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75º Festival de Cannes | ‘Eo’, o Burro de Jerzy Skolimowski

O mundo visto pelos olhos de burro é a proposta do veterano cineasta polaco Jerzy Skolimowski, em ‘Eo’ um belo filme experimental, uma fábula cinematográfica, que vagueia entre o real e a ficção, feito sobretudo para defender os direitos dos animais, contra o politicamente correcto.  

Com uma uma longa carreira no cinema, o ‘velho’ realizador polaco Jerzy Skolimowski  (84 anos) já contou muitas histórias nos seus filmes: o história azarada de um ex-pugilista na sua obra inicial ‘Walkover’ (1965), conseguiu interpretações extraordinárias no thriller político ‘Essential Killing-Matar para Viver’ (2010) e ainda, o dia-a-dia dos trabalhadores polacos ilegais em Londres em ‘Moonlighting’ (1982), com Jeremy Irons, durante a era dos protesto do Solidariedade, entre tantas outras obras marcantes. Agora, neste seu filme da Competição de Cannes 75, um filme rodado na Polónia e na Itália e várias vezes interrompido por causa da pandemia, o seu foco está em ‘Eo’ e num burro.

75º Festival de Cannes

O burro Hi-Han (ou Eo) é libertado de um circo onde estava ao cuidados da jovem e doce Kasandra (Sandra Drzymalska) de quem teve que se despedir com muita dificuldade. Segue-se depois uma ‘viagem iniciática’, do bicho, que parece quase uma fábula, — um bocadinho diferente de ‘O Burro de Ouro’ de Apuleio — pontuada por encontros felizes e outros mais violentos, sem que nunca o animal perca a sua inocência. Sendo que a pobre criatura que começa sua vida no circo polaco e é libertada por um movimento contra a exploração dos animais, vai acabar cinicamente, num matadouro italiano. Na sua dolorosa jornada de saudade, ‘Eo’ conhece várias mulheres e homens: a jovem Kasandra — interpretada pela talentosa Sandra Drzymalska (da série ‘Sexify’), Vito (Lorenzo Zurzolo, da série ‘Weekend’), bem como uma condessa interpretada num quase cameo de Isabelle Huppert. Segundo o próprio Jerzy Skolimowski, este ‘Eo’ trata-se de um filme-homenagem a ‘Peregrinação Exemplar’ (‘Au Hasard Balthazar’, 1966)’ de Robert Bresson: a vida de um burro de carga chamado Balthazar desde sua infância até sua fase adulta, passando de dono a dono, maltratado por alguns e amado por outros, enquanto vive no meio da maldade humana.

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75º Festival de Cannes

Skolimowski admirava o estilo ‘desprovido de qualquer sentimentalismo, indiferente, quase desinformado’ de Bresson e foi neste filme, que se inspirou e descobriu que é possível tirar partido — no bom sentido, claro — dos animais, no cinema e torná-los personagens principais pois são, ‘incapazes de fingir que qualquer coisa simplesmente não são’ e nesse sentido muito diferentes das pessoas. Por isso Jerzy Skolimowski decidiu encenar também um burro, — na verdade no genérico salvo erro, são 6 burros — tornado-o o ator principal deste seu novo filme ‘Eo’. E esse burro torna-se num trunfo para o realizador cultivar no seu novo filme, a ideia de inocência, uma qualidade essencial num mundo de hoje, cada vez mais cínico, hipócrita e implacável. E ao mesmo tempo apelar para a defesa dos direitos dos animais. Nesta versão contemporânea de ‘Peregrinação Exemplar’, e não há nada que enganar, novamente um animal é usado para iluminar o bom e mau da natureza humana.

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