Império da Luz © Searchlight Pictures

LFF 2022 | Império da Luz, em análise

Império da Luz funciona melhor como carta de amor à arte de fazer filmes e à experiência de vivenciar os mesmos no cinema, com uma banda sonora memorável.

Quando um filme junta as pessoas mais talentosas de Hollywood por detrás de cada componente técnica, é difícil de não gerar expetativas altas. Império da Luz tem Sam Mendes como realizador-argumentista, Roger Deakins como diretor de fotografia, Lee Smith na sala de montagem e Trent Reznor e Atticus Ross na banda sonora, sem esquecer um elenco com alguns nomes sonantes – há uma mistura interessante com atores menos conhecidos. Todos vencedores de Óscares e tantos outros prémios. A única incógnita – Mendes no seu primeiro argumento a solo – acaba por ser o único fator divisivo…

Império da Luz é daquelas obras que possui atributos técnicos dignos de dezenas de nomeações, mas que não consegue levar os dois pilares do cinema ao mesmo nível: história e personagens. Verdade seja dita, sem estes dois “pormenores”, não importa o quão impressionante o filme soe ou pareça. Se não existe um investimento emocional por parte dos espetadores, a obra nunca terá um impacto significante. Obviamente, isto não implica que os elementos técnicos não sejam importantes ou até que não sejam suficientes para criar um filme que merece ser visto.

A premissa narrativa de Império da Luz passa por uma homenagem à magia do cinema e o potencial que a arte e a sua comunidade possuem para encontrar a luz no meio da escuridão. Deakins apresenta uma costa Britânica dos anos 80 expectavelmente deslumbrante, onde a criatividade e visão sublimes do cinematógrafo elevam a obra geral. Tendo em conta os seus últimos projetos (1917, Blade Runner 2049), Deakins até nem parece ter muito trabalho, sendo poucas as oportunidades para realmente deixar a audiência boquiaberta com um plano em particular. No entanto, quando essas chances aparecem, os visuais são, de facto, fascinantemente inspiradores.

Pessoalmente, a banda sonora de Império da Luz é o aspeto técnico mais memorável e o que mais conforta o coração dos espetadores. Reznor e Ross conseguem sempre melodias bonitas com as teclas do piano e, ao contrário de Deakins, têm mais momentos para brilhar. Seja num passeio à beira-mar, num assento de uma sala de cinema ou até na própria sala de projeção, a música é vital para o ambiente mágico que rodeia a obra. A montagem de Smith também contribui para estas sequências, nunca cortando – literalmente – a emoção em crescendo.

Empire of Light
“Império da Luz” é uma ode ao cinema, por parte de Sam Mendes © Searchlight Pictures

O maior problema – e único, sinceramente – passa mesmo pelo argumento. Mendes possui uma ideia clara daquilo que deseja para a narrativa principal e, honestamente, consegue executar o seu plano de forma eficiente. No entanto, existem vários enredos secundários com bastante peso temático que pouco ou nada são desenvolvidos, chegando mesmo a ser usados praticamente como se fossem “objetos” para trazer algum tipo de entretenimento/conflito ao filme. Desde o racismo constante por parte de supremacistas brancos à saúde mental, Império da Luz aborda estes temas com demasiada leviandade.

Quando Mendes se foca nas personagens e nas relações entre as mesmas, assim como a sua motivação comum de ajudar o cinema a voltar aos tempos grandiosos de outrora, Império da Luz torna-se cativante e fácil de se criar uma ligação emocional. Infelizmente, é impossível os assuntos acima não voltarem ao centro da conversa, mas Mendes não é capaz de desenvolver esses mesmo debates, nem de passar uma mensagem genuinamente importante, chegando mesmo a esquecer-se completamente do próprio foreshadowing.

Finalmente, não consigo deixar de me preocupar com o público-alvo e o possível desinteresse no tópico principal. Império da Luz é, sem dúvida, uma ode bonita à arte que representa, mas não sei até que ponto isso será suficiente para a maioria da audiência. Por exemplo, existe uma sequência na sala de projeção do cinema que, pessoalmente, me deixou encantado e de olhos bem fixados – e até algo húmidos – no grande ecrã. Tal deve-se também à paixão imensa que possuo pela arte de fazer filmes, mas a verdade é que grande parte dos espetadores não se importa com nada que esteja relacionado com tecnicismos.

Não posso terminar sem mencionar as prestações soberbas de todo o elenco. Olivia Colman adiciona o seu nome à lista de concorrentes ao prémio de Melhor Atriz com mais uma performance divinal e mais complexa do que aparenta. Hilary sofre com problemas de saúde mental e onde solidão, depressão, descontrolo emocional e “amores proibidos” constroem um arco agridoce. Micheal Ward também sofre enquanto Steven, um rapaz negro que tenta lidar com os ataques regulares devido às suas origens, mas funciona como a tal luz ao fundo do túnel para Hilary, mostrando que mesmo num mundo cheio de falhas, existem pessoas e sítios aos quais nos devemos agarrar. Toby Jones destaca-se do resto do elenco secundário com uma interpretação surpreendente – desconhecia o seu lado mais sentimental.

LFF 2022 | Empire of Light, em análise

Movie title: Empire of Light

Movie description: História de amor ambientada num velho cinema, na costa sul de Inglaterra, durante os anos 80.

Date published: 12 de October de 2022

Country: UK/USA

Duration: 115'

Director(s): Sam Mendes

Actor(s): Olivia Colman, Monica Dolan, Micheal Ward, Tom Brooke, Tanya Moodie, Hannah Onslow, Crystal Clarke, Toby Jones, Colin Firth

Genre: Drama, Romance

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  • Manuel São Bento - 65
65

CONCLUSÃO

Império da Luz funciona melhor como uma carta de amor à arte de fazer filmes e à experiência de vivenciar os mesmos no cinema. Prestações brilhantes. Deslumbrante de se observar. Emocionante de se escutar – banda sonora é o destaque técnico. Não tão cativante narrativamente, tendo em conta que o primeiro argumento a solo de Sam Mendes peca por falta de profundidade nos temas mais importantes. É uma belíssima homenagem à magia do cinema que cinéfilos irão desfrutar, mas para espetadores menos apaixonados pela 7ª arte, poderá ser algo indiferente.

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