A história de ‘BlackBerry’, no filme de Matt Johnson, obviamente com alguma ficção à mistura. © 73ª Berlinale

73ª Berlinale | Ascensão e Queda do BlackBerry

‘BlackBerry’, um filme do actor e realizador canadiano Matt Johnson conta a história da meteórica ascensão e queda do primeiro smartphone do mundo. Trata-se de um conto moderno bem-humorado e cheio de energia, mas implacável, sobre grandes negócios e a necessidade de se manterem no topo.

BlackBerry, realizado pelo canadiano Matt Johnson (‘The Dirties’ e ‘Operation Avalanche’ e trabalha sobretudo como actor), conta a espectacular ascensão e queda do primeiro smartphone do mundo. Adaptado do best-seller ‘Losing the Signal: The Spectacular Rise and Fall of BlackBerry’ (2015), escrito pelos jornalistas Sean Silcoff e Jacquie McNish este filme é quase didático para todos os empreendedores. Existem efectivamente marcas e produtos que sobem como a espuma de uma garrafa de espumante, para acabarem por cair com uma impressionante velocidade no mercado. E é isto que precisamente marca todo o ritmo deste filme de Johnson que estreou na Competição da Berlinale 73. A velocidade dos diálogos e situações é tão infernal e frenética que faz lembrar um pouco, ‘O Caso Spotlight’ (2015), de Tom McCarthy. Porém, aqui não se trata de um filme sobre um caso de jornalismo de investigação, mas antes de uma crónica realista sobre o cruel e implacável mundo das novas tecnologias e dos seus negócios milionários. Em meados da década de 1990, quando os telefones móveis, os smartphone e os pager estavam com grande projecção de mercado, um grupo de jovens nerds da Universidade de Waterloo (em Ontário, Canadá) percebeu que se poderia combinar tudo isso num só dispositivo. E de um momento para o outro a Research in Motion, quase um dormitório universitário, transformou-se na BlackBerry, uma empresa multi-bilionária e de um tremendo sucesso no mercado das telecomunicações. O que esteve então por trás da queda do BlackBerry? Em meados dos anos 2000, os seus dados e vendas eram absolutamente impressionantes. Porém, a Apple e a AT&T viram isso e criaram também um produto que acumulava e transmitia grandes quantidades de dados dos consumidores. A BlackBerry sabia que essas redes poderiam falhar e começou por desafiar o iPhone. Porém, a BlackBerry não percebeu que o plano da AT&T significava reconstruir as redes e forçar os consumidores a comprarem um produto totalmente novo e inovador.

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‘BlackBerry’, realizado pelo actor canadiano Matt Johnson. © 73ª Berlinale

A história de ‘BlackBerry’, no filme de Matt Johnson, obviamente com alguma ficção à mistura, assenta sobretudo na difícil, ou melhor, improvável relação de dois empreendedores: Mike Lazaridis (Jay Baruchel) um jovem inventor de cabelo todo branco e Jim Balsillie (Glenn Howerton), um executivo implacável, ‘estérico’ e careca, que se tornou depois no CEO da Research In Motion; apesar de aparentemente incompatíveis, os dois acabaram por unir forças na criação de um produto, que se tornaria um sucesso mundial, em pouco mais de uma década: um deles inventou o dispositivo BlackBerry e o outro deu-lhe status, vendendo-o como um smartphone, um produto quase indispensável para os executivos norte-americanos, que mudou a forma como o mundo funcionava, jogava e comunicava e que se mantêm ainda hoje. Mas assim como o BlackBerry atingiu o pico, também começou a perder-se nas nublosas guerras dos smartphones, devido a más decisões de gestão, financiamento e de marketing e principalmente a forma depreciativa que teve em relação à concorrência. Foram na verdade várias questões que se combinaram e levaram ao inacreditável colapso de um dos empreendimentos de maior sucesso na história dos mundos da tecnologia e dos negócios. Nos seus melhores anos, a Research In Motion conquistou até clientes fora da sua órbita executiva, atingindo por exemplo os adolescentes graças ao seu chat BBM. A empresa, no entanto, não resistiu aos fenómenos do iPhone e do Android. O filme conta-nos ainda uma história de amizade entre Lazaridis e Doug (interpretado pelo próprio Matt Johnson), dois indivíduos aparentemente comuns que são tentados a conseguir algo que nunca ninguém tinha conseguido até aí, e que apesar de tudo deixaram uma obra e continuidade: a BlackBerry ainda existe, não como fabricante de smartphones, mas actualmente, redesenhou no seu esquema de negócios e dedica-se a oferecer soluções de cibersegurança e Internet das Coisas (IoT), um destino que no seus melhores anos ninguém poderia imaginar. Aliado ao seu implacável humor, que aliás personifica no filme, Matt Johnson surpreende-nos com esta história de dois canadianos — pouca gente sabe que se tratava de uma invenção canadiana e não norte-americana — que, entre noites de cinema de culto, numa tela, um turma de jovens nerds, inventou uma ferramenta que, para o bem ou para o mal, mudou a nossa forma de fazer praticamente tudo o que fazemos, no mundo de hoje. ‘BlackBerry’, ajuda-nos também a conhecer por dentro o fenómeno das startups: ver como elas crescem do zero, perseguindo sonhos e ultrapassando obstáculos, incentivando os potenciais empreendedores a continuar a lutar, e principalmente a terem noção de quando devem mudar de mãos. Quando os tubarões entram no negócio, o melhor é pensar em alternativas ou então, se não se pode ir contra, o melhor é mesmo juntar-se a eles.

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JVM, em Berlim

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