"1618" ©Cinemundo

1618, em análise

Luís Ismael realiza o filme português mais premiado de sempre trazendo-nos um imperdível drama histórico para os amantes medievais. “1618”, a epopeia que faz jus à memória dos judeus portugueses.

Do heroico salvamento de judeus do holocausto por Aristides de Sousa Mendes em 1940, que em 2021 lhe valeu a concessão de honras de Panteão Nacional, viajamos uns séculos para trás. Vamos até ao ano de 1618, onde os judeus, ou novos-cristãos, não tiveram uma tão boa hospitalidade por parte dos portugueses. Ou tiveram?

O novo filme de Luís Ismael, que já antes realizou outro filme histórico de temática judaica, o “Sefarad”, mas que tem estado mais ligado à comédia, sendo conhecido pela saga “Balas & Bolinhos” e mais recentemente por “Bad Investigate”, aventura-se neste drama histórico, intitulado ”1618”, que pretende ser “uma epopeia que faz jus ao resgate da memória dos judeus portugueses.”

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Produzido pela Lightbox, este filme faz parte de um projeto inter-religioso e de combate ao antissemitismo entre a Comunidade Judaica do Porto (detentora dos direitos sobre o filme) e a Diocese católica do Porto. Gabriela Cantergi, da Comunidade Judaica do Porto, afirma que “as receitas do filme em Portugal irão reverter para fins de solidariedade social, em parceria com a Diocese católica e com o Banco Alimentar.”

Com estreia em 2021 em vários festivais internacionais, passando pelos EUA e por Israel, “1618” arrecadou prémios atrás de prémios, somando já mais de 68 vitórias e com isso tornando-se o filme português mais premiado de sempre. Em Portugal, devido a atrasos por causa da pandemia, o filme estreou a 29 de Setembro de 2022.

1618
“1618” ©Cinemundo

Pedro Laginha, Catarina Lacerda, Francisco Beatriz, Mafalda Branqart, Heitor Lourenço e Pompeu José protagonizam o drama histórico que contou com mais de 1200 figurantes, foi rodado em apenas 3 meses e teve uma pós-produção de mais de um ano.

Baseado em fatos verídicos, “1618” remete para o ano que dá nome ao filme, retratando a perseguição da Inquisição aos judeus e a reação da cidade do Porto a esta intromissão, com muita gente a decidir partir para Amesterdão. Como pano de fundo temos um Portugal governado a partir de Madrid pelo rei Filipe III de Espanha, II de Portugal.

Nas palavras de Ismael a longa-metragem foca-se numa “narrativa genuína, que acrescenta um bocadinho mais ao que a História portuguesa tem para mostrar”. O cineasta lembra que “Tanto a população, como as autoridades da cidade revoltaram-se com esta intromissão da Inquisição, tanto que no Porto só houve um auto de fé”. Ismael confessa ainda que “O mais desafiante foi pegar neste filme e tentar produzi-lo em Portugal, com todas as limitações que existem”.

“1618” ©Cinemundo

Esta recriação histórica é o complemento ideal para os amantes de feiras medievais, onde a sua estreia em Portugal, por exemplo na Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, teria feito um enorme sucesso. Para quem segue estas feiras, certamente terá detetado um ou outro figurante habitual e poderá atestar que o espírito captado por “1618” é exatamente aquele que se vive nestes ambientes. A carga artística, técnica e de efeitos especiais é sem dúvida um dos pontos fortes do filme.

A linha principal da narrativa relembra com louvor “um caso, único no mundo, de resistência à Inquisição por parte das autoridades municipais, judiciárias e religiosas de uma cidade.” E não podemos deixar de elogiar as interpretações de Pedro Laginha como o mercador e filantropo respeitado pelas gentes do Porto, António Álvares, e Francisco Beatriz no papel do Visitador Sebastião Noronha.

Em revés de todos os pontos positivos, e que por si já fazem valer a pena a ida ao cinema, temos algumas grilhetas que impediram o filme de atingir todo o seu potencial. A perceção da dimensão histórica, o aprofundar da resistência e o impacto de todas as atitudes que vemos no filme é perdida numa abordagem muito ligeira que conta a História, mas não explora a história.

O construir do momentum é quebrado por cenas pouco polidas onde argumento e até os próprios atores não brilham como o suposto. Queríamos ter conhecido mais das personagens, mais dos eventos e mais da oposição. Tudo isto acaba por cortar o clímax da narrativa e o filme fica aquém daquilo que poderia ter sido.

“1618” ©Cinemundo

Numa nota final de desabafo, mas que infelizmente retrata a realidade, “1618” é mais um exemplo da falta de respeito e carinho dos grandes cinemas portugueses (ou pelo menos de alguns) para com as produções nacionais. É incompreensível como um filme permanece menos de cinco dias no horário nobre do cinema, e menos de duas semanas em exibição. Ainda mais tratando-se de um filme tão premiado a nível internacional e com as receitas a reverterem para a solidariedade social.

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1618, em análise
1618

Movie title: 1618

Movie description: Cidade do Porto, 1618. Matos de Noronha, visitador da Inquisição, dirige-se para a cidade, numa carruagem escoltada pela sua guarda. Muitos cristãos-novos são suspeitos de terem praticado heresias judaicas. António Álvares, mercador e filantropo respeitado pelos habitantes do Porto, é o primeiro alvo da visitação. A fuga parece ser o seu único caminho.

Date published: 29 de September de 2022

Country: Portugal

Duration: 90 minutos

Director(s): Luís Ismael

Actor(s): Pedro Laginha, Catarina Lacerda, Francisco Beatriz, Mafalda Branqart, Heitor Lourenço, Pompeu José

Genre: Drama , História

  • Emanuel Candeias - 67
67

CONCLUSÃO

Luís Ismael e a Comunidade Judaica do Porto relembram e preservam uma importante parte da História portuguesa, conseguindo produzir o filme português mais premiado de sempre. “1618” é para a comunidade judaica, é para as os amantes medievais e é para os portugueses.

Pros

  • O empenho de Luís Ismael;
  • O projeto da Comunidade Judaica do Porto e da Diocese católica do Porto;
  • As prestações de Pedro Laginha e Francisco Beatriz;
  • A produção técnica que triunfa na exposição do ambiente medieval.

Cons

  • Argumento demasiado linear que não explora o suficiente nem os fatos verídicos, nem as personagens;
  • Ritmo inconstante que quebra o envolvimento do público.
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