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MOTELX 2025 | The Long Walk – Análise

“The Long Walk”, em Portugal com o título “The Long Walk – o Desafio” já chegou às salas de cinema comerciais de norte a sul do país. Antes disso foi, em jeito de antestreia e a dia 9 de setembro, o Filme de Abertura de mais uma edição de MOTELX.

Da autoria de Francis Lawrence, mais conhecido pelas competentes adaptações dos livros da saga “The Hunger Games”, chega-nos outra interpretação de uma distopia juvenil literária situada numa América alternativa que se apresenta como um regime altamente militarizado.

The Long Walk: mais uma entrada de sucesso na distopia juvenil

Desta vez, Lawrence adapta um livro da autoria de Stephen King.  Enorme lenda do terror, mistério e sobrenatural, e escritor do material de origem de algumas das narrativas mais suculentas do género no grande ecrã, de “It” a “The Shining”, passando por “Misery” ou “Carrie”, eis que “The Long Walk” é a adaptação de uma das primeiras obras de King.

E, tendo o livro sido lançado em 1979, são portanto dispensáveis as comparações fáceis a outros fenómenos com enredo algo tangente, como o filme japonês “Battle Royale” ou a história de “The Hunger Games”.

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Aqui, em “The Long Walk”, o campeonato é outro. Os 50 participantes no evento não têm de se matar uns aos outros, mas simplesmente caminhar, durante centenas e centenas de quilómetros, durante dias a fio, até que apenas sobre um de pé. Cada paragem equivale a um aviso e o terceiro aviso sinaliza a chegada de uma execução sumária.

A participação na “The Long Walk” é inteiramente voluntária, mas de uma forma perversa e tirânica, uma vez que todos os jovens rapazes dos 50 estados dos EUA se inscrevem, ano após ano, para esta oportunidade única de tirar as suas famílias da miséria, vencer um prémio monetário avultado e pedir um desejo insano irrecusável.

Esta competição faz-se em privado, sem espectadores até à reta final, mas com uma emissão televisiva a acompanhar os concorrentes a todo o momento, dia e noite, para que o voyeurismo não falte.

Cooper Hoffman e companhia brilham no MOTELX 2025

The Long Walk Sessão Abertura Motelx
©Motelx

Enquanto thriller psicológico, “The Long Walk” é um projeto bem-sucedido. Por um lado, é inteiramente capaz de manter o público entretido. Tendo em conta que os nossos jovens participantes apenas andam, sem interrupções, durante dias a fio, é particularmente importante criar um equilíbrio para que este movimento constante e repetitivo não se torne aborrecido para quem vê.

Criar tensão não é um problema para Francis Lawrence e companhia, em parte devido aos momentos ternurentos que caracterizam um filme que, na sua génese, acaba por ter a amizade e a humanidade como valores máximos.

Por outro lado, há que elogiar o jovem elenco. Na linha da frente temos Cooper Hoffman, que depois de, com “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson, mostrar ser capaz de seguir as pegadas do seu pai, o falecido Philip Seymour Hoffman, volta a reforçar a sua star persona.

Todavia, Hoffman não está sozinho. Os restantes 49 participantes são igualmente magnéticos, uns com mais tempo de ecrã que outros, claro está, mas acima de tudo louvamos o novato David Jonsson (vencedor do prestigiado prémio de Rising Star nos BAFTAs em 2025) na pele do número 23, Peter McVries.

Para além de empolgar e entreter, “The Long Walk” consegue emocionar e criar verdadeira empatia, não obstante o seu enredo particularmente simples e evolução previsível.

Que universo de King é este?

The Long Walk
The Long Walk © Lionsgate

Embora “The Long Walk” se saía bastante bem em diversas frentes, há que destacar as suas evidentes falhas. Sem ter lido o livro, e sem saber se algo ficou ou não por narrar, é difícil não pensar que falta sumo a esta história.

Aqui, encontramos, depois de uma longa e extenuante guerra, um governo tirânico e militar comandado pela figura de um líder máximo, que dá pelo nome de Major (Mark Hamill). Este Major é o chefe máximo do governo dos EUA, mas é também ele pessoalmente que faz valer, casa a casa, os castigos que recaem sobre traidores (como vemos num flashback do nosso protagonista, o Raymond de Cooper Hoffman).

Esta ligação pessoal entre protagonista e Chefe de Estado enfraquece desde logo a narrativa, tornando-a caricatural e pouco credível. E claro, outro problema é a falta de detalhe. Só sabemos que a “Long Walk” é responsável por aumento de produtividade nos diversos estados norte-americanos, mas não sabemos como começou nem temos qualquer vislumbre da configuração da sua emissão televisiva.

O nosso universo é o da caminhada, e nada mais importa em seu torno. E se, por um lado, tal fortalece a força das ações dos protagonistas e o seu desespero, a falta de contexto torna mais difícil empatizar em certos momentos. A raiva que estes jovens sentem contra o regime é-nos “dita, não mostrada”, violando assim um dos princípios mais essenciais de narração de histórias.

Não obstante, esta produção garante sem dúvida uma sessão de cinema repleta de momentos de tensão, empatia e quiçá até algumas lágrimas, assente num valor de produção considerável e em prestações centrais bastante competentes. De cada vez que uma bala atinge um participante, sentimos um desconforto visceral e uma tristeza generalizada.

“The Long Walk” consegue capturar os nossos corações, especialmente se não pensarmos demasiado sobre o mundo que se desenrola perante o nosso olhar.

Conclusão

Uma realização competente e uma progressão narrativa constante permitem-nos empatizar (e sofrer) com os protagonistas de “The Long Walk”. Neste filme, a promessa tenebrosa de banalização da violência nunca é cumprida, transformando esta distopia cruel num símbolo consciente de esperança e optimismo – não obstante a brutalidade das suas imagens.

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