The Handmaid’s Tale, em análise | Primeiras Impressões

The Handmaid’s Tale é a recente aposta da Hulu e apresenta-se com uma das melhores estreias de 2017! Preparem-se, porque esta série vai dar que falar.

Pode conter SPOILERS dos primeiros três episódios

Para quem está a pensar em acompanhar a nova série da Hulu, The Handmaid’s Tale, temos um pequeno aviso a fazer. Esta é uma série que vai deixar muitos espectadores indignados, revoltados, angustiados e até chocados. Até agora, foram disponibilizados três episódios, e todos foram impressionantes.

A série adapta a obra homónima escrita por Margaret Atwood (em português, A História de Uma Serva) e apresenta um mundo distópico, onde as mulheres férteis são forçadas a servir de barrigas de aluguer e conceber os filhos das famílias mais elitistas e estéreis.

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No mundo de The Handmaid’s Tale, os Estados Unidos da América deram lugar à República de Gilead. E o governo é agora controlado por um regime extremista, teocrático, mas que se assemelha mais a uma seita religiosa, onde os cidadãos trocam pequenas frases em jeito de ritual como ““Blessed be the fruit”, “Under his eye”, entre outras. Esta mudança terá sido provocada por desastres ambientais e por uma profunda queda da taxa de natalidade no país. Para tentar contornar este problema, o novo regime de Gilead rapta as mulheres férteis, procura fazer-lhes uma lavagem cerebral de modo a aceitarem e concordarem com aquela realidade e obriga-as a conceber os filhos de membros da alta sociedade inférteis.

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Offred, interpretada pela brilhante Elisabeth Moss é uma destas mulheres. Depois de matarem o seu marido e de lhe roubarem a filha, a protagonista torna-se na serva do Comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) e da sua esposa, Serena Joy (Yvonne Strahovski). O mundo de The Handmaid’s Tale é apresentado através de Offred. Utilizando uma narração em voz-off e flashbacks, percebemos de que forma a personagem vê e enfrenta está nova e dura realidade. 

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Esta viagem entre presente e passado pode tornar-se bastante assustadora pois ganhamos consciência de como a antiga vida de Offred não era assim tão diferente nem tão distante da nossa vida atual. Especialmente quando ouvimos referências a termos como “Uber” ou “Tinder”. Para além disso, conhecemos também a forma como o país foi mudando, e como a população não teve qualquer controlo sobre a sua própria vida.

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Ao longo de todos os episódios, o espetador é invadido por uma enorme sensação de terror e paranóia. O ambiente é claustrofóbico e, tal como a protagonista, estamos sempre em alerta máximo, desconfiados de tudo e de todos. A música composta por Adam Taylor é um elemento muito importante para criar este ambiente. Por vezes, a sua presença é tão marcante que, sem darmos conta, temos o nosso batimento cardíaco em sintonia com o ritmo das músicas.

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A excelente fotografia de The Handmaid’s Tale é igualmente fundamental para a construção do universo da série. O mundo de Gilead é maioritariamente preenchido por cores claras e suaves que tentam transmitir harmonia e paz. Dão a ilusão de que tudo é um sonho e fazem-no parecer etéreo. Quando na verdade estamos perante um enorme e horrível pesadelo. Em contraste com esta paleta de cores, encontramos o vermelho garrido das vestes das servas e as roupas da polícia banhadas de preto, que revelam o quão paradoxal é este mundo.

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The Handmaid’s Tale é uma das melhores estreias de 2017. E deixará facilmente a sua marca no panorama televisivo. Como já alertámos, não é fácil de ver. A história consegue ser muito perturbadora e tem cenas que são verdadeiramente retorcidas. Porém, pelo facto de explorar determinados temas, torna-a numa série importantíssima, quer para os dias de hoje, quer para o futuro.

Durante o painel de The Handmaid’s Tale, no Tribeca Film Festival, Elisabeth Moss referiu que não considerava a série feminista, mas que a considerava uma série humana, sobre os humanos. E a verdade é que a série explora muita este tema. Mais especificamente a desumanização. Nesta sociedade, as hierarquias estão ainda mais demarcadas. As pessoas que estão nos lugares mais baixos da pirâmide social são tratados como coisas. E as servas são apenas um desses casos. Neste sentido, concordamos com a afirmação de Moss.

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Ainda assim, não conseguimos deixar de ver The Handmaid’s Tale como uma série feminista. Afinal, no centro da narrativa estão mulheres. E muito do que tem sido explorado na série é a falta de liberdade que a mulher tem neste mundo. Em The Handmaid’s Tale, a mulher é um objeto autêntico, sem autonomia, individualidade ou até identidade própria. Veja-se por exemplo os seus nomes. Todos os nomes das servas começam por “Of”. Seja Offred, Ofglen, etc. Isto serve para identificar os homens a quem estas mulheres pertencem: Of-fred (De Fred), Of-glen (De Glen). Elas são propriedade de alguém.

