Os figurinos icónicos da Mulher Maravilha

A versão cinematográfica das aventuras a solo da Mulher Maravilha é um dos maiores sucessos de 2017 e os seus figurinos, desenhados pela figurinista galardoada com um Óscar Lindy Hemming, são alguns dos melhores alguma vez concebidos para um filme de super-heróis.

 

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Gal Gadot como a Mulher Maravilha em BATMAN V SUPER-HOMEM (2016) de Zack Snyder

 

A Mulher Maravilha, conhecida também como Wonder Woman no original anglófono e Diana Prince quando não está no seu uniforme, é uma das figuras mais famosas e celebradas no panteão dos grandes super-heróis da banda-desenhada, tendo sido concebida durante o período conhecido como a Idade do Ouro para fãs desta arte. Apesar disso, a chegada de um filme por si protagonizado foi um dos mais longos processos do género no cinema de super-heróis, sendo que nem o estrondoso sucesso da série televisiva com Lynda Carter nos anos 70 conseguiu catapultar esta heroína para os cinemas. Sexismo institucionalizado e cultural representam as principais razões para este atraso, mas, em 2017, esse filme há tanto tempo desejado finalmente chegou pela mão da realizadora Patty Jenkins. Melhor ainda, o filme é um estrondoso sucesso crítico e popular, uma combinação até agora inalcançada pelos outros filmes do DC Expanded Universe.

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Tendo em consideração toda a potência iconográfica da Mulher-Maravilha, o seu figurino acaba por ser uma parte tão importante da sua reinvenção para o cinema moderno como, por exemplo, a escolha da atriz Gal Gadot. Tentando encontrar um meio termo entre a estética escura e pseudorrealista dos filmes da DC e as imagens clássicas da personagem nos livros de banda-desenhada, o figurinista Michael Wilkinson concebeu uma armadura moldada ao corpo de Gal Gadot onde os elementos mais marcantes da imagem da heroína, como as suas proteções de pulso, tiara e W dourado no busto, se encontram presentes. No entanto, Wilkinson foi somente o figurinista de Batman v Super-Homem, enquanto Lindy Hemming, uma veterana dos filmes de Christopher Nolan, James Bond, Harry Potter e Lara Croft, ficou encarregue de criar o guarda-roupa para o filme de Patty Jenkins.

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Mesmo antes de se reunir com a realizadora, Hemming trabalhou ao lado de Zack Snyder e Wilkinson para orientar as linhas estilísticas da nova Mulher Maravilha. Mesmo assim, quando chegou a altura de trazer o novo uniforme para o filme centrado na Mulher Maravilha, Hemming fez algumas alterações. Em termos mais criativos ela saturou as cores e redesenhou as botas, apesar de manter o irracional salto alto a pedido de Patty Jenkins que vê na protagonista do seu filme um ideal feminino em par com os corpos exageradamente musculados e hipermasculinos tipificados pela armadura de Batman ou pelo corpo do Super-Homem. Em termos mais práticos, Hemming refez o figurino de modo a permitir maior mobilidade à atriz e proteção contra as temperaturas gélidas enfrentadas pela equipa durante as filmagens fora do estúdio.

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Além do uniforme principal da Mulher Maravilha, um dos maiores desafios criativos de Lindy Hemming foi a criação dos figurinos para as Amazonas da ilha de Themyscira. Inspirando-se nas armaduras da Antiguidade Clássica assim como nas tendências contemporâneas em vestuário desportivo, Hemming tentou construir vestuário que desse a ideia de uma sociedade de guerreiras em constante treino mesmo no tempo de paz, glorificando o poder atlético dos corpos em cena sem os sexualizar indevidamente. No que dizia respeito à individualização da indumentária de diferentes personagens, a figurinista concebeu esquemas cromáticos ligeiramente diferentes para cada pessoa, para além de outros detalhes estilísticos como, por exemplo, o modo como a destemida Antíope (Robin Wright) veste peles curtidas de vários tipos de animais como prova da sua valentia e proezas violentas dentro e fora do campo de batalha, enquanto a rainha Hipólita (Connie Nielsen) representa uma versão mais imperiosa deste estilo base.

