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365 Dias: Naquele Dia, em análise

Considerado por muitos uma cópia de “As Cinquenta Sombras de Grey“, “365 Dias: Naquele dia” tem sido um dos filmes mais polémicos.

Adaptado a partir do romance de Blanka Lipińska, “This Day“, “365 Dias: Naquele Dia” não passa de um filme erótico sem nexo, no qual o papel da mulher é subjugado ao controlo de um homem mafioso e vingativo, que coloca os seus desejos acima de tudo. Em quase duas horas de filme, o espectador é bombardeado com cenas de sexo explícito, onde o prazer é colocado acima do amor e onde a selvajaria do ser-humano é exposta sem qualquer pudor. Esta é a segunda parte de um filme estreado em 2020, que indica, claramente, que os produtores não levaram a sério as críticas apontadas à primeira longa-metragem.

Em “365 Dias” (2020) ficámos a conhecer a história de Massimo (Michele Morrone), um membro da máfia italiana que perde o pai e começa a canalizar a sua raiva para o sexo. Cinco anos depois, o então chefe da máfia conhece Laura (Anna-Maria Sieklucka), uma polaca que procura refugiar-se da rejeição do namorado em objetos sexuais. Sem tempo para seguir as etapas normais de um relacionamento, o italiano acaba por sequestrar Laura e propõe-lhe que a polaca se apaixone por ele num máximo de 365 dias (daí o nome da longa-metragem). No meio de uma série de acontecimentos, a jovem acaba por se apaixonar pelo homem que a raptou, chegando mesmo a engravidar deste. Porém, o filme termina com a suposta morte de Laura dentro de um túnel.

Já em “365 Dias: Neste Dia”, ficamos a saber que Laura havia sobrevivido ao acidente, apesar de ter perdido o bebé. O segundo filme começa, então, com o casamento entre os dois noivos improváveis. Desde logo, o espectador é ludibriado com paisagens estonteantes que acompanharão as várias cenas do filme, apresentando uma Itália paradisíaca. Importa aqui destacar a importância que o elemento sol representa nesta longa-metragem, uma vez que a sua luz estará sempre presente, conferindo ao filme uma tonalidade de cores quentes, que serão uma metáfora para a essência do vídeo. Como tal, ainda antes de estar completo o primeiro minuto da longa-metragem, e num momento em que o espectador anseia por ver, finalmente, algum ato carinhoso entre o par romântico, Massimo decide baixar a roupa interior de Laura, envolvendo-se numa cena de sexo que será o mote para o resto do filme.

365 Dias
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Após o casamento, seguem-se longas cenas de sexo animalesco, onde muda apenas o cenário. Como se não bastasse, no segundo capítulo de “365 Dias” surge um segundo casal, Olga (Magdalena Lamparska) e Domenico (Otar Saralidze), que se apresentam em ousados episódios eróticos. Em suma, nos primeiros 25 minutos de filme, pouco existe para além de relações sexuais, apresentando-se uma longa-metragem vazia de narrativa. Ademais, estes primeiros minutos enaltecem um dos temas que mais controvérsia tem gerado. À semelhança do primeiro filme, “365 Dias: Neste Dia” exibe ao espectador uma visão primitiva do papel da mulher. Para além de na cama Laura ser submetida a momentos de BDSM (bondage, disciplina, sadismo e masoquismo), fora disso, o elemento feminino deixa-se controlar pelo seu par, nas mais variadas ocasiões, sendo obrigada a abandonar os seus momentos de lazer quando estes não incluem o seu parceiro. Estamos perante uma situação de total misoginia e de domínio da mulher, quase como acontecia em sociedades do passado.

Isto posto, o drama ganha contornos entediantes quando surge uma nova personagem, Nacho (Simone Susinna), o suposto jardineiro de Laura. Mal o novato faz a sua primeira aparição, percebe-se de imediato que se trata do terceiro elemento de um triângulo que envolve os protagonistas. É quase caricata a forma como Nacho se apresenta perante a nova patroa. Mas o ponto de viragem da narrativa revela-se ainda mais grotesco. Após apanhar Massimo com outra mulher, Laura opta por fugir com Nacho, como se fosse um mero ato comum, e nem desconfia quando vê que este vive em um casarão, apesar de trabalhar como jardineiro. Nota-se aqui o quanto os argumentistas se focaram nas cenas sexuais, construindo uma história com grandes lacunas. A maior, talvez, surge no momento em que Massimo anuncia a Laura que tem um irmão gémeo. Contudo, no primeiro filme, o protagonista havia afirmado que após a morte do pai não lhe restava qualquer familiar.

O filme decorre sem grandes ações, até ao momento em que os argumentistas optam por deixar todo o clímax do drama para os últimos 30 minutos. A partir daí, a sucessão de acontecimentos luta contra o tempo, resultando num emaranhado de situações que ocorrem à velocidade da luz, fazendo com que as cenas terminem de forma rápida sem serem devidamente exploradas. De um momento para o outro surgem personagens do capítulo precedente, o jardineiro revela ser um oponente da família de Massimo, e este último entra num confronto com o seu semelhante. A velocidade vertiginosa com que tudo acontece é capaz de deixar o espectador totalmente perdido no raciocínio.

