Argo, em análise

 

Título Original: Argo

Realizador: Ben Affleck

Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin e John Goodman

Género: Thriller, Drama

CTW | 2012 | 120 min

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O petróleo e o dinheiro. Sempre o petróleo e o dinheiro. É o binómio dominante na esmagadora maioria dos conflitos sociais e políticos entre as nações. É isso que nos é explicitado com clareza no prólogo de “Argo”. Mas, incrivelmente, isso é o que menos importa.

Ben Affleck opta, e muito bem, por expor factos, nunca atribuindo culpas nem a gregos nem a troianos. Aqui não há o herói e o vilão. Porque tanto americanos como iranianos gozam de ambas as condições. Interessa apenas contextualizar a situação de quase reféns de seis membros da embaixada americana no Irão e mostrar como foi feito o triunfante resgate.

Livre de patriotismos desmedidos e longe dos lugares comuns onde os países do Médio Oriente são os maus da fita, e os americanos os heróis da humanidade, Ben Affleck, auxiliado por um grandioso argumento de Chris Terrio, constrói aquele que é indubitavelmente um dos melhores filmes deste ano.

Sejamos diretos: é um filme sobre a criação de um filme que afinal nem é um filme e que serve de pretexto para que seis membros da embaixada americana no Irão sejam trazidos de volta para as terras do Tio Sam. Seis membros que se encontram escondidos na residência do embaixador canadiano e que escaparam a uma invasão de revolucionários iranianos à embaixada norte-americana.

Afinal, como é que seis americanos escapavam a um Irão sedento de gentes das Américas? Fugiam de bicicleta num Inverno rigoroso? Tornar-se-iam professores estrangeiros num momento onde o Irão não admitia cidadãos forasteiros para a educação da sua população? Transformar-se-iam em ambientalistas à procura de terras de cultivo em terrenos onde domina a neve? Tudo opções mais do que falhadas e humoradamente apresentadas no início do filme.

A história verídica de “Argo”, um antigo segredo de estado americano, torna estes seis reféns em membros de uma equipa de filmagens de um filme de ficção científica canadiano passado no exótico Médio Oriente. Absurdo? Talvez. Mas possivelmente uma das mais vitoriosas ideias da CIA nos últimos tempos. Ou, pelo menos, a melhor de todas aquelas de que tenhamos conhecimento.

E quando esperávamos que “Argo” entrasse nos meandros dos filmes políticos da autoria de George Clooney (afinal ele é um dos produtores), surge um soberbo híbrido que ao mesmo tempo satiriza Hollywood através um tom marcadamente cómico, e revela uma história inquietante que merece ser divulgada.

E cruzar o mundo onde até um macaco pode ser realizador de cinema, com o fatídico cenário de revolução, não é fácil. Mas para isso é que está lá Ben Affleck: a câmara roda, aproxima, muda de local… mas não cai. Ben Affleck consegue captar o interesse e envolver o espectador no enredo de uma forma que já havia evidenciado em “A Cidade” e “Vista Pela Última Vez…”. Não seria de estranhar que o Óscar de Melhor Realizador de 2013 lhe viesse parar às mãos.

E Ben Affleck comprova (era necessário?) que é infinitamente melhor realizador do que é ator. Mas não é apenas um realizador competente. É, muito provavelmente, um dos melhores da sua geração.

Mas ele não está só. Ao seu lado tem uma produção engenhosa que ajuda “Argo” a tornar-se numa obra tecnicamente quase irrepreensível. Destaque para a fotografia de Rodrigo Prieto que é fria nos cenários no Irão e com cores mais fortes em Los Angeles e Nova Iorque. A equipa de caracterização e cenários é também muito competente na recriação dos anos 80 e na transformação sem mácula dos atores em sósias dos intervenientes reais.

E não evidenciar a composição de Alexandre  Desplat seria um crime. A sua banda sonora, por vezes ausente, é agradavelmente sentida quando surge.

Mas o melhor está ainda no elenco secundário onde Bryan Cranston, John Goodman e principalmente o espantoso Alan Arkin contribuem para que este “Argo” seja também um dos mais brilhantemente interpretados filmes do ano.

Podemos até dizer que o final poderia ter sido mais arrebatador, e que em certos momentos o seu ritmo por vezes monocórdico, merecia um rasgo que justificasse alguma da sua sobrevalorização, mas estaríamos a ser demasiado exigentes.

Até fevereiro ainda vamos ouvir falar muito de “Argo” e dos prémios que vai conquistar.

DR


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