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Cine Quarentena | ’Uma Escolha Imperfeita’: Sexo e Crise de Meia-Idade

Uma das vantagens de ficar em casa e de não haver estreias de cinema é dar-nos a possibilidade de por em dia (ou rever) o que estava adiado, como é o caso de ‘Uma Escolha Imperfeita’, uma excelente série da BBC, protagonizada por Emily Watson, disponível agora na RTPlay.

Raramente vejo séries de televisão, porque há sempre muitos filmes para ver. Contudo é difícil resistir à sugestão de visionar uma série da BBC como esta ’Uma Escolha Imperfeita’ (‘Apple Tree Yard’, 2017), uma obra em quatro episódios, que tem tudo para ser vista como um filme, pois é um poderoso drama pessoal, combinado com o género thriller de suspense. Além disso, é protagonizada por uma notável dupla de actores britânicos: Emily Watson (A Teoria de Tudo) e Ben Chaplin (A Balada de Adam e Henry) e, talvez mais do que uma mera série policial é a história de uma mulher na crise da meia-idade, altamente respeitada pelo seu trabalho, que cai em desgraça; ao mesmo tempo é uma série de televisão que aborda questões tão actuais como o estupro, violência e abuso sexual sobre as mulheres.

Uma Escolha Perfeita
Uma paixão proibida com Emily Watson e Ben Chaplin. ©Sundance TV
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Na verdade no início e graças a uma extraordinária montagem em flashbacks, parece até que caminhamos somente para um mero thriller psicológico, que é aliás muito bem adaptado de um famoso best-seller com o mesmo título da escritora britânica Louise Doughty, — editado em Portugal pela Porto Editora — um romance que gira efectivamente em torno de uma arrebatadora história de paixão, que leva a um crime passional e a um julgamento por assassinato. Contudo também esse julgamento levanta questões, como a criminalização das vítimas e da não-denúncia de certos crimes de violação por medo do que eles possam revelar e como as vítimas carregam isso para o resto das suas vidas.

©Porto Editora

A Dra. Yvonne Carmichael (Emily Watson), uma reputada cientista especializada em genética, com um casamento preso entre a monotonia e a ‘crise dos cinquenta’, acaba envolvida numa terrível trama por causa de uma relação extraconjugal. Um homem misterioso e sedutor (Ben Chaplin) aproxima-se dela depois de uma conferência cientifica com uma comissão de deputados do Parlamento britânico. De um mero ‘flerte’ ocasional o relacionamento vai transformar-se num caso de amor escaldante, — faz lembrar um pouco ‘Intimacy’ de Patrice Chéreau, (2001) partir do romance de Hanif Kureishi — animado pelo segredo e pela adrenalina de encontros sexuais furtivos, alguns em locais públicos, como em Apple Tree Yard — faz lembrar igualmente a clássica cena de ‘9 Semanas e Meia’, (1986) —, uma pequena viela localizada na verdade, não muito longe da estação de metro de St. James, em pleno centro de Londres. Yvonne quase não sabe nada sobre o amante, e esse mistério torna a infidelidade ainda mais emocionante. Inicialmente, a narrativa parece localizada no seio da universidade e da investigação académica, com as habituais intrigas e conflitos de egos, entre catedráticos ou cientistas.

Uma Escolha Perfeita
A Dra. Carmichael (Emily Watson) conhece um homem misterioso) Ben Chaplin). ©Sundance TV

No entanto, por trás da vida aparentemente monótona e simples de uma mulher na casa dos cinquenta, pode acontecer um terrível drama oculto, que muda completamente a sua vida e a dos que a rodeiam. Vários meses depois, a ilustre cientista numa fase descendente da sua respeitada carreira, acaba no tribunal, acusada de um crime grave. O fato de serem apenas quatro episódios e graças ao excelente trabalho de Emily Watson, sobre quem recai todo o peso da história — mas também de Ben Chaplin, o amante misterioso — fazem de ‘Uma Escolha Imperfeita’, uma série muito agradável e perfeita de se ver como se fosse cinema. Disponível agora na RTPlay, depois de ter passado nos canais AMC, Sundance TV e RTP2.

JVM

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