The Surfer, a Crítica: Nicolas Cage imperdível numa viagem alucinante a fechar o MOTELx
A masculinidade tóxica nunca foi parodiada com tamanha destreza, diversão e alucinação como neste “The Surfer”, o filme que, com a ajuda de Nicolas Cage, fechou o MOTELx em 2024. O ator é já uma figura mítica no cinema de género e, ano após ano, cimenta esse lugar no topo. Aqui temos a confirmação da regra!
“The Surfer” surge a partir da mente e caneta de Thomas Martin e da câmara de Lorcan Finnegan. Depois da sua estreia em Cannes, integrando a Seleção Oficial, chega a Portugal para uma primeira sessão no âmbito do encerramento do MOTELX. Pelo caminho, o seu rasto é um circuito de festivais bem-sucedido.
Emotivo quando precisa de o ser, por vezes grosseiro e abjeto e sempre incómodo e alucinante, “The Surfer” é um thriller que nos retira as âncoras e nos faz duvidar de tudo – da realidade do protagonista, da nossa própria realidade, das nossas certezas e convicções no que ao mundo do filme diz respeito.
O argumento conduz-nos de forma inteligentíssima, mas a realização firme de Lorcan Finnegan assume também grande parte da responsabilidade pelo sucesso. Isso e, claro está, a performance central de Nicolas Cage, a esta altura do campeonato rei do cinema de género.
A realidade ‘idílica’ das utopias distópicas de Finnegan
Aqui é um homem de negócios americano com uma grande paixão por surf e que regressa ao local belíssimo onde cresceu na Austrália, para por lá finalmente comprar uma casa. Não uma qualquer casa, mas a casa que fora do seu pai e que poderá por fim recuperar e partilhar com o seu filho.
Os obstáculos, esses são múltiplos e impiedosos. Os locais são para lá de hostis para com estranhos, o que é aprovado de forma caricatural por toda a comunidade. Depressa o caráter idílico começa a vacilar, mas “o Surfista” não será demovido – faça sol, chuva, frio ou, como estamos na Austrália, mesmo que esteja muito calor e não haja sombra ou água nas imediações.
Neste paranóico “The Surfer” há uma suspeição e uma vertigem rumo à loucura que nos coloca no lugar do protagonista. Outro elemento que dá corpo a esta atmosfera é a edição de som, onde a sonoridade esotérica nos vai entregando pequenas pistas sobre o que podemos esperar da parte do argumento.
Para quem tenha visto o último trabalho de Lorcan Finnegan, o muito divisivo “Vivarium”, que passou por cá, em terras lusas, no IndieLisboa, sem dúvida que encontramos muitos pontos de contacto e uma clara identidade, senão mesmo traço autoral nítido.
Sentimos a descida aos infernos, a construção da história em torno de um ideal familiar idílico e inviolável – uma utopia. Mas essa utopia rapidamente se torna distópica, e é uma incapacidade de percecionar as ameaças como tal que acaba por colocar o nosso protagonista em maus lençóis. Sentimo-lo de forma clara em “Vivarium”, e também aqui neste “The Surfer”, que em comparação não deixa de ser mais regrado, adulto e de certo mais coeso.
A longa-metragem seguinte de Finnegan sabe que história está a contar, e por muito que se desenvolva como um thriller psicológico satírico, por vezes brutal no seu tratamento do protagonista, existe um otimismo latente na fixação quase patológica do nosso surfista.
Nicolas Cage é brilhante nesta corda bamba, neste equilíbrio tão ténue. Está o surfista fora de si, ou está o seu ambiente a pregar-lhe partidas? A dúvida é alimentada com mestria e a experiência em sala delicia. E com a mistura sonora que já mencionámos, ai de quem decidir relegá-lo para o streaming!
Recomendamos “The Surfer” no grande ecrã, onde podemos testemunhar mais uma inteligente escolha de carreira por parte de Nicolas Cage, que aqui é também produtor além de protagonista. Em breve, partilharemos mais informações acerca da sua estreia em Portugal (que ficará a cargo da NOS)!
The Surfer, a Crítica
Movie title: The Surfer
Movie description: Neste filme, realizado e escrito pelos irlandeses Lorcan Finnegan e Thomas Martin, Cage é um homem que, ao regressar à praia idílica da sua infância na Austrália para surfar com o filho, se vê arrastado para um conflito com um grupo de influentes locais. Debaixo de um calor irrespirável, o surfista terá de encarar a sua condição de estrangeiro na vida e no lugar onde cresceu, à medida que o escalar de violência o atira para o limite. Inspirado pelos romances de Surf Noir e pela short story de John Cheever “The Swimmer”, “The Surfer” lembra um sonho estranho que explora o materialismo, a identidade e pertença, a repressão de memórias, a masculinidade e o renascimento.
Date published: 21 de September de 2024
Country: Austrália, Irlanda, Reino Unido, EUA,
Duration: 99'
Author: Thomas Martin
Director(s): Lorcan Finnegan
Actor(s): Nicolas Cage, Julian McMahon, Justin Rosniak
Genre: Thriller Psicológico, Sátira
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Maggie Silva - 82
Conclusão
“The Surfer” cimenta o que já sabíamos: Nicolas Cage é um mestre do Cinema de Género e um dos grandes protagonistas que o fantástico, terror e ficção científica já tiveram oportunidade de conhecer. Aqui continuamos a ver uma sucessão de boas escolhas, depois de outras recentes como “Longlegs” ou “Dream Scenario”. Todos papéis muito diferentes, mas que extraiem o melhor que Cage tem para oferecer.