Mais uma vez, está aqui presente a questão da desumanização. Contudo, até ao momento, só testemunhámos esta situação em mulheres. Mas esta falta de liberdade não se verifica apenas nas classes mais baixas, onde se encontram as servas ou as “marthas” (empregadas domésticas). Também as esposas dos Comandantes têm um papel muito restrito e controlado pelo sexo masculino, embora ocupem um lugar superior na hierarquia social. De facto, tudo isto têm um carácter muito humano. Porém, é impossível negar o lado feminista da série quando se colocam as personagens femininas numa encruzilhada destas e acompanhamos a luta de cada uma, à medida que tentam sobreviver neste mundo.

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O mundo The Handmaid’s Tale é verdadeiramente aterrador. E são vários os momentos em que o espectador ficará perplexo, enquanto olha para o ecrã. E acreditem, não é para menos. Uma das cenas mais marcantes da série até agora, verifica-se no momento em que o Comandante, a sua esposa e a serva tentam conceber um bebé. É uma cena profundamente surreal, em vários aspetos. Porém, este surrealismo ganha proporções ainda maiores quando vemos o que acontece quando uma serva está a dar à luz.

Embora esta situação entre o Comandante e a serva seja totalmente atroz, ela torna-se ainda pior quando percebemos como é que a sociedade encara este momento. O conceito de violação nesta sociedade é muito distinto do nosso. Se um homem tiver relações sexuais com uma serva, mesmo que essa seja a vontade dos dois, é considerado violação e dá direito a pena de morte, como vemos num dos episódios. Mas se uma serva for violada pelo comandante, é considerado um momento sagrado. É, sem dúvida, uma perspectiva muito perturbadora. E suspeitamos que estas surpresas não vão ficar por aqui e que a série ainda irá revelar situações mais chocantes e mais perversas. Por isso, estejam preparados.

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Por último, não podemos deixar de elogiar o incrível elenco que compõe The Handmaid’s Tale. Offred é uma protagonista muito forte e só poderia ser interpretada por alguém talentoso como Elisabeth Moss. Não queremos festejar antes do tempo, mas parece que a atriz já está a dizer “olá” ao seu Emmy. A atriz é fenomenal no papel de Offred. Moss consegue transmitir as emoções conturbadas de June/Offred de uma forma subtil mas simultaneamente marcante. É incrível como num simples olhar e com uma expressão facial muito contida, ela é capaz de mostrar tanto ao espectador. É o exemplo perfeito do velho ditado “um olhar vale mais que mil palavras”. E são poucos os atores que têm a capacidade de alcançar este feito. Embora pareça estar completamente formatada pela sociedade, há sempre algo na expressão de Offred que nos mostra o seu lado mais resistente. 

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Mas Moss não é a única atriz de parabéns. De uma maneira geral, todos os atores de The Handmaid’s Tale arrasam nos seus papéis. Mesmo quando não estão muito presentes nos episódios. Veja-se por exemplo a antagonista Tia Lydia. Esta é uma personagem cuja crença no sistema de Gilead é inabalável. E Ann Dowd dá-lhe vida com uma grande mestria. Yvonne Strahovski também não fica atrás, com a sua Serena Joy. A atriz manipula muito bem a sua personagem, nunca revelando a sua verdadeira natureza, mas deixando sempre no ar a suspeita de que Serena esconde algo, e não é quem aparenta ser.

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The Handmaid’s Tale é uma série imperdível. E é uma série obrigatória. Especialmente nos dias de hoje, onde testemunhamos tantas mudanças políticas retrógradas, tanto racismo, tanta xenofobia e homofobia. Onde ainda existem países onde a palavra “liberdade” não tem qualquer significado. A nova série do Hulu não pretende ser uma previsão daquilo que o futuro nos reserva. Mas o timing não podia ser melhor. Trata-se de uma alegoria. E por ser tão assustadora, devemos vê-la com atenção, para que ela nunca se torne realidade.

The Handmaid’s Tale | Trailer

(Originalmente publicado em 3 setembro 2017)

The Handmaid's Tale - Primeiras Impressões
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Name: The Handmaid's Tale

Description: Num futuro distópico, uma mulher é forçada a viver como concubina sob uma ditadura fundamentalista teocrática.

  • Filipa Machado - 95
  • Jorge Lestre - 94
95

CONCLUSÃO

O MELHOR: The Handmaid’s Tale conta com uma história arrebatadora, personagens marcantes e um elenco fortíssimo. De salientar também a fotografia e banda-sonora da série.
O PIOR: Até agora, não existe realmente algo negativo a apontar à série. Apenas o facto de que alguém possa estar a perder uma das melhores séries da atualidade.

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