Lucy Dacus (foto por Elizabeth Weinberg)

“Forever Half Mast” é o terceiro feriado que Lucy Dacus nos oferece

Lucy Dacus vai lançar um EP no Outono, intitulado 2019. “Forever Half Mast” é a terceira faixa, onde Lucy reflete sobre a ambivalência de ser americano. Ouve-a aqui. 

Temos sido brindados por uma série de canções avulsas que Lucy Dacus está a lançar ao longo do ano e irá coligir fisicamente num EP, intitulado 2019, a ser editado no outono pela Matador. Dele já pudemos ouvir o cover de “La Vie em Rose”, “My Mother & I” e agora “Forever Half Mast”. 2019 incluirá ainda faixas referentes ao aniversário de Bruce Springsteen, ao dia de Halloween, ao Natal e ao Ano Novo. De uma maneira ou doutra, cada um destes singles centra-se num determinado dia festivo do calendário americano.

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No cover  de “La Vie En Rose” Lucy oferece-nos um dia de São Valentim que ultrapassa qualquer cartão piroso ou chocolates em forma de coração. Em “My Mother and I”, Lucy  referencia o dia da Mãe, agradecendo às suas mães (biológica e adotiva) tudo o que lhe deram e celebrando virtudes e defeitos, calma e suave como quem devolve uma canção de embalar.  Agora, em “Forever Half Mast”, para o Dia da Independência, Lucy, qual filha emancipada, contempla a sua terra-mãe.

"Forever Half Mast" Lucy Dacus 2019
Capa de 2019

“Forever Half Mast” debruça-se sobre o dia 4 de julho, data em que os americanos comemoram a independência e a subsequente ascensão histórica ao actual lugar de potência mundial. Lucy Dacus tem estado em digressão e, na sua passagem pela Europa, um sentimento de profundo desconforto assomou nela. Consciente do quanto o seu país contribui para muitos dos problemas que enfrentamos hoje em dia, como o consumismo, começou a pôr em causa este orgulho nacional. No comunicado de imprensa, Lucy explica-nos:

“Há uma dissonância diária que perdura, como americana, onde grande parte da nossa alegria é contrabalançada pela vergonha, onde grande parte do nosso orgulho vive em conjunto com a injustiça e o sofrimento […] Forever Half Mast” é sobre confrontar essa inevitável culpabilidade como cidadão e consumidor americano. Em vez de permitir que essa culpa nos paralise, devemos tentar deixar que nos influencie de maneira positiva ”.

Ao longo do tema, Lucy vai sendo acompanhada de guitarras vibrantes. Com uma sonoridade metálica, mas também sempre com uma suavidade que já tão bem lhe conhecemos, a sua voz é capaz de, com segurança, ferir o orgulho do país de origem.

Pertencer aos Estados Unidos da América é fazer parte de um dos países mais desenvolvidos do mundo, é pertencer a um dos maiores sistemas económicos, é acompanhar o desenvolvimento da mais poderosa tecnologia de perto. Mas Lucy é capaz de ver mais longe, apercebendo-se de que, por trás de um poderosíssimo sistema económico, se pode esconder uma desordem total. Por trás da luminosidade dos avanços tecnológicos, uma sombra pode-se estar a formar. Não há para Lucy dúvidas de que problemas como o consumismo (“For all the money that you waste”) também marcam o seu país e que ela, juntamente com todos os que festejam o 4 de julho, são de alguma forma culpados por aqueles “darkest days”.

Assim, Lucy Dacus utiliza o dia da independência americana para relembrar que “We’re in a state of disarray” e que, apesar do dia festivo que é, o estado atual não permite uma comemoração absoluta: “Let your flag fly at forever half mast”. Contudo, não estamos perante um baixar de braços, Lucy não está nem sequer perto de ter desistido do seu país. No último verso, acompanhada por sons elétricos e sintetizadores pesados, a sua voz ecoa difusa, sustentando a esperança num “Mistake turned into miracle”.

LUCY DACUS, 2019| “FOREVER HALF MAST”

Lucy Dacus continua em digressão, tendo estado o mês passado em Portugal, no Nos Primavera Sound. A 7 de Setembro dividirá o palco com Mitski no Central Park, numa atuação que marca, por tempo indefinido, o último concerto de Mitski.

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