James Cameron critica Oppenheimer de Christopher Nolan por omitir as vítimas japonesas
Christopher Nolan nunca filma por acaso e às vezes, o que ele escolhe não mostrar diz mais do que qualquer explosão.
Quando um realizador decide contar uma história, especialmente uma tão carregada de peso histórico como a criação da bomba atómica, cada escolha narrativa é um ato de moralidade. E é precisamente essa moralidade que James Cameron questiona ao criticar Oppenheimer, o aclamado filme de Christopher Nolan. Mas será que a ausência das vítimas japonesas no filme é uma falha ética ou uma decisão artística intencional?
Christopher Nolan, conhecido pela sua obsessão com perspetiva e subjetividade, construiu Oppenheimer como um retrato íntimo do “pai da bomba atómica”, mergulhando na sua culpa, nas suas contradições e no turbilhão político que o consumiu. No entanto, para Cameron, essa abordagem é uma “fuga moral” — uma omissão que, na sua visão, atenua o impacto real do horror nuclear.
A acusação de James Cameron
Numa entrevista à Deadline, o realizador de Titanic e Avatar disparou contra a escolha de Christopher Nolan de não mostrar as consequências da bomba. “É interessante o que ele evitou. Adoro o trabalho cinematográfico, mas senti que foi uma espécie de fuga moral”, afirmou Cameron. “Não é como se Oppenheimer não soubesse os efeitos. Há uma breve cena onde ele vê corpos carbonizados, mas depois o filme segue em frente. Senti que o assunto foi evitado.”
A crítica de Cameron não surge do vácuo. Spike Lee já havia questionado a mesma omissão, argumentando que “as pessoas foram vaporizadas” — e que esse horror merecia ser visto. Para estes cineastas, a ausência das vítimas japonesas dilui o impacto histórico da bomba, transformando Oppenheimer num drama pessoal em vez de um confronto com a devastação real.
No entanto, será que essa crítica ignora a intenção de Christopher Nolan? O realizador britânico sempre defendeu que o filme é uma experiência subjetiva — vemos o mundo através dos olhos de Oppenheimer, e ele nunca testemunhou diretamente o sofrimento no Japão. Mostrá-lo, argumenta Nolan, quebraria a imersão psicológica.
A resposta de Christopher Nolan
Christopher Nolan não é estranho à polémica, mas a sua defesa é clara: Oppenheimer não é um documentário sobre Hiroshima, mas um estudo sobre culpa e responsabilidade. A cena em que Cillian Murphy, no papel do físico, encara imagens projetadas das vítimas — sem que o público as veja — é talvez mais perturbadora do que qualquer reconstituição gráfica. A sua expressão de horror diz mais do que mil imagens explícitas.
Christopher Nolan já explicou que queria explorar o tormento interior, a fratura ética. E, de certa forma, essa abordagem reflete a própria natureza do legado de Oppenheimer: um homem que nunca enfrentou diretamente as consequências do que criou, apenas o seu próprio remorso.
Mas será essa justificação suficiente? Para alguns, sim. Para outros, como Cameron, é uma oportunidade perdida. O realizador de Avatar está agora a desenvolver Ghosts of Hiroshima, um filme que promete mostrar “sem filtros” o impacto da bomba. Se Christopher Nolan optou pela abstração, Cameron vai inegavelmente na direção oposta.
O público é quem decide
No final, a disputa entre Christopher Nolan e Cameron não é apenas sobre estilo, mas sobre ética narrativa. Assim, deve o cinema mostrar o horror em detalhe, ou será a sugestão mais poderosa? Oppenheimer escolheu o caminho da subjetividade, mas será que, ao fazê-lo, falhou em honrar as vítimas?
O que achas? Um filme sobre a bomba atómica deve mostrar as suas vítimas, ou a força está no que se deixa à imaginação? Deixa a tua opinião nos comentários.