13º IndieLisboa: Comemorar Abril com ‘Cartas da Guerra’

‘Cartas da Guerra’, de Ivo M. Ferreira, exibido hoje às 18h30, no Grande Auditório da Culturgest é uma  boa escolha do 13º IndieLisboa, para comemorar o 25 de Abril. O filme é adaptação das cartas que António Lobo Antunes escreveu à mulher durante a sua comissão na guerra do ultramar e sobretudo um brilhante ensaio poético sobre a relação entre o cinema e a literatura.

Cartas da Guerra

História de amor e sobrevivência, Cartas da Guerra, esteve na mais importante competição da Berlinale 2016 e foi muito elogiado perla crítica internacional. É um filme que nos orgulha como portugueses, e ao mesmo tempo quer nos liberta já  que é um retrato de memórias da guerra colonial, um bom exemplo da relação da literatura portuguesa com o cinema e a mais eloquente comemoração que o 13º IndieLisboa, podia fazer da Revolução de Abril.

Vê trailer de Cartas da Guerra

Enviado para Angola para servir na guerra colonial no inicio dos anos 70, António (Miguel Nunes), um jovem alferes-médico António vai trocando cartas com a mulher Maria José (Margarida Vila-Nova), que ficou em Portugal. Por isso, Cartas da Guerra é um ensaio poético quase sem diálogos e em voz off, dele para ela e de ela para ele, onde as imagens procuram preencher de uma forma directa o texto narrado. Essas cartas estão carregadas de um misto de dor e ternura ao mesmo tempo que relatam o dia a dia dos soldados no aquartelamento: Falo de uma história que não vivi, trabalhando com material muito sensível, uma história de amor, uma história incrível. Para mim essa guerra foi uma estupidez, espero que as pessoas se identifiquem de alguma maneira neste filme, mas como disse, é a minha própria interpretação dos factos, explicou o realizador Ivo M. Ferreira.

Cartas da Guerra

Uma boa parte do conteúdo das cartas e da troca de correspondência chega ao espectador através da imagem e voz da mulher de Lobo Antunes, sua leitora e destinatária. É a actriz Margarida Vila-Nova, de 32 anos, ainda não nascida na altura, que interpreta esse papel, que dizia: A guerra terminou em 1974 mas a minha geração não sabe nada  ou quase nada do que aconteceu. A geração seguinte quase guardou silêncio sobre essa guerra. Por isso eu, por exemplo, precisava que alguém falasse disso, que alguém contasse o que se passou. Creio que para os jovens esta película pode ser muito interessante, pode ser toda uma lição de história.

Cartas da Guerra

As cartas são mensagens de profundo amor, carregadas de dor, ternura, desejo e saudade por não ver a sua primeira filha nascer, que nem sempre são facilmente reproduzíveis em imagens, aliás como a maioria da obra de António Lobo Antunes. Ao mesmo tempo, as cartas vão descrevendo a vida no aquartelamento localizado na clareira do mato, no interior de Angola: a deslumbrante natureza, os nativos e como António cuidou de uma menina órfã de 4 anos, até o avô a vir buscar. Só que aos poucos a guerra vai afectando António, e as cartas tornam-se cada vez mais amargas, contando um tempo e uma guerra que parecem intermináveis, tal como o filme que tanto poderia ser uma curta, como uma imensa longa-metragem.

Cartas da Guerra

Rodado num preto-e-branco brilhante, assente numa fotografia espantosa (João Ribeiro), que realça a paisagem africana — e neste aspecto é difícil esquecer Tabu, de Miguel GomesCartas de Guerra, é uma combinação de ficção e realidade e de várias linguagens cinematográficas e literárias: jornal falado das actualidades, documentário, relatório de guerra e uma declaração de amor ultra-romântico e tardio. Cartas da Guerra, independentemente do que estiver para vir em termos de carreira ou prémios, é um belíssimo poema visual, de amor em tempo de guerra, sobre as memórias e traumas do ultramar português.

JVM



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