Dor e Glória © El Deseo

Antonio Banderas | Os filmes essenciais

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Antonio Banderas oferece um dos seus melhores papéis em “Dor e Glória”, por essa razão a MHD desvenda os filmes essenciais do ator espanhol. 

Todos conhecem Antonio Banderas, o ator espanhol convidado por Hollywood para interpretar personagens heróicas, românticas e guerreiras, que, de alguma forma, transmitem a fixação do cinema americano pelo corpo masculino. Hoje, aos 59 anos acabados de cumprir (o ator nasceu a 1o de agosto de 1960, em Málaga), Banderas é um homem noutra etapa da sua vida e que, portanto, desempenha personagens mais maduras, mas também mais frágeis, sem nunca despojar-se do seu estatuto de galã.

É isso que acontece, obviamente, no seu mais recente desempenho prestado em “Dor e Glória” (título espanhol “Dolor y Gloria”), na pele de um realizador a caminho da meia-idade que não é mais do alter-ego do seu próprio cineasta: Pedro Almodóvar. Este filme confessional e (auto)biográfico de Almodóvar, arrisca mesmo a ser nomeado aos Óscares de Hollywood no início do próximo ano, depois de ter feito tamanho sucesso em Cannes, onde levou o galardão de Melhor Ator para Banderas.

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Quando exploramos a carreira de Antonio Banderas já encontrávamos personagens tão solitárias como este seu Salvador Mallo, sobretudo nos filmes de Almodóvar, com quem conta com um total de 8 colaborações. Em “Dor e Glória”, estreado agora em Portugal, Banderas encarna Mallo com a vulnerabilidade e fragilidade que a personagem exige, expondo as dores e as suas glórias pessoais, profissionais e até familiares, à medida que revisita e se reencontra com o passado (o primeiro desejo, a primeira memória, o primeiro amor, em suma, a criação da identidade).

Dolor y Gloria
Antonio Banderas e Leonardo Sbaraglia em Dolor y gloria (2019) © El Deseo

Antonio Banderas mostra-nos, de certo modo, uma personagem que embora ferida pela vida, não deixa de sentir uma espécie de melancolia quando relembra momentos que jamais voltará a experienciar. Destaque-se ainda a sua relação com a mãe (interpretada na versão jovem por Penélope Cruz e na versão mais velha por Julieta Serrano), memória amarga, mas que não deixa de ser chave para a trama.

Desta forma, para celebrar a estreia de “Dor e Glória” (escolhido por Espanha como candidato aos Óscares 2020), a MHD apresenta uma lista eclética de sugestões dos melhores filmes com Antonio Banderas, dedicada aos fãs do ator. Os trabalhos, que vão desde suas melhores colaborações com Almodóvar até seus maiores sucessos em Hollywood, provam que Antonio Banderas é um dos atores mais versáteis e interessantes, cuja carreira estende-se também para o teatro e moda.

Os filmes essenciais de Antonio Banderas são apresentados por ordem alfabética, sem qualquer ordem de preferência.




A Lei do Desejo (1987), de Pedro Almodóvar

Lei do Desejo
Antonio Banderas e Eusebio Poncelo em “A Lei do Desejo” © El Deseo

As colaborações de Antonio Banderas e Pedro Almodóvar começaram nos anos 80 e dominam grande parte da carreira do ator de Málaga, sendo realmente impossível não começar a lista com um dos seus primeiros projetos lado a lado. Depois da sua estreia no cinema com “Pestañas postizas” (1982), de Enrique Benlloch, Banderas faria imediatamente um filme com Almodóvar: “Laberinto de pasiones” (1986), aos quais se seguiram “Matador” (1986) e este “A Lei do Desejo” (1987), um dos filmes espanhóis mais vibrantes da sua época, que tratava questões até então pouco vistas: o tema do desejo sexual entre dois homens.

Em “A Lei do Desejo”, o primeiro filme de Almodóvar lançado com o signo da sua produtora El Deseo, Antonio Banderas é Antonio, um homem que se apaixona pelo realizador Pablo (Eusebio Poncela), que aos poucos começa a tornar-se obcecado, quando Pablo considera o envolvimento entre ambos uma mera aventura. Talvez a personagem de Antonio fosse pouco comum para a época para conseguir lançar a carreira de um ator (Banderas tinha 27 anos),  mas certamente toda a estética de Almodóvar (tão perversa, quanto emotiva) e o facto de abordar os anos da mítica “Movida Madrileña”, tornam este filme num dos mais amados pelos fãs do ator.




Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988), de Pedro Almodóvar

Antonio Banderas
© El Deseo

“Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988) é um filme sobretudo sobre mulheres (as mulheres dos anos 80 que representam as mulheres da vida de Almodóvar), mas é também uma comédia sobre o confronto das mulheres com vários homens. Na verdade, na tentativa de alcançar um equilíbrio entre a representação dos homens e a das mulheres, a escrita almodovariana atinge, em alguns momentos, tons de burlesco e humor, em muito graças ao modo excessivo como trabalha essa dicotomia.

Um dos homens da trama é precisamente Carlos, interpretado por Antonio Banderas. Carlos ocupa um lugar central na história como um jovem desesperadamente atraente, mas bastante ingénuo, que é  completamente dominado pela sua noiva agressiva.

Este foi o quarto filme de Banderas com Almodóvar, responsável por lançar ambos os nomes à escala mundial – o filme chegou mesmo a ser nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.




Ata-me! (1989), de Pedro Almodóvar

Antonio Banderas
Ata-me! © El Deseo

O amor também é correspondido à força, num filme bastante visual (a certo modo masoquista) de Pedro Almodovar: “Ata-me” (1989).  Nesta comédia dramática, os elementos cómicos, policiais e românticos, próprios do realizador espanhol, estão completamente entrelaçados. Além disso, este filme de Almodóvar toma o cinema como pano de fundo, tal como já acontecia em “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”.

O filme conta a história de uma atriz, Marina (Victoria Abril), que é inesperadamente raptada pelo mentalmente instável Ricky (Antonio Banderas). Banderas não representa a personagem pensativa e sensível que vemos em “Dor e Glória”, mas sim um homem verdadeiramente ‘pré-histórico’, no sentido em que a sua imaturidade fá-lo aprisionar e amordaçar a protagonista feminina. Poderíamos dizer que Ricky é o símbolo ferido de geração em mudança, ou seja, um homem que está entre a representação do patriarcado conservador e a representação do homem moderno: que não se quer deixar vencer pelas mulheres.

Curiosamente, o filme subverte as relações amorosas como perceptíveis no cinema de Hollywood e mostra que o homem e a mulher na sua verdadeira natureza. Aqui o discurso não é tanto dar voz às mulheres e aos pensamentos pró-feministas, mas antes de mostrar que na sociedade o prazer sexual é o verdadeiro mote dos relacionamentos. Tudo é levado ao extremo, à sátira e à ironia, e Banderas e Abril representam tudo isso com perspicácia. Afinal estes são dois jovens atores que queriam impor o seu lugar na cinematografia do seu país.




Filadélfia (1993), de Jonathan Demme

Antonio Banderas
Filadélfia © TriStar Pictures

Embora “Filadélfia” seja sobretudo lembrado por valer a Tom Hanks o Óscar de Melhor Ator, ao representar um advogado que é despedido do seu escritório, depois de saberem sobre o seu caso de SIDA, este foi também um dos primeiros filmes de Antonio Banderas em terras americanas (para o seu primeiro filme “The Mambo Kings” [1989], aprendeu as suas falas foneticamente).

Realizado pelo aclamado cineasta Jonathan Demme, Antonio Banderas representa Miguel Alvarez, o namorado de Beckett, personagens importantes em Hollywood dos anos 90, no sentido em que serviram para romper com todos os mitos e estigmas gerados em torno da doença, demasiadas vezes associada à homossexualidade.

Banderas representa de forma bastante comovente, Miguel, um homem que assiste pouco a pouco ao fim da vida do seu amante. Recentemente Antonio Banderas afirmou que o filme abriu portas à representatividade de pessoas LGBTQ no cinema de Hollywood, além da representação da temática da SIDA que poucos na indústria falavam abertamente.




Entrevista com o Vampiro (1994), de Neil Jordan

Entrevista Com o Vampiro
Antonio Banderas em Entrevista Com o Vampiro © Geffen Pictures

Embora a adaptação de Neil Jordan do romance de Anne Rice seja poucas vezes lembrado, “Entrevista com o Vampiro”, estreada há 25 anos atrás, está recheado de erotismo e a personagem de Antonio Banderas é sinónimo disso mesmo. Banderas veste a pele de um vampiro sensual e sedento Armand, uma das personagens secundárias desta história que segue Malloy (Christian Slater), um curioso jornalista, que entrevista um misterioso homem que lhe chamou a atenção na rua, e que na verdade é um vampiro do século XVIII.

