Tomada de Bastille no primeiro dia do MEO Marés Vivas 2017

O primeiro dia do MEO Marés Vivas ficou marcado pelo regresso de uma banda icónica e uma festa de aniversário. Diogo Piçarra, Tom Chaplin, Bastille e Agir foram os protagonistas. 

Antes da abertura de portas oficial, já os festivaleiros aguardavam ansiosamente por uma entrada rápida e um lugar na primeira fila para os concertos do dia. O palco principal reluzia, mas foi no palco Santa Casa que se ouviram os primeiros acordes pelos Quatro e Meia. Os seis rapazes unidos pelo amor à música mostraram ao público presente de que se faz Coimbra, pela qual são bastante inspirados – segundo os próprios. Em seguida, Souls of Fire trouxeram a raiz reggae e sonoridade tranquila que tanto distingue esta banda lusa.

E foi de mais música portuguesa que se fez o início da tarde. O palco principal algo composto de espectadores recebeu em êxtase Diogo Piçarra, que não desiludiu. O vencedor do Ídolos entregou temas reconhecidos pelos fãs, como “Já Não Falamos” ainda bem no início do concerto, tendo adquirido com ela um coro afinado por parte do público, que agradeceu poder estar presente para ver o cantor mudar-se para o piano e mostrar que tem outros talentos com um solo em medley de “Closer” e “Starboy”, que com certeza fariam orgulhosos The Chainsmokers e The Weeknd.

A assistência de milhares teve ainda direito a uma pequena surpresa, a subida ao palco de Jimmy P para o dueto de “Entre as Estrelas“. O auge foi atingido com “Wall of Love” e o “maior abraço do mundo” a pedido do artista, criando com a ajuda do público um poema de amor coletivo que não precisou de palavras. Sob um sol que já se escondia no Estuário, Diogo Piçarra voltou a palco para um encore de mais dois êxitos, “Tu e Eu” e “Dialeto“. A fasquia estava alta e seguia-se Tom Chaplin.

O nome do ex-vocalista dos Keane pode ter passado despercebido no cartaz, mas com certeza não passou no palco – a partir do momento em que se ouviu o primeiro acorde de guitarra, percebeu-se que o cantor estava ali para ficar. A escolha de alinhamento foi inteligente, com o cruzamento de temas de nome próprio como “Quicksand“, “Hardened Heart” e “Still Waiting” com os grandes clássicos de Keane, “Bend & Break“, “Everybody Is Changing“, “Bedshaped” e “Somewhere Only We Know“, que levaram os fãs ao rubro.

Mostrou que tinha feito o trabalho de casa para poder dizer na língua lusa: “Boa noite, esta música escrevi para a minha mulher” antes de uma interpretação apaixonada de “Hold On To Our Love“. Loquaz e a fazer o deleite do público ao colocar no microfone uma bandeira de Portugal, foi duplamente a surpresa da noite: para os presentes, por mostrar a sua qualidade como retornado artista a solo após ter vencido uma longa batalha pessoal; e para o próprio, que não esperava tal recepção e adesão aos seus temas. “I love every second I’m spending on this stage. It’s very special to come to this part of the world, you guys are very passionate”, mencionou emocionado o vocalista. Esperavam-se agora os cabeças de cartaz.

“Boa noite. Nós somos Bastille. Desculpem, o meu português é uma m*rda” – foi assim que se apresentou a banda britânica, que era sem dúvida a mais esperada do primeiro dia de festival. Num dia em que se celebrava a Tomada da Bastilha em França e, simultaneamente, o aniversário de Dan Smith (não, não é coincidência), mesmo antes de se iniciar o concerto os presentes teriam um vislumbre do que iriam presenciar, com a montagem de plataformas audiovisuais que preparavam o aparato do cenário em palco, fazendo o pleno recinto acreditar num concerto com peso e medida.

Um constantemente entusiástico Dan Smith, sem nunca pousar por muito tempo os pés no chão, não deixou faltar “Things We Lost in The Fire“, “Good Grief“, “Laura Palmer“, e “Bad Blood“, sentiu “Flaws” do início ao fim no meio do público, e pedia desculpa sempre que a escolha de tema era mais melodramática – não havendo a mesma lamentação por parte do público, que chegou inclusive às lágrimas com “Two Evils“.


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Energia ainda havia de sobra, e ninguém ficou indiferente à celebração dos 31 anos do vocalista, com direito a canção de aniversário em inglês, em português, e bolo. Uma fotografia de um pequenito Dan apareceu no ecrã que lhes precedia, deixando-o emocionado. E o espetáculo ainda não tinha terminado.

Nunca deixando o espírito revolucionário, uma estação televisiva – Wild World Communications – é projetada no ecrã central com o que aparenta ser uma caricatura a Theresa May e os seus discursos políticos representativos das eleições britânicas. Por volta deste momento começaram a sentir-se alguns problemas técnicos, primeiro com o projetor de mensagens políticas que constituía a base de atuação da banda, e depois com o som, que, apesar de rapidamente resolvidos, deixaram Dan visivelmente inquieto. No entanto nada prejudicou a sua interpretação de “Of The Night“, que com a colaboração do público, conseguiu transformar o recinto do MEO Marés Vivas numa enorme pista de dança, e muito menos a gloriosa finalização com “Pompeii“, deixando o palco principal do festival em apoteose.

Ficou para AGIR a tarefa ingrata de acabar a noite, com um certo decréscimo de público assistente levado pelo cansaço mas que não deixou de cantar consigo até ao último momento de concerto. Mais do que um cantor, é um artista no palco que já conhece como seu, levando consigo ainda que de forma virtual nomes que tem para si tão queridos como Carolina Deslandes e Ana Moura para o acompanharem nos temas “Mountains” e “Manto de Água” respetivamente. Pediu a contribuição do público para iluminarem a noite fria numa bela interpretação de “Bola de Cristal”, e Jimmy P voltou também ao palco principal, agora para apoiar AGIR em “Esconder“.

E como o melhor fica normalmente para o fim, foi aí mesmo que chegaram as mais reconhecidas “Makeup“, e após uma pequena saída do palco, “Como Ela é Bela“, “Parte-me o Pescoço“, e “Tempo é Dinheiro“, terminando o primeiro dia do MEO Marés Vivas com estes temas cantados em coro pelos mais resistentes.

meo marés vivas
Crédito: Igor Martins

Um dia que superou as expectativas, e que deixa a ansiedade bem alta para os restantes! 


Texto e fotografia: Ana Rodrigues e Catarina Fernandes

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