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Diana, por seu lado, veste um figurino mais simples e desenhado para ser um lógico antecessor da armadura de Mulher Maravilha, sendo que era essencial para os cineastas mostrarem visualmente a evolução da sua protagonista de uma princesa amazona a sonhar com grandes feitos heroicos a uma efetiva protetora da humanidade. Quando ela decide sair da ilha após tomar conhecimento dos horrores da Primeira Guerra, Diana veste a armadura icónica, mas por baixo de um espesso manto de lã e angorá e só nas trincheiras revela toda a sua glória de guerreira superpoderosa. Entretanto, o filme introduz a personagem de Steve Trevor (Chris Pine) e com ele as modas europeias do tempo de guerra em 1918. Aliás, numa das mais divertidas sequências do filme, Spencer e a sua secretária (Lucy Davis) levam Diana aos armazéns Selfridges com o intuito de disfarçarem a amazona cuja aparência não passa nada despercebida na Londres de há quase cem anos atrás.

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Esta cena foi uma das grandes oportunidades para Hemming se deixar cair nas indulgências dos estilos da época, exagerando detalhes decorativos de modo a tornar absurda a ideia da Mulher Maravilha em qualquer uma das propostas mais estereotipicamente femininas da altura. Há ainda que congratular o filme pelo modo como, ao invés de falar sobre corpetes como objetos de tortura ou outros imensos clichés do cinema de época modernos (normalmente escrito por homens), Diana imediatamente assume que esta é a versão de armadura feminina para o mundo exterior a Themyscira. No final, ela acaba por escolher um fato de lã com traços militares que, em 1918, seria um conjunto quase saído das capas da Vogue não fosse a sua simplicidade utilitária. Ao contrário do que muitos críticos sem conhecimento nenhum de História da Moda têm vindo a dizer, isto não é um fato de Sufragista, nem algo particularmente estranho para uma época em que a moda feminina começou a adotar estilos cada vez mais reminiscentes da sua contraparte masculina.

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Aliás, todo o trabalho de época no filme é absolutamente primoroso, desde as roupas modestas de Etta, a secretária de Spencer, até aos vários uniformes militares usados pela maior parte do elenco masculino. Em geral, os figurinos são dominados pela veracidade histórica com toques de subtil estilização apropriada a uma história de super-heróis. Por exemplo, os indicadores culturais árabes, nativo-americanos e escoceses da equipa que acompanha Diana e Spencer até ao auge da batalha, são particularmente louváveis e não caem no estereótipo cómico. Até os vilões têm direito a pormenores interessantes, inteligentes e memoráveis, como é o caso da máscara facial da terrível Dra. Maru, que poderá bem ser uma divertida referência ao papel mais famoso da atriz Elena Anaya em La piel que habito de Pedro Almodóvar.

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Em termos de figurinos, talvez a cena de Mulher Maravilha que será mais lembrada no futuro será a festa para a elite alemã em que Spencer e Diana se infiltram. Ele aparece vestido com um uniforme que, ao contrário da sua restante indumentária no filme, não está perfeitamente ajustado ao seu corpo – um detalhe genial para a personagem de um agente disfarçado! – enquanto Diana deixa todos de boca aberta num vestido azul elétrico que roubou a uma insuspeita convidada. Com a espada muito mal-escondida nas costas decotadas desta delicada confeção em tecido esvoaçante, Diana parece uma deusa da Antiga Grécia pronta a destruir os seus inimigos mortais. É esse o tipo de iconografia que toda a construção visual do filme exacerba sem denotar qualquer tipo de ironia ou seriedade pós-moderna. Mulher Maravilha é assim um triunfo de sinceridade heroica em todos os sentidos e os seus figurinos são provavelmente alguns dos melhores em filmes de super-heróis modernos.

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Apesar de já ter ganho um Óscar pelo seu trabalho com Mike Leigh, a figurinista Lindy Hemming raramente viu o seu trabalho em blockbusters de Hollywood ser reconhecido com galardões ou celebração popular. Será que o mesmo vai acontecer com Mulher Maravilha?

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