Classic Fever | Quem Tramou Roger Rabbit? (1988)

Revolucionário e profundamente surpreendente, Quem Tramou Roger Rabbit? encontra um clássico de culto inesperado na história de um homem, uma mulher e um coelho num triângulo de problemas que mudou a indústria cinematográfica.

A peculiar comédia realizada por Robert Zemeckis e produzida por Steven Spielberg baseia-se no romance de Gary K. Wolf “Who Censored Roger Rabbit?” e combina a utilização do live action, animação tradicional e elementos do cinema de suspense e film noir.

 

O QUE É QUE VOU RELEMBRAR HOJE?

Quem Tramou Roger Rabbit? (1988), de Robert Zemeckis e protagonizado por Bob Hoskins, Christopher Lloyd, Joanna Cassidy e Charles Fleischer.

roger2

Lê ainda: Classic Fever | Tempos Modernos

 

MAS AFINAL DO QUE É QUE TRATA?

Hollywood, 1947. Eddie Valant, um detective com pouca sorte, é contratado para encontrar provas de que Marvin Acme, o grande e divertido industrial dono da cidade dos desenhos animados, se anda a ‘divertir’ com a sexy Jessica Rabbit, mulher da super-estrela Roger Rabbit. Quando Acme é encontrado morto, todos os indícios apontam para Roger e o sinistro e poderoso juiz Doom está decidido a prendê-lo. Roger implora a Valiant para encontrar o verdadeiro assassino e as coisas complicam-se quando Eddie desmantela escândalo atrás de escândalo e se apercebe que a própria existência da cidade dos desenhos animados está em perigo!

roger4

 

PORQUE É QUE NÃO POSSO PERDER?

Nós sabemos o que estão a pensar: “então há tantos clássicos incontornáveis e estes marmanjos aparecem aqui com um filme onde um protagonista é um coelho de olhar esgazeado?“. E respondendo à pergunta: sim, é exatamente isso que estamos a fazer, mas não pecaremos por não justificar – até porque razões não faltam.

Em 1988, Quem Tramou Roger Rabbit? foi o segundo filme mais rentável da indústria (ficando apenas atrás de Rain Man) e tornou-se a animação a ganhar mais Óscares da história (três). Demorando uns intermináveis 14 meses de pós-produção foi também e e foi o filme mais caro a ser produzido em Hollywood nos anos 80 (orçamento: 70 milhões).

Mas números à parte, o que torna Quem Tramou Roger Rabbit? um prodígio do cinema contemporâneo é a sua própria natureza – pode parecer difícil de acreditar, mas este é um filme revolucionário para a indústria e muito mais importante para as noções artísticas e económicas do cinema do que podem pensar.

O clássico de culto funde live action com animação tradicional, polvilhando tudo com um enredo surpreendentemente intrincado e complexo, com referências à Depressão Americana, ao film noir, a um sistema de traições e violência e a um homicídio com direito a chantagem forçosa. Foram também estes elementos inesperados e inequivocamente arriscados que enovoaram uma linha até aqui bem estabelecida entre o que eram filmes para crianças e para adultos. De facto, o projeto de Zemeckis foi um dos grandes responsáveis pelo renovado interesse da audiência na animação, propiciando também o famoso “renascimento da Disney” – que depois de um período conturbado durante os anos 70 e 80 voltou a ressurgir em força nos anos 90 com uma série de produções de sucesso como A Pequena Sereia, A Bela e o Monstro, Aladino, O Rei Leão e muitos outros.

Mas regressando à característica mais marcada de Quem Tramou Roger Rabbit? – o facto de misturar atores e cenários reais com animação clássica – podemos analisar o porquê do eu caráter revolucionário e hercúleo. Na verdade, as produções que até aqui ousaram combinar estes díspares elementos (por exemplo, Mary Poppins) são consideradas primitivas quando comparadas com a produção de Zemeckis.

Richard Williams, diretor de animação, comprometeu-se a quebrar três regras tidas como sagradas neste tipo de misturas: moveu a câmara o máximo possível para que as animações não parecessem coladas a um fundo inanimado, usou a iluminação para criar enormes contrastes e pôs os personagens animados a interagir com objetos e pessoas o máximo possível.

Em termos práticos, e porque vivíamos numa era sem as facilidades tecnológicas que hoje quase 30 anos mais tarde assumimos como garantidas, todos os frames do filme que combinassem ambos os elementos teriam de ser impressos como uma fotografia. Depois, um animador desenhava a figura animada presente nessa cena em papel vegetal, colorindo-a posteriormente à mão. É só após este processo que o desenho é transferido para o frame original utilizando uma impressora ótica. 326 trabalharam a tempo inteiro no filme, construindo mais de 82.000 frames de animação.

Evidentemente, todo o projeto foi um enorme risco conjunto da Disney e da Warner – na verdade, o primeiro visionamento de teste foi um fiasco, com uma audiência sobretudo composta por jovens adultos a odiar o filme. Robert Zemeckis manteve-se firme no seu projeto, na montagem e no produto final.

E ainda bem – só assim é que nascem os verdadeiros clássicos.

roger

Lê Também: Classic Fever | O Crepúsculo dos Deuses (1950)

 

UMA FRASE PARA A POSTERIDADE

I’m not bad. I’m just drawn that way

roger3

 

PARA FICAR NO OLHO E NO OUVIDO (DA MENTE)

 


 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *