DocLisboa ’25 | Becoming Madonna – Análise
Madonna continua a ser, em 2025, a referência última da música pop – a “Rainha da Pop” e muito possivelmente a mais influente estrela do seu firmamento. “Becoming Madonna”, no DocLisboa, explora a sua jornada durante os seus primeiros dez anos de carreira com um retrato franco e que pinta a cantora, atriz e realizadora numa luz positiva e empolgante.
É difícil ver a celebridade para lá do pedestal. E embora Madonna já não edite um álbum verdadeiramente importante para a cultura pop há largos anos, a verdade é que a sua influência no mundo da música e na configuração daquilo que é uma estrela contemporânea, especialmente no feminino, é inegável.
Becoming Madonna: 10 primeiros anos de uma super-carreira
“Becoming Madonna”, de Michael Ogden, é muito inteligente por não se focar numa biografia extensa da vida da música, mas antes mostrando-nos o que foi necessário para que uma jovem irreverente e confiante fosse capaz de chegar ao estrelato.
Numa Madonna no início da casa dos 20, sozinha em Nova Iorque, vemos uma rebelde, uma não-conformista, uma artista mergulhada na cultura queer e acima de tudo uma corajosa capaz de quebrar todas as expectativas e afirmar-se, por si própria, uma e outra vez.
O retrato pintado em “Becoming Madonna”, sem grande surpresa, é extremamente positivo. Somos apresentados a uma jovem mulher orgulhosa de si própria, do seu valor, do seu trabalho e da sua sexualidade. Com a primeira apresentação ao vivo de “Like a Virgin” recordamos uma performance que quebrou todas as expectativas e chocou o mundo, mas que tornou também Madonna no ícone que continua a ser, hoje em dia, já na casa dos 60.
Por outro lado, conhecemos também as suas relações – a sua humanidade, a sua ligação profunda aos movimentos culturais underground em Manhattan e as suas amizades e relações românticas. Descobrimos também que, num mundo de preconceito, Madonna vocaliza até perder a voz a favor das causas que para ela mais significado têm.
Misoginia, HIV e música pop no DocLisboa 2025
Há uma secção gigante do filme dedicada à sua defesa da comunidade gay e angariações de fundo a favor da SIDA, uma doença que mostrou o que há de mais cruel na população heterossexual – o distanciamento face ao “outro”. Em “Becoming Madonna”, vemos como a estrela em ascensão se distanciou destes discursos corrosivos, de uma forma real, intensa, arriscada.
Hoje em dia, de Lady Gaga a Taylor Swift, o que não falta são estrelas pop que manifestam o seu apoio perante a comunidade LGBTQIA+. Mas, verdade dita, este apoio acaba muitas vezes por parecer performativo, feito com o intuito de garantir o amor por parte de um certo público-alvo, historicamente e também de momento, muito importante para a pop.
Compreendemos que para Madonna o apoio à comunidade queer foi muito mais do que isso, foi pessoal. Além disso, aprendemos tanto acerca da sua tenacidade. Sabemos que a cantora nunca aceitou que “não” fosse “não”, apercebemo-nos de que ensinou a ela mesma como tocar diversos instrumentos e que a composição musical e lírica sempre esteve presente, parte integrante do seu ser.
“O filme retrata Madonna como mais inteligente, mais radical e mais vulnerável do que se pensava na época”
Madonna não participa neste documentário, nem muitos dos membros da sua equipa, presente e passada. Antes ouvimos as suas vozes em entrevistas que serão, muito provavelmente, material de arquivo (entre alguns excluvisos). Mas tal não desvaloriza “Becoming Madonna“, pois o documentário não é senão bem construído, informativo e sempre repleto de imagens antigas da artista.
Vemos Madonna em criança, em adolescente, seguimos os seus primeiros tempos em Nova Iorque, sempre com o devido acompanhamento visual. Assim, o documentário é extremamente convencional, mas empolgante em igual medida.
Com a cantora percorremos uma década de loucura, do início da fama à subida aos tops, passando pelo infame casamento com Sean Penn. Tudo isto tratado com grande respeito pelos intervenientes e com uma qualidade estética nem sempre perfeita, mas sempre interessante.
“Becoming Madonna” pode ser um documentário que não arrisca, na narrativa ou formalmente, mas ensina-nos muito sobre uma grande estrela da pop e mais, mostra-nos que, no que toca ao preconceito e misoginia, já percorremos um longo percurso mas há ainda muito mais por desbravar…
O Doclisboa decorreu entre os dias 16 e 26 de outubro de 2025. Quanto às sessões de vencedores, acontecem no Cinema Ideal entre 27 e 29 de outubro. Quanto à próxima edição do Doc, sucede em 2026, mais precisamente de 15 e 16 de outubro, e terá a Grécia como país convidado.
Becoming Madonna - Análise
Conclusão
- “Becoming Madonna” é um retrato extremamente humano e empolgante da vida e ascensão artística da grande Rainha da Pop.
Overall
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