wasco e a fotografia super colorida de Linus Sandgren, como parte integrante de um filme que homenageia os estilos dos musicais de Hollywood e celebra o seu excessivo artifício. Note-se, por exemplo, como durante o início de “Someone in the Crowd”, os vestidos coloridos das colegas de casa de Mia, a nossa protagonista, são refletidas na decoração do seu apartamento. Ou melhor ainda, atente-se o modo como as roupas de todas as figuras, mesmo aqueles que apenas surgem no fundo de cenas, apresentam uma certa intemporalidade retro, com alguns divertidos exemplos.

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Uma das grandes referências que guiou o trabalho de Zophres neste desafio estilístico foi o legado musical de Jacques Demy, cujos filmes fizeram parte de uma montagem que Chazelle apresentou aos seus colaboradores no início da pré-produção. Mesmo assim, como é evidente, existiram inúmeros desenvolvimentos do guarda-roupa que apenas ocorreram durante o período de ensaios, como o uso de sapatos de dança bicolor para Ryan Gosling no papel de Sebastian, ou a necessidade de fabricar de raiz a maioria dos figurinos de Emma Stone como modo de melhor controlar a paleta cromática do filme. De certo modo, este processo criativo foi tão estendido que, a meio das filmagens, foi feita a decisão crucial de vestir o primeiro número de La La Land, “Another Day of Sun”, em cores híper saturadas, ao invés das cinzas e castanhos que tinham sido inicialmente planeados.

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Os figurinos desse espetacular momento de abertura foram todos comprados em massa, mas o mesmo não aconteceu com os guarda-roupas dos protagonistas. Já referimos que os vestidos de Stone foram quase todos originais, mas o mesmo ocorreu com a indumentária de Ryan Gosling. Usando o pianista Bill Evans, o ator e músico Hoagy Carmichael, James Dean e os protagonistas masculinos dos musicais de Jacques Demy, Mary Zophres concebeu para Gosling, um guarda-roupa de linhas clássicas e quase antiquadas, excisando o uso de calças de ganga, t-shirts ou outros estilos contemporâneos demasiado casuais. Isso reflete a mentalidade da personagem obcecada com os anos áureos do jazz clássico, mas também permitiu a Zophres ter aqui um bastião de elegância masculina reminiscente de outros tempos. Apenas quando ele começa a colaborar com um antigo colega, interpretado por John Legend, e deixa momentaneamente o jazz clássico é que os seus figurinos sofrem marcadas alterações, adotando uma estética ligeiramente mais moderna, e substituindo o azul dominante pelo preto e vermelho.

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Outra preocupação da figurinista foi a sua frugal existência dos protagonistas enquanto artistas em início de carreira e à procura da sua primeira grande oportunidade. Ou seja, houve relativos limites impostos às roupas usadas pelas personagens. Sebastian tem apenas um fato, dois blazers e dois pares de calças, enquanto Mia veste peças deliberadamente escolhidas para parecerem simples e de baixo custo. Por exemplo, a camisa branca que Mia veste como empregada de balcão custa cinco euros na H&M e a sua banalidade apenas reforça como, apesar de ser a nossa protagonista, ela é apenas uma atriz ambiciosa entre tantas outras que vivem na mesma cidade. Uma das imagens mais fortes de La La Land é mesmo um corredor cheio de atrizes à espera de irem fazer a sua audição, todas vestidas com variações da mesma camisa branca.

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De um modo geral, o guarda-roupa de Mia reflete a narrativa. Começamos com a evolução da atração entre Mia e Sebastian e o mundo é uma explosão de cores saturadas. Isto atinge o seu píncaro durante a dança pelas estrelas que marca o início do seu relacionamento amoroso mas, a partir daí, as cores vão-se atenuando, dando lugar a pastéis e, eventualmente, preto-e-branco. Da fantasia inocente, o filme move-se na direção de uma maturidade que é ilustrada também pelo corte dos seus figurinos. De saias progressivamente rodadas e volumosas, Mia passa a escolher estilos mais sofisticados, culminando com um vestido preto de Jason Wu, que recordou a Zophres uma peça envergada por Catherine Deneuve.

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Em termos de corte e cor, existem dois pontos fulcrais a destacar no guarda-roupa do filme. Primeiro temos o monólogo fracassado de Mia e a sessão fotográfica de Sebastian, em que os figurinos do casal os marcam como pessoas fora da sua área de conforto e em violação da estética do resto do projeto (é uma das raras ocasiões em que vemos o uso de padrões). Depois temos, como é evidente, o glorioso epílogo estilizado que nos oferece uma versão idealizada, muito artificial e sumária do romance das duas personagens e seu desenvolvimento alternativo. Tal como os cenários, os figurinos tornam-se mais vistosos, mais perfeitos, ao mesmo tempo que referenciam clássicos do género e cenas anteriores da narrativa. O vestido verde de Mia, por exemplo, torna-se branco e mais comprido para recriar a dança entre as estrelas, só que desta vez com todo o glamour de Ginger Rogers.

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Para Zophres, os figurinos de La la Land não são um mero elemento decorativo, mas sim um instrumento visual que complementa o espetáculo dos números musicais, ajudando a criar a peculiar atmosfera escapista do filme. Ao todo, a figurinista concebeu centenas de conjuntos e foram criados cerca de 70 figurinos de raiz, sendo que a sua maioria foram para Emma Stone que muda de roupa 47 vezes em todo o filme. Como nota final, deixamos a curiosidade que, se La La Land ganhar o Óscar nesta categoria, será o primeiro filme com uma narrativa contemporânea a fazê-lo desde 1995, quando Lizzy Gardiner e Tim Chappel foram reconhecidos pelo seu inspirado trabalho em Priscilla, Rainha do Deserto.

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