Attica (2021), em análise
Um dos candidatos ao Óscar 2022 de Melhor Documentário, “Attica”, chega-nos da Showtime e revisita um dos mais importantes momentos na História prisional dos EUA.
“I am somebody”
Será que passados 50 anos é possível perceber o que se passou em Attica em 1971? As exigências de um lado, a tensão, as negociações, a falta de interesse, o desrespeito humano, as mentiras, os excessos cometidos, as mortes? Poderia ter sido evitada a catástrofe?
Estas são algumas das questões que os realizadores Stanley Nelson e Traci Curry tentam abordar neste documentário americano que revisita os acontecimentos de 9 de Setembro de 1971, quando os prisioneiros de Attica, Nova Iorque, tomaram conta da prisão, naquela que é considerada a maior rebelião prisional na História dos EUA. “Attica” é produzido pela Showtime Documentary Films em associação com a Firelight Films e a Topic Studios. O documentário estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2021 a 9 de Setembro e foi ao ar no Showtime em 29 de Outubro de 2021.
Para além da merecida nomeação aos Óscares 2022 na categoria de Melhor Documentário, “Attica” também tem recebido elogios e outras nomeações, realçando as características excecionais da produção do documentário, assim como da sua realização. 98% das críticas são positivas no site Rotten Tomatoes, com o Metacritic a atribuir uma pontuação de 88/100. É uma aclamação universal que “honra tanto a história como a arte do documentário”.
Um dos grandes destaques desta retrospetiva de 50 anos é mesmo o poder olhar para trás com um olhar mais limpo, apresentando-se a história de forma completa e linear. O complemento com as gravações históricas e as entrevistas com presos (principalmente negros e latinos) que estiveram presentes na revolta de 1971 solidifica este documentário como uma verdadeira fonte histórica.
É quase impossível falar da História do sistema prisional nos EUA, sem abordar os acontecimentos em Attica. Isto porque uma revolução daquela magnitude era algo impensável de ocorrer na altura, e que trouxe à luz do dia condições e práticas deploráveis que eram (são?) praticadas nas prisões americanas. A chamada de atenção dos prisioneiros para a América baseava-se em pedidos simples de dignidade e tratamento justo e decente.
As opiniões sobre o sistema prisional são muito divergentes seja em que país se trate deste assunto. De lembrar que ainda há pouco tempo, aqui em Portugal, se discutiu a possibilidade do regresso da prisão perpétua. No entanto, para que haja um debate com valor é preciso que existam pessoas informadas, e daí que documentários como estes sejam tão relevantes, para expor e permitir explorar o verdadeiro funcionamento das prisões e o que precisa realmente de ser alterado.
Após o violento impasse na penitenciária em 1971 não se tardou a investigar e explorar estes acontecimentos que foram desde logo em 1974 trazidos para a tela no documentário “Attica” (1974) realizado por Cinda Firestone. No aniversário dos 30 anos, “Ghosts of Attica” incidiu sobre não só o motim na prisão, mas também nas ações judiciais para obter indenização às vítimas desses eventos. A nível de cinematografia dramática a história também foi adaptada, com destaque para “Attica” (1980) – com Morgan Freeman, Henry Darrow e Charles Durning, e “Against the Wall” – liderado por Kyle MacLachlan e Samuel L. Jackson, ambos os filmes vencedores de Emmy. Mesmo a nível literário não faltam obras produzidas em relação ao tema, abrangidas as mais diversas categorias de livros como as memórias de Frank “Big Black” Smith em formato de novela gráfica, “Big Black: Stand at Attica”.
Para quem nunca ouviu falar do tema, o documentário da Showtime é uma excelente representação do ocorrido. No entanto, no meio de tanta produção sobre esta revolta, a entrada de 2021 perde um pouco o seu impacto e torna-se por vezes repetitiva para a audiência que assistiu a algum outro conteúdo. Não tirando o louvar ao trabalho da equipa produtiva, esta perdeu uma oportunidade de, mesmo que isso implicasse um documentário um pouco maior, ramificar os eventos do passado com os impactos que daí advieram e qual o estado dos direitos civis prisionais no presente.
A história da rebelião contra as injustiças do sistema prisional e um dos mais sangrentos confrontos de direitos civis na América continua viva em “Attica” (2021), que honra a memória desses eventos neste documentário.
TRAILER | O QUE ACONTECEU NOS 5 DIAS DE REVOLTA NA PENITENCIÁRIA DE ATTICA?
Já tinhas ouvido falar desta revolta prisional?
Attica (2021), em análise
Movie title: Attica (2021)
Movie description: Sobreviventes, observadores e especialistas do governo relatam a revolta de 1971 na Penitenciária de Attica. O violento impasse de cinco dias entre prisioneiros maioritariamente negros e latinos e as forças da lei tomou conta dos Estados Unidos na época e destaca a necessidade urgente e contínua de reforma 50 anos depois.
Date published: 29 de October de 2021
Country: EUA
Duration: 116 minutos
Director(s): Stanley Nelson, Traci Curry
Genre: Documentário
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Emanuel Candeias - 78
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Cláudio Alves - 75
CONCLUSÃO
50 anos após a maior revolta prisional nos EUA, a Showtime traz-nos um documentário que revisita os eventos ocorridos, não deixando esquecer esse importante marco, que é completado com as entrevistas de quem viveu aqueles 5 dias intensos e que culminaram numa zona de guerra.
Pros
- Retrospectiva de 50 anos
- Entrevistas com os presos que estiveram presentes na revolta de 1971
- Completa e linear versão histórica dos eventos
Cons
- Repetitivo em comparação com outros documentários sobre o tema
- Falta de ambição. Poderia ter sido incorporado um capítulo das repercussões que a revolta teve e as mudanças que foram feitas até ao presente.
