O Quinto Poder, em análise

FifthEstate
  • Título Original: The Fifth Estate
  • Realizador: Bill Condon
  • Elenco: Benedict Cumberbatch, Daniel Bruhl, Clarice Van Houten
  • Género: Drama,Biography
  • USA | Belgium | 2013 | 128 min

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Estabelecida via internet, sem fins lucrativos, geradora de publicações que consistem em informações secretas provenientes de fontes anónimas. Wikileaks.

Eminentemente tecido com base na visão de Daniel Berg, sócio de Julian Assange. “O Quinto Poder”.

Bill Condon, de cujo ‘curriculum’, infelizmente, somente destaco “Kinsey”, aborda de forma interessante e curiosa a dicotomia rigor jornalístico / transmissão de dados em bruto. Pois, muito embora na busca – sempre um pouco “a ferros” – de um respeito pela privacidade alheia, num esforço penoso por manter um olho na liberdade, transparência e revelação total, e outro na intimidade da vida privada de terceiros, Wikileaks vestiu, muitas vezes, a pele de um site polémico, pelo distanciamento em termos de método, comparativamente a órgãos de comunicação social de renome. Aqueles que se regem constantemente pelo rigor. Aqueles que fazem vénia, na sua divulgação, a palavras como filtragem, prudência, tratamento, critério.

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Wikileaks já havia sido anterior e recentemente alvo de estudo pela indústria cinematográfica, através de um trabalho sublime da autoria de Alex Gibney, intitulado “We Steal Secrets: The Story of WikiLeaks”. E uma ou outra opinião bem credenciadas existem no sentido de que esta tarefa de B. Condon terá sido um tanto ou quanto inglória, fatídica e desnecessária. A meu ver, salvo o devido respeito, o trabalho indiscutivelmente incisivo e meritório de A. Gibney (vencedor de Óscar em 2008 por “Taxi to the Dark Side”, outro dos seus brilhantes documentários) tem um propósito próprio do documentário: informar. A película sobre a qual me proponho escrever – e julgo ter sido uma aposta ganha por B. Condon – visa igualmente trazer algum conhecimento e verossimilhança sobre os factos passados concernentes ao assunto que se discute; mas, essencialmente, e como longa-metragem que é, tem como objetivo primordial o entretenimento. Não pode nem deve ser colocada na mesma categoria.

A fuga estrondosa e à escala mundial que marcou a crise do site consubstanciou-se na transmissão de um enorme conjunto de documentos secretos do exército norte-americano, dando a conhecer a morte perpetrada por soldados dos Estados Unidos contra civis na guerra do Afeganistão. E residiu neste episódio – como, aliás, se havia reconhecido noutros, embora com menor peso – uma vontade, por parte de Julian Assange, de levar a liberdade de expressão até ao expoente máximo. B. Condon poderá ter, intencionalmente, lançado dois lutadores para o ringue (Daniel e Julian) e apresentado a respetiva argumentação – uma mais racional, ponderada, consciente das consequências; a outra, virada para o ‘the spur of the moment’, focada na divulgação obsessiva. Mostrar o que é a Wikileaks versus o que poderia ter sido Wikileaks. Em mentes diferentes: Julian versus Daniel.

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B. Condon dirige convincentemente Benedict Cumberbatch e Daniel Bruhl. A título de curiosidade, o segundo ainda desencadeou na minha mente um esforço adicional, ao tentar recordar-me do seu rosto. Se me permitem, e caso a vossa memória esteja como a minha quanto a nomes, facilito-vos a vida para que, dessa forma, toda a atenção se concentre em personagens e guião. Fredrick Zoller, “Inglourious Basterds”. E, a exigir uma menor entrega de raciocínio, pois bem mais recente: “Rush” (Niki Lauda).

B. Cumberbatch como Julian é hipnotizante, uma vez que o ator assume magnificamente as idiossincrasias da personagem. É quase impossível desviarmos a atenção do seu discurso. Quer concluamos que nos ludibriou de alguma maneira, quer até consigamos eventualmente colocar um pé dentro do hall de entrada dos seus neurónios.

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Detentor de uma personalidade caracterizada pela determinação e o fundamentalismo, Julian empreende uma viagem rumo à defesa da transparência e revelação de segredos da propriedade pública, vindo, em crescendo, a revelar uma obsessão desmesurada.

Citando Ivan Sigal, diretor executivo da Global Voices, comunidade internacional de bloggers, “O Quinto Poder não deve ser temido, tratado com indulgência, exaltado ou banido. Existe para ser considerado. Porque está aqui, é poderoso e não se vai embora.”

Assim seja bem gerido.

SME