Nestes momentos finais, uma vez mais, percebe-se que a mulher assume um papel de ‘objeto’, sendo tratada como moeda de troca em negócios relacionados com a máfia. Dito isto, Laura vê-se traída por Nacho, o homem que começava a demonstrar sentimentos por ela, mas que neste ponto surge sem qualquer expressão facial que indique se realmente haveria ou não qualquer tipo de paixão. Ao mesmo tempo, a polaca volta a ser sequestrada por outro homem, desta vez o cunhado, que chega mesmo a dar-lhe um tiro. Perante esta situação, Massimo apresenta-se como o herói que procura apenas preocupar-se com a amada ferida, evitando correr atrás da vingança, apesar de ter a oportunidade para o fazer. Ironicamente, também o italiano surge com uma cara vazia de expressões, o que mostra o muito pouco amor existente, bem como a péssima atuação de Michele Morrone. Isto tudo para não falar dos efeitos visuais criados para dar a ideia de sangue, quando o corpo de Laura é atravessado por uma bala.

365 Dias
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Apesar de tudo, importa salientar que a escolha dos atores foi feita quase a dedo. A química que existe entre os dois protagonistas ajuda a tornar o filme mais credível, intensificando as cenas eróticas. Porém, a sua representação deixa muito a desejar, talvez porque os seus corpos falam tão mais alto, que pouco empenho foi dado aos momentos em que efetivamente os atores teriam de dialogar. Mas nem tudo em “365 Dias: Naquele Dia” é mau. Como referido anteriormente, a grande aposta em cenários paradisíacos é talvez a única coisa decente na longa-metragem, que apresenta uma imagem bastante clean. Contudo, o pecado surge quando toda a narrativa se desenvolve em torno do luxo e da opolência, dando o cliché de que aos ricos todos os atos infames são perdoados. Ademais, a banda sonora é uma grande aposta, muito bem conseguida, mas que, infelizmente, não chega para salvar o filme.

Em suma, estamos perante uma obra cinematográfica capaz de causar vergonha alheia. Mas a verdade é que, apesar de ter estreado há quase um mês, e após todas as críticas negativas apontadas até então, “365 Dias: Naquele Dia” continua presente nos tops da Netflix. E o que é que faz com que um filme tão mau seja tão visto? A verdade é que todo o burburinho criado em torno da longa-metragem tem vindo a despertar a curiosidade de muitos espectadores. Se já em 2020 “365 Dias” tinha ganho o Razzie de Pior Filme do Ano, a sua sequela é já um dos favoritos a vencer a mesma categoria na próxima edição dos galardões que premeiam os piores da indústria. Além disso, apesar de, uma vez mais, Laura ter, aparentemente, morrido no final da longa-metragem, a plataforma de streaming já confirmou o regresso de um terceiro capítulo.

Já assististe a “365 Dias: Neste Dia”?

365 Dias: Naquele Dia, em análise
365 Dias 2

Movie title: 365 Dias: Naquele Dia

Movie description: Dois anos depois da estreia de "365 Dias", Laura e Massimo regressam mais fortes do que nunca. Mas os laços familiares de Massimo e um homem misterioso que vem disputar o coração de Laura irão complicar a vida dos recentes casados.

Date published: 27 de April de 2022

Country: Polónia, EUA

Duration: 109'

Director(s): Barbara Białowąs, Tomasz Mandes

Actor(s): Anna-Maria Sieklucka, Michele Morrone, Magdalena Lamparska, Otar Saralidze, Simone Susinna

Genre: Suspense, Erótico

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  • Jéssica Rodrigues - 30
30

CONCLUSÃO

“365 Dias: Neste Dia” não passa de uma cópia de “As Cinquenta Sombras de Grey”, mas com uma narrativa dez vezes mais ruim. Além disso, o filme é capaz de provocar vergonha alheia.

Pros

  • Os cenários apresentados mostram uma Itália paradisíaca, onde o luxo e a opolência imperam.
  • O elemento do sol, sempre presente, confere ao filme tonalidades muito quentes.
  • A bando sonora da longa-metragem, apesar de parecer bastante aleatória, é um ponto a favor.

Cons

  • A representação dos atores deixa bastante a desejar, havendo uma inexpressividade tremenda.
  • O espectador é constantemente bombardeado com cenas de sexo, não existindo qualquer tipo de narrativa coerente.
  • As cenas em que, efetivamente, existe alguma história são apresentadas a correr sem haver uma maior exploração da situação.
  • A mistura de línguas entre as personagens torna o filme ainda mais confuso.
  • A forma como o papel da mulher é abordado na longa-metragem é primitiva e escandalosa para uma sociedade que diz ter evoluído tanto.
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