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75º Festival de Cannes | ‘Triangle of Sadness’

O sueco Ruben Östlund está de volta à Competição de Cannes 75, para apresentar ‘Triangle of Sadness’, uma sátira anti-capitalista, sobre o mundo da moda e das aparências, que nos leva num belo iate de luxo, ao alto mar e a uma ‘ilha deserta’.

Ruben Östlund causou sensação com o explosivo ‘O Quadrado,’ — foi Palma de Ouro 2017 e Óscar de Melhor Filme Estrangeiro 2018 —, e já antes com ‘Força Maior’, Prémio do Júri ‘Un Certain Regard’ 2014. Este ‘Triangle of Sadness’ acompanha Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), um casal de manequins ‘influenciers’, que ganharam as suas férias num iate e num cruzeiro de luxo, após uma Semana da Moda, que efectivamente criou alguns atritos entre os dois. No barco viaja, um oligarca russo, um rico finlandês ligado às novas tecnologias, traficantes de armas britânicos e um capitão idiossincrático, alcoólatra e que cita Marx e escuta a ‘Internacional’.

75º Festival de Cannes

No entanto, não há qualquer semelhança com uma charada policial de Agatha Christie. Os tripulantes do navio são atenciosos, o cenário é deslumbrante e o casal aproveita para encher o Instagram — sobretudo ela — com fotografias, cada uma cada uma mais sensual que a outra, ao mesmo tempo que ele vai manifestando os seus ciúmes. Até que um dia, uma tempestade vai ameaçar a estabilidade do navio e um forte enjoo vai atingir os passageiros, durante o tradicional jantar de sete pratos, do Capitão (Woody Harrelson). O cruzeiro vai terminar catastroficamente, Carl e Yaya acabam isolados numa ilha deserta, com dois dos milionários, tripulantes e uma das camareiras do barco, que vai ter uma influência decisiva. A hierarquia de poder é subitamente virada de cabeça para baixo, pois a governanta é na verdade a única que sabe virar-se numa situação limite, sabe pescar e fazer lume para cozinhar.

VÊ TRAILER DE ‘TRIANGLE OF SADNESS’

O título ‘Triangle of Sadness’ é uma referência ao mundo da estética, à chamada ruga na testa, um manifesto sinal de preocupação, quando passamos por situações de stress ou momentos difíceis na vida. Porém o filme vai em outro sentido ao qual não é estranho o sempre habitual tom de sátira social do cinema de Ruben Östlund. Aqui novamente, o realizador questiona além do mundo capitalista, também o das aparências: como um bom visual pode ajudar a vencer na vida? Aliás também, até que ponto as roupas e adereços ou a nossa forma de estar (embora por vezes, vista só de aparências das redes sociais) conferem poder e influência? O filme está dividido em 3 partes, começando com um divertido prólogo que apresenta Carl (Harris Dickinson) num casting de modelos masculinos sem camisa, observados por agente que faz com que mostrem o seu rosto ‘mal-humorado’ dos manequins da alta costura da Balenciaga, ou seu rosto ‘feliz’, da acessível H&M; e a primeira parte com a apresentação das tensões entre o casal de manequins que segue depois no cruzeiro para se reconciliar.

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Porém Ruben Östlund deve-se ter divertido muito mais em transformar o iate de luxo num ‘navio bêbado’, a intensa luta pela sobrevivência dos náufragos, num ‘ilha deserta’, em cenários de hilariantes situações tragicómicas. A bordo do iate, seguia um grupo de ricos, belos e poderosos que coabitavam com a humilde, simpática e benevolente tripulação. Porém com as situação de crise e de sobrevivência contadas na 2ª e 3ª parte,— como aliás ja acontecia em ‘Força Maior’ — fazem vir ao de cima a natureza humana, vemos os papéis inverterem-se e o poder redistribuir-se, além da fortuna e das questões de imagem.

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Esta reviravolta dá origem claro, a situações tão hilariantes, como perturbadoras, numa mistura subtil de reacções incríveis dos protagonistas, as quais o realizador sueco vai guardando secretamente aos poucos, para culminar num final inesperado.

JVM em Cannes

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