Antonio Banderas é, assim, colocado lado no mesmo filme com as estrelas galãs do cinema Brad Pitt e Tom Cruise, num filme que definiu as histórias sobre os vampiros ao misturar o mistério e a sensualidade que a figura apela, ao mesmo tempo que presta homenagem a obras como “Nosferatu” (1922), de F. W. Murnau. O filme lançaria ainda a carreira de uma atriz: Kirsten Dunst, nomeada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Secundária com apenas 12 anos.




Desperado (1995), de Robert Rodriguez

Antonio Banderas
Antonio Banderas, Carlos Gallardo, e Albert Michel Jr. em Desperado © Columbia Pictures

Obviamente que o segundo filme da “Mexico Trilogy” realizada por Robert Rodriguez não é nenhuma obra-prima do cinema, muito embora seja recomendável pela personagem de Antonio Banderas, que surgiria também no terceiro capítulo, “Era Uma Vez no México” (2004). Depois de “El Mariachi” (1992), Rodriguez coloca Antonio Banderas no papel de mariachi em busca de vingança pela morte da mulher, com cenas de ação bastante intensas.

“El Mariachi”, marcado pela fatalidade e pelo destino, leva consigo um estojo de guitarra cheio de armas e afunda-se no obscuro mundo da criminalidade. Seguindo a pista sangrenta que o leva até ao infame Bucho, o responsável pela morte da sua mulher e pelo tiro na mão que o impede de tocar, adivinha-se um tremendo confronto de pólvora, sangue e acção imparável. Este é o papel em que Antonio Banderas aparece mais atraente do que nunca (depois de “O Gato das Botas”, obviamente), onde faz par romântico com Salma Hayek, a ex-namorada do criminoso que persegue (um papel entregue ao português Joaquim de Almeida).

O primeiro filme com produção hollywoodesco protagonizado por Antonio Banderas provou ser um sucesso de bilheteira, com mais de 25 milhões de dólares arrecadados nos cinemas norte-americanos. Puro entretenimento, o filme teve a sorte de ter sido apresentado no Festival de Cinema de Cannes na secção Fora da Competição.




Evita (1996), de Alan Parker

Antonio Banderas
Antonio Banderas e Madonna em “Evita” © Cinergi Pictures Entertainment

Uma das produções mais problemáticas da história recente do cinema americano conta com Antonio Banderas num dos papéis principais. Após um longo processo de pré-produção— o projeto teve vários potenciais realizadores e esteve para arrancar diversas vezes ao longo de mais de dez anos —, Alan Parker assumiu as rédeas do musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, colocando Banderas ao lado da Rainha da Pop, Madonna.

Antonio Banderas é a mítica figura marxista Che Guevara, que conta a história de Eva Duarte de Perón (Evita), uma mulher que saiu da pobreza para se tornar uma atriz argentina e esposa do poderoso presidente Juan Domingo Perón, mas que acabou por falecer muito cedo com apenas 33 anos. A personagem de Banderas é um elemento chave da trama, ao enquadrar as situações num contexto social, político e cultural.

Antonio Banderas entrega-se à sua personagem, cantando como mais ninguém (o ator esteve associado à produção da Broadway “Nove”, mais tarde adaptada ao cinema por Rob Marshall com Daniel Day-Lewis). Além disso, e facto curioso, é que o verdadeiro Che Guevara era um mero adolescente quando os Perón chegaram ao poder, no entanto a personagem representa bem a diferença de classes transposta no amor entre as personagens de Banderas e Madonna.

Esta esplendorosa produção acabaria por vencer 3 Golden Globes (Melhor Filme – Comédia ou Musical, Melhor Atriz – Comédia ou Musical e Melhor Canção Original), o Óscar da Academia (Melhor Canção Original), entre outros prémios entregues em Hollywood.




A Máscara de Zorro (1998), de Martin Campbell

Antonio Banderas
A Máscara de Zorro © Amblin/Columbia-Tri-Star

Oito anos antes de reinventar a série 007, Martin Campbell rejuvenesceu outra mítica personagem: Zorro, depois de ter sido interpretada por Douglas Fairbanks Sr. ainda durante o cinema mudo, e nos anos 50 por Guy Williams.

Neste projeto, produzido por Steven Spielberg, seguimos Don Diego (Anthony Hopkins) que depois da sua esposa ser assassinada e a sua filha levada pelo seu maior inimigo, passa mais de 20 anos na prisão. Quando consegue fugir, toma Alejandro Murrieta (Antonio Banderas), um ladrão com um passado problemático, como pupilo a fim de transformá-lo num novo Zorro e, com isso, vingar-se daqueles que lhe fizeram mal.

