Harry Lloyd | © HBO Portugal

Admirável Mundo Novo | À conversa com Harry Lloyd

Depois de ter entrado em séries como “Guerra dos Tronos,” “Legion” ou “Counterpart”, chegou a vez de Harry Lloyd mergulhar num “Admirável Mundo Novo”. A convite da HBO Portugal, fomos conhecer o ator que dá vida a Bernard Marx e falar sobre a sua experiência na nova adaptação do clássico de Aldous Huxley. 

Enquanto cidadãos de Nova Londres, Bernard Marx (Harry Lloyd) e Lenina Crowne (Jessica Brown Findlay) até à data só conheceram uma ordem social rígida, um medicamento perfeito chamado “Soma” e uma cultura de gratificação instantânea e relações sexuais omnipresentes. Curiosos para explorar a vida além das restrições da sociedade em que vivem, os dois viajam para as Terras Selvagens, onde se envolvem numa rebelião angustiante e violenta. Bernard e Lenina são resgatados por John (Alden Ehrenreich), que foge com eles de volta para Nova Londres. A chegada de John ao Novo Mundo ameaça comprometer a paz e a estabilidade da sociedade utópica, deixando Bernard e Lenina a lidar com as repercussões. Os três desenvolvem uma relação difícil que os desperta para os perigos do seu próprio condicionamento.

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Já conhecia o clássico de 1932 “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley antes de conseguir o papel de Bernard Marx?

HARRY LLOYDNão conhecia o livro, algo de que me sinto envergonhado tenho em conta que estudei Literatura Inglesa na Faculdade. Mas, por um lado, esse aspecto permitiu-me ler os primeiros dois episódios sem qualquer influência, sem saber o que era original e o que era novo. Lembro-me que pensei que era algo muito diferente e inteligente, mas também muito divertido. Só queria fazer parte do projeto, teria interpretado qualquer personagem.

Qual foi a questão filosófica que mais o intrigou no livro?

HARRY LLOYD: Creio que uma das maiores questões filosóficas que o livro e a série levantam prendem-se com a relação entre a felicidade e a liberdade. Serão estas pessoas realmente felizes quando não fizeram nenhuma escolha por si e sem nunca terem sentido dor? Será isso felicidade? E a população das Reservas Selvagens são livres até um certo ponto, mas não são felizes. Por isso, penso que estas são as questões centrais  e impossíveis de responder, logo são as boas.

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Ainda que seja um Alpha Mais e conselheiro, Bernard transparece emoções que tem de esconder se quer sobreviver | © HBO Portugal

O que nos pode dizer sobre Bernard Marx?

HARRY LLOYD: De uma certa forma, o Bernard é o embaixador deste mundo. Embora ele próprio tenha dificuldades em compreender as regras da sociedade e se sinta estranho devido às novas emoções que está a experienciar. Porém, ele também é a nossa forma de entender como tudo funciona. Como é que as pessoas nascem, como interagem, o que fazem os comprimidos, quais as consequências do sexo ubíquo. Os espectadores vão ter de gostar de passar tempo com ele, porque vão receber muita informação dali.

Quero que o público compreenda que estas pessoas são humanos, não são robots automáticos. São pessoas que foram condicionadas e que vivem de um modo peculiar, mas continuam a sentir o mesmo que nós. Apenas têm uma perspetiva diferente, por isso foi importante para mim explorar o Bernard e tentar que ele estivesse sempre otimista sobre tudo. Tentar encontrar a felicidade e ao mesmo tempo tentar transparecer um pouco que não o estava a conseguir. Que no fundo ele é impulsivo, jovem e diplomata.

O que torna a série única ou diferente de todas as outras que exploram um mundo distópico e sci-fi? 

HARRY LLOYD: Penso que o ponto de partida é muito diferente da maioria dos dramas distópicos. Para começar, é uma utopia. É perfeito. Acertamos. Finalmente, conseguimos resolver a ansiedade e sofrimento humano, livramo-nos da dor. É ótimo, não existe drama, não existe mais histórias para contar. Contudo, é precisamente este conceito que vamos desafiar, explorar e romper. É essa a nossa narrativa. Desta forma, ao invés de começarmos pelo lado terrível, remediamo-lo. Contudo, para que isso fosse possível, tivemos de mudar o modo como vivemos. E a que preço? Como nos irá afetar? Onde se traça o limite? Estas são as perguntas que iremos colocar, por isso neste sentido começámos de forma inversa da maioria dos dramas distópicos.

Embora Bernard domine as emoções de todos através dos comprimidos Soma, conseguimos perceber que o próprio tem algumas falhas no sistema. Como é que isso o irá afetar no decorrer da série?

HARRY LLOYD: Embatemos numa contradição com o Bernard, que é algo que ele estar a lutar no primeiro episódio. A questão é que, sim, ele é um Alpha Mais. É um conselheiro e tudo corre como planeado. Ele castiga Lenina (Jessica Brown Findlay) por ter uma relação monógama, o que não é permitido. E ao mesmo tempo vêmo-lo a observar a sua tristeza e como isso lhe desperta curiosidade.

