Flesh Memory

ArteKino ’18 | Flesh Memory, em análise

“Flesh Memory” é um documentário realizado por Jacky Goldberg sobre uma cam girl que luta pela custódia do seu filho.

Acompanhada parte do dia pelos seus clientes e fãs, Finley vive em solidão durante a maioria do tempo. A sua profissão e estilo de vida levam o ex-marido Jake a pedir a custódia do filho de ambos e isso acaba por ter um grande impacto na sua vida. Enquanto tenta lutar em tribunal, Finley continua a sua rotina a que temos acesso pelo olhar de Jacky Goldberg, realizador que a conheceu em 2005 durante um concerto.

Flesh Memory

Apesar do tema adulto do filme, Jacky consegue partilhá-lo com o espectador de forma elegante e diferente do que poderíamos esperar. Finley não é somente uma cam girl, um objeto de desejo, ela é igualmente uma mulher com várias aspirações e desejos para o futuro. Ao longo da obra, filmada em 4:3, vemos o quotidiano de Finley incluindo o modo como trabalha enquanto cam girl (desde os livestreams às chamadas), e a forma como tenta renovar-se e iniciar outros projetos, incluindo produção e venda de perfumes.

Filmando o seu objeto a alguma distância para dar liberdade e puxar pela autenticidade, o realizador tem acesso não somente à Finley cam girl como às preocupações enquanto mãe e às poucas amizades que cultiva nas horas livres. Sem qualquer narração, tudo nos é dado por conversas orgânicas da protagonista com clientes e amigos, e o espectador é ainda colocado várias vezes no papel dos seguidores de Finley quando esta cria a sua performance diretamente para a câmara – existe uma ambiguidade e tanto vemos o seu mundo pelos olhos de um estranho como pelo olhar de quem segue o seu trabalho.

No entanto, o filme peca pelo pouco que vemos do caso da custódia do pequeno Ethan, elemento bem explícito na sinopse comercial de “Flesh Memory” e que ocupa somente alguns minutos. Seria interessante conhecer mais do modo como ela iria equilibrar a sua profissão (socialmente não aceite) com a presença diária de uma criança na sua casa. Ficamos a saber que o filho já teria assistido a algumas cenas impróprias para a sua idade mas soluções para que tal não acontecesse nunca são mencionadas e fica a curiosidade de conhecer de facto o seu plano de reconquista da custódia de Ethan – aliás fica a dúvida se de facto existe um plano ou se ela pretenderia atender chamadas de sexo online na sala, como acontece, enquanto o filho estaria na casa.

No final, o documentário poderia ter sido bem menor, talvez mais apropriado para uma curta ou média-metragem do que para uma longa. Por outro lado, se o objetivo é não somente mostrar-nos o seu dia-a-dia enquanto cam girl mas também revelar de que modo estas profissionais sofrem com o preconceito, então este não foi concluído, pelo contrário, dá razão ao ex-marido de Finley, o que é uma pena pois certamente não será essa a realidade.

Mergulha no mundo de uma cam girl e descobre um pouco do seu dia-a-dia no novo filme de Jacky Goldberg, “Flesh Memory”, uma obra disponível no ArteKino Festival 2018 até dia 31 de dezembro.

Flesh Memory, em análise
Flesh Memory

Movie title: Flesh Memory

Director(s): Jacky Goldberg

Actor(s): Finley Blake

Genre: Documentário

  • Ângela Costa - 60
60

CONCLUSÃO

“Flesh Memory” explora o que está por detrás de um mundo e de uma profissão não aceite pela generalidade da sociedade, mostrando que por detrás de uma cam girl está uma mulher e uma pessoa como todas as outras.

O MELHOR: Uma janela para o mundo por detrás da persona que se exibe enquanto cam girl, revelando o seu dia-a-dia, as suas amizades, e os seus conflitos pessoais.

O PIOR: Pouco ou nenhum foco no facto de desejar custódia do seu filho, elemento que aparece durante alguns minutos mas rapidamente é deixado de lado. Em ideia seria interessante termos a dicotomia entre a mulher que deseja ser cam girl, procurando poder e rendimento dessa atividade, mas que ao mesmo tempo é uma mãe preocupada e que quer a todo o custo viver com o seu filho.

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