“A Máscara de Zorro” foi um filme de enorme sucesso da crítica e do público, sobretudo pela química desenvolvida entre Banderas e Catherine Zeta-Jones (as suas cenas juntos são mesmo as melhores e as mais deliciosas), mas também pelo olhar nostálgico sobre aventuras do faroeste da Era Dourada, com um toque de comédia e de modernidade. O filme explora muito bem o confronto entre os espanhóis e os americanos, aquando da expansão para o Oeste estes últimos.

O filme obteve 250 milhões de dólares a nível global, algo surpreendente se compararmos com o seu orçamento de 65 milhões de dólares. O resultado foram duas nomeações para os Óscares em categorias técnicas. Por fim, “A Máscara de Zorro” teve direito a uma energética sequela, “A Lenda de Zorro”, também realizada por Campbell e estreada em 2005, que apesar de não ter tido o mesmo sucesso provou o talento de Antonio Banderas atrás desta personagem tão emblemática.




Shrek 2 (2004), de Andrew Adamson, Conrad Vernon e Kelly Asbury

Antonio Banderas
O Gato das Botas teve direito a um spin-off estreado em 2011 e titulado “O Gato das Botas” © DreamWorks Animation

Se Zorro fosse um animal, certamente o seria o Gato das Botas, muito embora Zorro seja uma personagem criado em 1919 pelo escritor norte-americano Johnston McCulley e o Gato das Botas uma personagem mais velha surgida no conto de fadas “Les contes de ma mère l’Oye”, do francês Charles Perrault, e publicado em 1697.

No entanto, as personagens assimila-se pelo facto de serem interpretadas pelo mesmo ator: Antonio Banderas. O Gato das Botas de Banderas surge pela primeira vez em “Shrek 2” (2004), um herói fugido de San Ricardo. Embora seja uma interpretação num filme animado, deveremos dizer que este foi um dos melhores desempenhos da carreira do ator (senão mesmo das melhores dobragens em cinema de animação), tornando-se uma das personagens secundárias mais amadas de sempre.

Isto porque, a voz do gato (o seu sotaque espanhol e aqueles olhos ternurentos), assim como as suas trapalhices e momentos cómicos, são algo tão magistral que não conseguimos ver outro ator senão Banderas a interpretá-lo. A personagem ajudou mesmo a aumentar a popularidade de Shrek, voltando a aparecer em “Shrek, O Terceiro” (2007) e “Shrek Para Sempre” (2010).

Não esqueçamos também o spin-off da DreamWorks Animation, “O Gato das Botas”, em que Banderas volta a colaborar com Salma Hayek, e que seria nomeado ao Óscar de Melhor Filme de Animação.




A Pele que eu Vivo (2011), de Pedro Almodóvar

Antonio Banderas
A Pele Onde Eu Vivo © Sony Pictures Classics

Não é só com “Dor e Glória” que Antonio Banderas apresenta uma das suas melhores interpretações num filme de Almodóvar. Também em “A Pele Onde Eu Vivo”, a 7ª colaboração entre os artistas, apresentava um trabalho intenso de criação de personagem. Na verdade, este é mesmo um dos desempenhos mais negros e sinistros do ator espanhol.

22 anos depois de colaborarem juntos pela última vez em “Ata-me”, Antonio Banderas e Almodóvar juntam-se para contar a história de um criador amoral: um cirurgião plástico que cria uma nova pele à imagem da mulher morta depois de um acidente que a deixou queimada. Tudo isso fá-lo aplicando ao corpo de uma bela mulher que ele mantém refém.

O olhar masculino de Almodóvar e a sexualidade são ainda levadas ao excesso, típico do cineasta, mas um de ponto de vista demasiado perverso e até delirante. Antonio Banderas é aquela parte de Almodóvar reflexiva que quer expulsar os seus fantasmas da sua mente e que faz de tudo para os materializar. Antonio Banderas representa esse homem à procura do corpo do outro que já não existe.

Baseado na obra de Thierry Jonquet, “Mygale”, “La Piel que habito” não deixa de evocar uma memória clássica do cinema de criação de “Monstros” – “Frankenstein” (1931), de James Whale talvez seja a aproximação mais imediata -, por muito que trate de gerar alguma repulsa junto do espectador.

Qual é o teu filme preferido de Antonio Banderas? Também és fã de um dos filmes desta lista? Não percas “Dor e Glória”, num dos cinemas perto de ti. 

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