A Modista | A comunidade mais chique da Austrália

 

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Tão fenomenal como o glamouroso guarda-roupa de Kate Winslet em A Modista são as fabulosas criações que Marion Boyce concebeu para o resto do elenco.

Quando Tilly Dunnage chega a Dungatar, depois de quase 20 anos de ausência, ela é um píncaro de cor e luxo no meio da triste e arenosa visão de uma comunidade australiana durante o pós-guerra. A sua sofisticação de ares europeus nada tem a ver com as desenxabidas indumentárias da comunidade que em tempos a ostracizou. Ao longo do filme Dungatar sofre uma impressionante metamorfose, sendo os antiquados vestidos em baratos algodões florais e tons neutros substituídos por uma coleção de impressionantes obras de alta-costura, cujo luxo desafia a credulidade da audiência ao mesmo tempo que delicia.

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Conceber os figurinos para o elenco de A Modista, excluindo o guarda-roupa da protagonista, não foi tarefa fácil. Tomando inspiração da Dior, Balenciaga, Vionnet e até da casa Chanel, Marion Boyce criou mais de 300 conjuntos diferentes para este filme, sendo que muitas das mais luxuosas roupas tiveram de ser feitas completamente de raiz. O esforço deu os seus frutos, e A Modista é um dos filmes com mais estilo de 2015, tendo já ganho o prémio da academia australiana para Melhores Figurinos.

A Modista

O trabalho de Boyce na criação da comunidade de Dungatar antes da influência de Tilly é perspicaz e preciso, sem ser tão vistoso como a alta-costura que vem a encher as paisagens arenosas do filme. As personagens são eficazmente distintas, quase caricaturadas num estilo que reflete a abordagem cómica que a realizadora aplicou a esta história de vingança.

Mas, por muito primorosos que sejam os figurinos nessa primeira parte do filme, o verdadeiro espetáculo começa quando as mulheres de Dungatar começam a usar os serviços de modista de Tilly. De repente, a cidade desabrocha num desfile de alta-costura situado no meio do deserto australiano, com as várias personagens a vestirem conjuntos de crescente elegância. Numa ensandecida sequência, uma modista, que se torna numa espécie de rival de Tilly, chega a Dungatar e fica de boca aberta a observar a improvável coleção de luxuosas e elegantes vestes que cobrem as mulheres desta comunidade. Elas parecem estar vestidas para uma gala ou um elegante cocktail parisiense. A imagem da atriz Rebecca Gibney a trocar uma lâmpada envergando um comprido vestido de noite é particularmente hilariante no seu ridículo.

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A primeira pessoa de Dungatar a desfrutar dos talentos da modista titular é Gertrude (Sarah Snook). De patinho feio a diva, Gert é a única figura em A Modista que rivaliza com Winslet em questões de glamour. Um dos seus conjuntos, um vestido preto acompanhado de uma capa de organza plissada, é um dos mais fabulosos em todo o filme.

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Em contrapartida, Snook também enverga um dos mais pavorosos figurinos de A Modista, um horrendo vestido de casamento criado pela costureira rival de Tilly. No dia do seu casamento, no entanto, Gert veste uma criação de Tilly, assim como a maioria dos convidados que chegam à capela como se fossem estrelas de cinema a passar pelo tapete vermelho antes de uma estreia.

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O vestido de casamento inutilizado não é o único exemplo de comédia conseguida através das criações de Una Pleasance, a costureira rival, que vão de antiquadas e feias, a insultos a qualquer noção de elegância. Os figurinos que ela concebe para uma representação de Macbeth aquando do clímax do filme são de particular horror e gozo, apresentando uma amadorista mistura de elementos barrocos, rococós e renascentistas sem qualquer racionalidade ou harmonia.

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Três figuras pertencentes a esta comunidade, que não apresentam a mesquinhez e hipocrisia da generalidade das personagens de A Modista, são o Sargento Farrat (Hugo Weaving), Molly Dunnage (Judy Davis), a enlouquecida mãe de Tilly, e Teddy (Liam Hemsworth), o interesse romântico da protagonista. Em relação a este último há pouco a dizer, visto que as suas roupas são maioritariamente utilitárias e sem grandes elementos de destaque. Poder-se-á mesmo afirmar que o seu mais icónico figurino são um par de boxers de algodão que preservam a modéstia do ator numa hilariante cena em que Tilly lhe tira medidas para um fato.

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Farrat, que é secretamente um travesti, veste maioritariamente o seu uniforme da polícia, a não ser em momentos a sós com Tilly e Molly, com a exceção da sua última cena em que o sargento emerge de sua casa vestido como um esplendoroso toureiro.

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Molly passa quase toda a duração de A Modista em andrajosas roupas, que parecem ser da época antes de Tilly ter sido expulsa da comunidade. Tal como Farrat, também o seu guarda-roupa tem uma declarativa exceção que é o único fato que Tilly cria para a mãe. Ao contrário do resto das roupas que a modista concebe para as mulheres de Dungatar, este fato preto, com os seus chumaços e linhas direitas, parece delicadamente sugerir o estilo da década anterior, como se Tilly estivesse a retificar os anos de solidão e negligência que a sua mãe sofreu durante a ausência da filha.

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A Modista é um filme em que o estilo e a moda tomam lugar de destaque e o seu vestuário é apropriadamente fabuloso. Para apreciadores da estética dos anos 50 e amantes de glamourosos figurinos, o filme será uma delícia indispensável. Não percas!

 

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