O nosso primeiro pensamento é “ok, ele é um hipócrita”. Ele lida com os dois lados. Se por um, tenta desesperadamente enquadrar-se e ser o Alpha Mais, por outro quer explorar esta falha, esta vontade que ele não consegue definir, o que o liga a Lenina, que também sente o mesmo dilema. É aqui que tudo começa.

Creio que o podemos descrever como alguém que está à procura de amor, mas que não sabe o que o amor é. Bernard sente a falta de algo, por isso compensa em demasia com o que conhece, o que o leva a tomar grandes decisões. É um personagem que acaba um homem diferente daquele que entrou, porque foi desafiado. Ele nunca tinha sentido dor, situação que será bastante invertida nesta primeira temporada.

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Quais foram os maiores desafios em interpretar Bernard?

HARRY LLOYD: A primeira coisa é tentar entrar neste mundo e tentar estar o máximo confortável com as regras. “Sentiria-me assim”. “É-me permitido sentir triste nesta cena?” “Não, mas se eu me sinto triste, será que o transpareço?” Há uma cena, no primeiro episódio, onde o Bernard diz uma coisa e imediatamente quase que se arrepende. Penso que essa foi uma das partes mais difíceis, definir os personagens no primeiro episódio, compreender como se sente, o que fazem com determinada informação? Isso acabou por ser a pergunta durante toda a série. E é algo que podemos interpretar de muitas formas diferentes.

Os cenários, locais de filmagem são deslumbrantes, onde gravaram?

HARRY LLOYD: Só o facto de me perguntar “Onde no mundo é que filmaram?”, significa que acertamos. Porque a grande maioria da série foi gravada em soundstage. Muitos destes cenários incríveis que vemos foram construídos e quando parece que estávamos sem espaço, continuaram a construir. Lembro-me de algumas cenas no meu apartamento em que ainda conseguir sentir o cheiro da tinta.

Trabalhou com praticamente todos os membros do elenco. Como foi trabalhar com tantos atores de diferentes backgrounds?

HARRY LLOYD: Sou um felizardo por ter tido cenas individuais com praticamente todos, o que é um caso raro. Normalmente, eu sou o rapaz que chega, grava umas quantas cenas e vai-se embora. Por isso, estar no centro desta grande, fantástica e diversificada família de personagens, foi magnifico. Adorei a experiência. No entanto, os três amigos da vida airada eram eu, a Jessi (Jessica Brown Findlay) e o Alden (Ehrenreich). Felizmente, demo-nos bem logo desde o primeiro dia. Antes das filmagens começarem em Londres fomos jantar com o David (Wiener, criador da série) e alguns produtores e foi tudo muito fluído. Somos os três bastante diferentes enquanto atores, mas também somos sérios e trabalhamos arduamente. Ficávamos boquiabertos com estes cenários enormes e centenas de extras em condições surreais. Espero que o consigamos repetir.

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Demi Moore em “Admirável Mundo Novo” | © HBO Portugal

Como foi trabalhar com Demi Moore?

HARRY LLOYD: O terceiro episódio foi muito divertido de gravar porque foi todo à noite e no exterior, e durante grande parte dele éramos nós os quatro – eu, a Jessi, o Alden e a Demi – todos a correr no meio da noite, por isso foi muito engraçado. Foi como acampar, quando fazes jogos estranhos para ficar acordado e bebes um chocolate quente às 3 da manhã. Dei-me especialmente bem com a Demi porque ela apaixonou-se pelo meu cão. Ela tem montes de cães em Los Angeles e não os conseguiu trazer. Eu tinha a minha pequena Pomchi, a Zoe, sempre comigo e ela adora passeá-la. Às vezes, dava por elas enroscadas na rolote dela cobertas por boas mantas. Eram melhores amigas.

Passaria tempo neste “Admirável Mundo Novo”? Qual seria a sua parte favorita e aquela que menos gostaria?

HARRY LLOYD: Gostaria definitivamente de visitar a Nova Londres, simplesmente pela curiosidade de ver como seria. Mas não creio que quisesse viver lá. Durante um fim-de-semana com uns quantos Somas, talvez, não é preciso fazer nada. É como se fossem umas férias, o que justifica porque é que não conseguirias viver lá sem rejeitar uma grande parte de ti. Conseguia negar uma parte de mim durante um fim-de-semana. A minha parte favorita seria, sem dúvida, experimentar o Soma. Só para ver como funcionava. A que menos gostaria é, provavelmente, não ser permitido andar sozinho. Seria estranho estar constantemente distraído, sem poder sentar-me e avaliar, ponderar as coisas por mim. Na minha opinião seria bastante depressivo.

 

A primeira temporada de “Admirável Mundo Novo” já se encontra disponível na HBO Portugal.

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