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Ciclos Roberto Rossellini e A Itália Vista Por…, em análise

A Leopardo Filmes e a Medeia Filmes organizaram dois ciclos capazes de deixar a sua marca a qualquer amante de cinema.

Não quero de modo nenhum colar-me ao conceito que o cineasta ítalo-americano Martin Scorsese indicou como modelo de aproximação e análise a uma das cinematografias que, por razões mais ou menos óbvias, o marcou desde cedo e influenciou a sua visão do cinema europeu num contexto americano e do peso humano  e valor pessoal das matérias que importa destacar na produção cinematográfica de qualquer país ou conjuntura política, social e cultural. Refiro-me ao conjunto de documentários que organizou e estruturou sob a forma de uma série, quatro episódios genericamente intitulados MARTIN SCORSESE, IL MIO VIAGGIO IN ITALIA (MARTIN SCORSESE – A MINHA VIAGEM A ITÁLIA), 1999, quatro horas e seis minutos de puro prazer cinéfilo que muita falta fazem a quem queira saber mais sobre a cinematografia italiana, viagem muito pessoal através das obras-primas e dos filmes mais importantes do cinema produzido em Itália, com especial incidência no período do pós-Segunda Guerra Mundial que assistiu, entre outros caminhos de grande fulgor dramático, plástico e  artístico, à afirmação do movimento neo-realista.

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A Noite
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Não quero nestas breves palavras de apreço por mais uma louvável iniciativa da MEDEIA FILMES e da LEOPARDO FILMES fazer mais do que aquilo que compete a qualquer crítico digno desse nome no quadro da actividade que abraçou de alma e coração, ou seja, chamar a atenção para uma iniciativa que conjuga uma retrospectiva de dez longas-metragens de Roberto Rossellini, o CICLO ROBERTO ROSSELLINI, com um outro que reúne vinte e oito obras muito diversas mas indispensáveis para quem queira descobrir ou recordar alguns dos melhores exemplos do cinema Made in Italy e não só, programados sob o lema A ITÁLIA VISTA POR… E de quem são os olhares que assim nos dão conta da sua visão particular sobre as idiossincracias da Itália de ontem e de hoje (sim, algumas continuam a ser válidas nos nossos dias)? São de cineastas maiores como Vittorio de Sica, Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Valerio Zurlini, Bernardo Bertolucci, sem esquecer no plano da comédia de costumes a inclusão de Salvatore Samperi. Destes estão em exibição filmes representativos de um dos períodos de ouro do cinema italiano que vai de meados dos anos 40 até aos anos 70 do século XX. Mas o ciclo não esqueceu o olhar estrangeiro sobre a realidade da península italiana, e deste modo programou filmes de cineastas oriundos de outras paragens geográficas e culturais como os americanos Vincente Minnelli, William Wyler, Billy Wilder, Joseph Losey, e ainda o argentino Santiago Amigorena.




Viagem em Itália
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Para os devidos efeitos deixo-vos a seguir aos nomes aqui citados a minha escolha e valorização pessoal sobre o filme ou filmes que apelido de indispensáveis para qualquer cinéfilo que se preze e que queira dar conta neste Verão de alguns dos mais vibrantes projectos fílmicos que se produziram na História do cinema europeu e mundial, reforçando o convite para acompanharem as sessões dos ciclos ROBERTO ROSSELLINI e A ITÁLIA VISTA POR… que assim multiplicam a oferta alternativa ao morno circuito comercial em que as estreias mais importantes (salvo uma ou outra excepção de que aqui daremos notícia) já aconteceram, mantendo com salutar êxito a sua presença em cartaz. Enquanto não vier a nova onda de estreias que valem mesmo a pena, lá mais para Setembro-Outubro, façam o favor de se encavalitarem numa lambreta, de se fazerem ao caminho e de serem Benvenuti in Italia!

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Alemanha Ano Zero
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E aqui vai a minha selecção :

Roberto Rossellini: Difícil escolha, apetece destacar os dez. Mas avanço como indispensáveis na programação, e por ordem cronológica de produção, ROMA, CIDADE ABERTA, 1945 (100/100), PAISÁ – LIBERTAÇÃO, 1946 (100/100), ALEMANHA, ANO ZERO, 1947 (100/100), STROMBOLI, 1949 (100/100), EUROPA 51, 1952 (90/100), VIAGEM EM ITÁLIA, 1953 (100/100). Mas, repito, os outros filmes são igualmente obras de grande impacto na filmografia do cineasta e não podem ser ignorados.

Vittorio de Sica: LADRÕES DE BICICLETAS, 1948 (100/100), O MILAGRE DE MILÃO, 1951 (80/100).

Michelangelo Antonioni: Todos, ou quase. ESCÂNDALO DE AMOR, 1951 (90/100), O GRITO, 1957 (100/100), A AVENTURA, 1960 (100/100), A NOITE, 1961 (100/100), O ECLIPSE, 1962 (90/100), O DESERTO VERMELHO, 1964 (100/100).

Luchino Visconti: De entre os muito bons, destaco o sublime O LEOPARDO, 1963 (100/100).

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Federico Fellini: A ESTRADA, 1954 (100/100), LA DOLCE VITA, 1960 (100/100), ROMA DE FELLINI, 1972 (90/100), AMARCORD, 1973 (90/100).

Pier Paolo Pasolini: MAMMA ROMA, 1962 (90/100), PASSARINHOS E PASSARÕES, 1966 (80/100), DECAMERON, 1971 (100/100).

Valerio Zurlini: A RAPARIGA DA MALA, 1961 (80/100).

Bernardo Bertolucci: O CONFORMISTA, 1970 (90/100).

Salvatore Samperi: MALÍCIA, 1973 (60/100).

De entre os filmes de realizadores estrangeiros, o destaque vai para FÉRIAS EM ROMA, 1953 (90/100), de William Wyler, EVA, 1962 (90/100), de Joseph Losey, e DUAS SEMANAS NOUTRA CIDADE, 1962, (90/100), de Vincente Minnelli.

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