A Vida Secreta dos Nossos Bichos, em análise
A Vida Secreta dos Nossos Bichos vem mostrar que a Illumination Entertainment não depende apenas de uns certos bonequinhos amarelos para construir um filme de animação que entretém tanto miúdos como graúdos.
Foi em 2010 com Gru – O Mal Disposto que a produtora Illumination Entertainment atingiu o mundo dos grandes da animação na indústria cinematográfica. Apenas 3 anos após a sua fundação por Chris Meledandri, ninguém imaginava que aqueles pequenos ajudantes amarelos, que não eram nem o foco principal do filme, iriam ganhar fama mundial quase ao nível de verdadeiras estrelas de cinema, e iriam levar a produtora ao enorme sucesso que tornou possível a continuidade em campo desta pequena filha da Universal Pictures, comparativamente a gigantes como a Pixar – não há como não mencionar que o filme Mínimos de 2015 arrecadou a 11ª maior bilheteira de todos os tempos na história do cinema.
E como não podia deixar de ser, pudemos contar com mais uma pequena história com mínimos a preceder o filme que nos levou ao cinema, na curta-metragem Mínimos e o Corta-Relva. Como sempre, prontos a arrancar gargalhadas ao público independentemente da idade, em mais uma pequena aventura característica da sua forma de ser desastrada e com muita linguagem “minion” à mistura.
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No entanto, e como uma produtora não deve ser construída apenas por um sucesso (Hop e Lorax não tiveram a atenção desejada) a aposta este ano foi em algo diferente: uma animação acerca da vida secreta dos nossos animais de estimação a partir do momento em que saímos de casa. Uma premissa interessante e cativante com a qual qualquer pessoa que possua um animal de estimação se consegue facilmente identificar, apelando ao desconhecido acerca do dia-a-dia deles – torna-se fácil convencer uma criança que o seu cão fala com os cães dos vizinhos quando ela não está; ideia esta que foi primeiramente explorada por Toy Story da Pixar, se alterarmos o alvo de enfoque de animais para brinquedos.
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Mas A Vida Secreta dos Nossos Bichos não se restringe à ideia principal, explorando depois a forte ligação entre um cão (Max, destacado claramente como a personagem principal) e a sua dona, e o elemento perturbador dessa paz: Duke, o novo e rebelde cão, visto como uma ameaça – fazendo lembrar, de novo, Andy e Buzz em Toy Story. Rapidamente os dois animais se envolvem em problemas – que justificam a duração do filme que caso contrário não conseguiria ser apenas sustentada pela ideia geral -, que os levam aos esgotos de Manhattan onde encontram um grupo de animais abandonados liderados por um coelho branco, o antagonista Bola de Neve, mais adorável do que temível. Este é o momento cliché, em que os dois inimigos têm de unir forças contra um inimigo maior, e que já vimos em tantos outros filmes desta categoria ou não; não retira nem um pouco de entretenimento ao filme, no entanto os valores referenciados continuam a ser “a união faz a força” e as variável dos amigos improváveis que no início não gostam nada um do outro mas percebem que afinal podem dar-se bem devido a terem um objetivo comum, deixando a previsibilidade destes fatores.
Observa-se ainda a interação entre outros tipos de animais de estimação, podendo os espectadores rever neles os mais puros estereótipos como se de humanos se tratassem, e levando a picos de comédia associados à proximidade que temos aos ditos animais – sendo neste o caso mais flagrante a gata Chloe, desenhada como preguiçosa e indiferente a tudo e todos e ficando como uma das contribuições mais fulcrais para a conotação do filme como comédia. Existem três histórias a ocorrer em simultâneo, que no entanto se tornam muito fáceis de acompanhar tal é a fluidez com que a narrativa está construída.
A tecnologia 3D, no entanto, é um ponto de extrema importância de focar. Ultimamente temos assistido a um pico de grande utilização desta tecnologia, sendo grande parte dos filmes produzidos tanto em 2D como 3D de modo a tirar proveito do melhor que esta descoberta tem para oferecer, assim como para chamar mais espectadores às salas de cinema ainda que possa ser apenas pela perspectiva de ter uma experiência diferente da de casa. Na verdade, em muitos deles não sentimos assim tanto a magnificência do 3D comparativamente a uma versão normal, tirando uma ou outra cena rodada propositadamente para que caia alguma coisa no ecrã ou nos sintamos mais próximos dos protagonistas. Em A Vida Secreta dos Nossos Bichos o 3D prova-se como uma mais valia para a experiência, pois além da animação de extrema qualidade e correção (de novo, ao nível dos maiores nomes da animação mundial), existe uma proximidade entre o espectador e o ecrã como nunca antes visto num filme de animação – enorme destaque para as cenas no esgoto com a víbora, que fazem qualquer espectador colar à cadeira de tão real que se torna a experiência.
A Vida Secreta dos Nossos Bichos consegue o equilíbrio entre uma ideia que peca pela falta de originalidade mas é desenvolvida de forma única, com muitos adoráveis amigos de quatro patas em grande destaque, sendo o produto final um filme ideal para crianças, aceitável para adultos – com um tema e narrativa mais infantilizadas do que outros projetos recentes como Divertida-mente, deixando que a Disney-Pixar numa inevitável comparação continue mais inovadora -, mas que qualquer adulto poderá ver e nenhuma criança irá desdenhar.
O MELHOR – A animação e a tecnologia 3D, sem falhas.
O PIOR – Ideia não totalmente inovadora e que não permite construir uma longa-metragem sem outras narrativas em interação.
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Título Original: Secret Life of Pets
Realizadores: Chris Renaud, Yarrow Cheney
Elenco: Louis C.K., Eric Stonestreet, Kevin Hart, Bobby Moynihan, Albert Brooks, Ellie Kemper, Hannibal Buress
NOS Audiovisuais | Comédia, Animação | 2016 | 87 min
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