Berlinale 67: Mais um Urso Português
‘Pequena Cidade’ do realizador português Diogo Costa Amarante ganhou o Urso de Ouro para curta-metragem. O filme ‘On Body and Soul’, da húngara Ildiko Enyedi, uma bela e subtil história de amor entre dois seres incomuns, ganhou o Urso de Ouro da Competição principal.
Com quatro curtas portuguesas a competir no concurso Berlinale Shorts (ganha em 2012 por João Salaviza com Rafa e o ano passado por Leonor Teles com Balada de Um Batráquio), tínhamos cerca de vinte por cento de hipóteses de trazer um Urso ou no mínimo uma menção honrosa. A surpresa foi que acabou por ganhar aquela que talvez, fosse a curta menos credenciada, segundo a crítica, e a que teria menos hipóteses.
Cidade Pequena, de Diogo Costa Amarante, foi um filme que até passou quase despercebido — foi arrasado por alguma crítica nacional mesmo — na Curtas Vila do Conde 2016. E como em casa de ferreiros espeto de pau, acabou mesmo por ser o Urso de Ouro da Berlinale 2017, sem grandes discursos e apenas com a inevitável surpresa do realizador, e consagrando o cinema português em tempo de polémicas.
Vê a cerimónia de prémios da Berlinale 2017
Cidade Pequena, é um filme íntimo, pessoal ou melhor familiar — os protagonistas são o sobrinho e a irmã do realizador Diogo Costa Amarante, — visualmente muito bonito e vivo na cor e na paisagem e que portanto foge um pouco aos lugares e personagens escuras e lugrebes do cinema português. De qualquer modo as quatro curtas portuguesas Coup de Grace, de Salomé Lamas, Altas Cidades das Ossadas de João Salaviza, e Os Humores Artificias, de Grabriel Abrantes — esta ganhou do júri não oficial a possibilidade de integrar as candidatas a EFA de Melhor Curta Europeia 2017 — eram todas muitos boas e demonstram sem dúvida uma multiplicidade de formas estéticas e narrativas, que vão certamente enriquecer o cinema português no futuro, inclusive ao nível das longas-metragens.
Quanto ao Urso de Ouro, On Body and Soul, da húngara Ildiko Enyedi, não foi de todo uma surpresa, porque um dos filmes melhores em competição. É um filme que impressiona pela sua matriz psicológica e porque é uma bela e subtil história de amor entre dois seres incomuns, muito bem interpretados pelos actores Alexandra Borbély e Géza Morcsányi. Um filme a ter em conta na temporada europeia de cinema.
Vê crítica de ‘On Body and Soul’ na Berlinale 2017
À partida todos os filmes que estavam na lista dos favoritos acabaram por ser todos premiados. As surpresas foram para o filme africano sobre a cantora Felicité de Alan Gomis (Grande Prémio do Júri), Pokot, o thriller ecologista e vegetariano da veterana Agniezska Holland (Prémio Alfred Bauer que abre Novas Perspectivas Artísticas) e para os dois actores: a bela e expressiva coreana Kim Minhee por On the Beach at Night Long, de Hong Sangsoo e para o estranho alemão Georg Friedrich, de Bright Nights, de Thomas Arslan, actor que participa também em Wilde Mouse, do austríaco Josef Hader, igualmente na competição.
Vê e baixa lista de premiados na Berlinale 2017
De resto não foi uma competição de mão cheia e não apareceu nenhum filme capaz de rasgar novos horizontes. Vamos esperar por Cannes 2017.
JVM em Berlim