Filme de Raquel Freire leva a polémica das praxes de Coimbra à TV este fim de semana
Coimbra, praxes e vingança. O filme “Rasganço” vai expor os rituais académicos com a ferocidade e realismo doloroso.
O berço da mais antiga universidade portuguesa, Coimbra, é um palco de tradições seculares, onde o peso da história se mistura com a irreverência da juventude. Mas o que acontece quando um estranho entra neste mundo fechado, não para se integrar, mas para o despedaçar? Assim é essa a premissa de “Rasganço”, o filme da cineasta Raquel Freire.
“Rasganço” estreia na nossa TV este sábado
Edgar (Ricardo Aibéo), o protagonista, não é o típico caloiro ingénuo. Chega a Coimbra como um intruso, um corpo estranho num organismo que funciona à base de hierarquias, códigos não escritos e uma certa violência ritualizada. Assim, o filme não se limita a documentar as praxes; mergulha na psicologia de quem as usa como arma. Edgar, excluído desde o início, não tenta ganhar o seu lugar. Em vez disso, seduz, manipula e corrompe, transformando os próprios rituais que o rejeitaram em instrumentos de vingança.
Assim, Raquel Freire, conhecida pelo seu olhar incisivo sobre temas sociais, não poupa críticas ao sistema. “Rasganço” não é um filme sobre praxes — é um filme sobre poder. Quem o tem, quem o deseja e quem o destrói. As cenas de violência, mais do que chocantes, são meticulosamente coreografadas para mostrar a mecânica da dominação.
E, no centro, está Edgar: um anti-herói tão carismático quanto perturbador, que deixa uma pergunta no ar: até onde iríamos se nos dissessem que nunca pertenceríamos a um lugar?
Por que este filme importa (e vai dar que falar)
Em Portugal, as praxes académicas são um tema sensível. Defendidas por uns como tradição inofensiva, condenadas por outros como humilhação desnecessária, raramente são retratadas sem filtros. Assim, “Rasganço” não escolhe lados; mostra o que acontece quando o ritual vira obsessão. A escolha de Coimbra como cenário não é acidental — é aqui que a tradição pesa mais, e é aqui que a sua subversão doía mais.
Assim, o filme chega numa altura em que o debate sobre o abuso nas praxes continua aceso. Raquel Freire não inventa: amplifica. E, ao fazê-lo, força-nos inegavelmente a confrontar uma realidade incómoda. Se os rituais académicos são um teste de resistência, o que dizem sobre nós quando viram ferramentas de crueldade?
“Rasganço” chega à RTP2 neste sábado, dia 29, pelas 22:55. Um retrato cru, sem romantismos, dos rituais académicos que tanto definem — e dividem — os estudantes de Coimbra.
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