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Queer Lisboa 2025 | I’m Your Venus – Análise

Num ano pautado por uma seleção forte no campo dos documentário, “I’m Your Venus” surgiu programado, no Queer Lisboa 2025, na secção Panorama. A obra recupera uma das intervenientes mais memoráveis do icónico documentário LGBTQIA+ “Paris is Burning”.

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Paris is Burning regressa com I’m Your Venus

Um olhar íntimo e em detalhe sobre a cena do ballroom nova iorquina do final dos anos 80, “Paris is Burning” (1990), dispensa apresentações, sendo uma das obras mais essenciais e fundadoras da cultura queer.

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Sem ser uma grande obra do ponto de vista fílmico, e sem se aproximar da importância histórica de “Paris is Burning”, “I’m Your Venus” expande este universo, e é um filme capaz de emocionar e devolver dignidade e importância a uma figura luminosa dentro da cena queer da Nova Iorque retratada em “Paris is Burning”.

Falamos da muito jovem Venus Xtravaganza, que morreu estrangulada com apenas 23 anos de idade, sem que a pessoa culpada pela sua morte tenha alguma vez sido chamada à justiça. Venus, um dos rostos mais memoráveis do documentário clássico de 1990, foi morta antes do lançamento de “Paris is Burning” e agora, muitos anos depois, a sua família biológica e a sua família da cena ballroom juntam-se para tentar descobrir o que se passou.

Kimberly Reed, cineasta transgénero, conta aqui a história da também transsexual Venus e a jornada emotiva dos seus irmãos biológicos rumo a reabrir a investigação do seu homicídio. Todavia, e curiosamente, não é o facto da investigação esquecida ter sido retomada que mais se destaca em “I’m Your Venus”, mas antes tudo o resto que os irmãos de Venus e a sua casa drag fizeram para a honrar.

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Grandes vitórias póstumas no Queer Lisboa 2025

Queer Lisboa recebe I'm Your Venus
©Queer Lisboa

Com este filme e as ações daqueles que a amavam e admiravam, Venus teve direito a uma mudança de nome póstuma, bem como a uma alteração de nome na sua campa. O seu “deadname” nunca é referido ao longo de toda a obra, refletindo o cuidado que a cineasta queer teve no seu tratamento de Xtravaganza e da sua história. Mas depois de todos os passos que acompanhamos, o seu deadname também já não a caracteriza ou persegue em lado algum.

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Uma vitória que pode parecer pequena, quando traduzida por palavras, mas que é na realidade imensa e muito importante, em particular tendo em conta o momento triste que atravessamos, com direitos queer e trans a serem revertidos em países ocidentais influentes, como os EUA ou o Reino Unido.

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“I’m Your Venus” não é um grande filme do ponto de vista criativo, sendo um documentário bastante simples e pouco inventivo. E se, por um lado, temos pena que tal aconteça, não deixamos de valorizar muito esta obra pelo que é: uma extensão do universo de “Paris is Burning” e uma recuperação de uma vida curta que merece não ser esquecida.

Mesmo em termos de materiais, embora visitemos a casa de Venus e tenhamos acesso a novos objetos e fotos, a verdade é que a obra depende largamente de clipes editados de “Paris is Burning”. Aliás, não é exagerado dizer que o filme não resultaria sem esses mesmos excertos do documentário seminal da cena LGBTQIA+ de Nova Iorque.

Por tudo isso, “I’m Your Venus” conta mais pelos seus atos que pela sua arte: a união entre 3 homens cis e hetero de meia-idade a uma casa drag. Aqui, os irmãos de Venus aprenderam ativamente a respeitar uma comunidade sobre a qual sabem muito pouco e que têm dificuldade em entender.

E eis que o improvável acontece e vêmo-los a desfrutar de uma noite de imersão na cultura de Ball Room de NYC, que nos nos 2020 continua a ser impressionante, vibrante e única, como o filme ilustra numa das suas melhores sequências.

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Como combater a retórica de ódio…

O Queer Lisboa voltou, em 2025, a colocar em destaque as matérias mais relevantes para a sua comunidade, conseguindo equilibrar de forma perfeita a componente artística e as vertentes sociais e políticas. “I’m Your Venus” continua um esforço de defesa acérrima e tão necessária da comunidade trans num momento em que esta é repetidamente atacada.

Recordar Venus Pellagatti Xtravaganza e a sua jornada é importante, para que estes crimes hediondos nunca corram o risco de ser normalizados à medida que o discurso de ódio se intensifica, mais e mais, nos tempos conturbados que vivemos. O Queer Lisboa funciona como um antídoto perfeito para esta retórica inflamada e desumana.

Além disso, há que recordar que “I’m Your Venus” também pode ser desfrutado em casa, estando disponível no catálogo português da Netflix.

Em 2026, o Queer Lisboa, mais antigo festival de cinema da capital regressa com mais filmes, conversas e momentos de genuíno contacto humano.

I'm Your Venus

Conclusão

Com “I’m Your Venus”, uma figura icónica na cultura queer e trans é recuperada, recordada e honrada. Família biológica e família escolhida unem-se, debatem, chegam a um lugar privilegiado de compreensão e emocionam neste Queer Lisboa.

Este porto seguro, que é criado entre intervenientes tão distintos entre si, é um dos grandes marcos do documentário.

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