"Falling" vive de uma complicada dinâmica familiar |©LEFFEST

LEFFEST ’20 | Falling, em análise

O LEFFEST’20 decorre entre 13 e 25 de novembro em Lisboa e Sintra. Com Viggo Mortensen  como o convidado de honra de última hora, “Falling”, a estreia na realização por parte deste ator, foi exibido Fora de Competição. 

O Lisbon & Sintra Film Festival continua até dia 25 de novembro depois de reduzir a sua programação de fim de semana devido às novas limitações à circulação. Não obstante a incerteza e as dificuldades em realizar o festival, o LEFFEST continuou a surpreender e conseguiu confirmar a presença de Viggo Mortensen (“O Senhor dos Anéis”, “Capitão Fantástico”) à última da hora para apresentar a sua estreia na realização, “Falling”, e ficar ainda para uma agradável sessão de perguntas e respostas depois da projeção.

“Falling”, filme premiado no Festival de San Sebastián com o Prémio Sebastiene de Melhor Filme, foi realizado, escrito, produzido e musicado por Viggo Mortensen, a provar-se aqui um homem dos 7 ofícios (e mais um par de botas). Não sendo uma obra perfeita (longe disso), “Falling” é o tipo de drama familiar com o qual nos deparámos já uma e outra vez e do qual conseguimos ainda retirar alguma satisfação.

Depois do Q&A no Tivoli BBVA, no dia 20 de novembro, sexta-feira, criar proximidade com este objeto artístico tornou-se mais fácil. Aliás, essa é uma consequência mais que recorrente da presença do realizador na sala. Este é um produto altamente pessoal, que não parte tanto das suas experiência de infância mas muito dos “seus sentimentos”, nas palavras de Viggo. Além disso, os próprios pais de Viggo sofreraram de demência e a relação com o seu pai fora algo desafiante.

viggo mortensen
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O entusiasta e eloquente ator e realizador respondeu com detalhe às perguntas colocadas pelo entrevistador e pela audiência, surpreendentemente em espanhol (Mortensen cresceu na América Latina e é fluente em espanhol) e com notável desenvoltura. Nenhuma pedra ficou por virar, e esta conversa permitiu um olhar mais amplo sobre o sujeito filmado.

A narrativa, que vê como maior trunfo duas prestações centrais fortes, é a história de John e do seu pai. John (Viggo Mortensen) vive na Califórnia com o seu marido Eric e com a filha de ambos, Monica. No seu passado ficou uma vida rural e uma infância marcada pelo conservadorismo. O seu pai, Willis (um aqui poderoso Lance Henriksen), é tão obstinado e intransigente quanto sempre foi. Quando Willis se começa a sentir isolado na sua quinta, decide visitar John e procurar um sítio mais perto para viver junto da sua família.

Quando John decide acolher o pai na sua casa, depressa se vêm confrontados com velhos conflitos. O seu pai é homofóbico, racista, mal-humorado e incapaz de ceder ou ter em consideração a vontade alheia. É aí que se inicia uma reflexão sobre dinâmicas familiares e sobre o tumultoso caminho rumo ao perdão, que por vezes tarda em chegar. É também uma história sobre compromisso, paciência, compreensão, orientada por valores otimistas e enternecedores.

vigo mortensen
Viggo Mortensen e Lance Henriksen em “Falling” |©LEFFEST

Contudo, sofre com diversas falhas, não obstante as suas boas intenções. A narrativa é sufocada por constantes analepses, que quebram o ritmo da ação e se conseguem, por vezes, tornar avassaladoras. Por outro lado, não há muito por onde evoluir. As dinâmicas gerais entre as personagens são traçadas no início e por mais que John tente, por mais que Willis se vá humanizando aos poucos, a verdade é que as suas discussões e até a própria manifestação da progressiva demência de Willis se vai tornando maçadora.

“Falling” sofre de falta de eventos ou quiçá de uma excessiva extensão. A longa-metragem arredonda perto das duas horas de duração, mas alguns flashbacks a menos e não seriam necessárias as 2 horas. Quiçá uma discussão ou outra pudesse ser retirada ou encurtada. Na verdade chegamos a um ciclo vicioso de constante abuso que deixa de parecer acrescentar muito. Isto até chegarmos à derradeira explosão anunciada, claro está, onde os dois protagonistas têm a verdadeira chance de brilhar.

TRAILER | “FALLING” DE VIGGO MORTENSEN 

A realização de Viggo, à parte da constante indecisão entre passado e presente, é decidida, firme, até inventiva. Os planos são belos, detalhados e esteticamente apelativos. Não se limita a ser, com um evidente cuidado de composição a atravessar as cenas. O maravilhamento faz-se sentir, tornando mais evidente  a sensibilidade que atravessa todo o filme.

Talvez este “Falling” não seja um filme perfeito. Ainda assim, é uma estreia decidida e que de certo antecede obras mais complexas na filmografia futura de Mortensen (no campo da realização).

“Falling” chegará aos cinemas nacionais no dia 25 de março de 2021 com distribuição garantida pela PRIS Audiovsisuais. 

Falling, em análise
Falling Leffest'20

Movie title: Falling

Date published: 22 de November de 2020

Director(s): Viggo Mortensen

Actor(s): Viggo Mortensen

Genre: Drama

  • Maggie Silva - 70
  • José Vieira Mendes - 80
75

CONCLUSÃO

“Falling” é um bom primeiro esforço no campo da realização, não obstante algumas escolhas menos felizes no âmbito das temporalidades desta obra de fição.

Viggo Mortensen é um capitão com talento e, evidentemente, um interprete capaz de entregar a contensão e emotividade afetas a este papel.

Pros

As duas prestações centrais do filme;

O grau de intimidade e afeição notório na construção da narrativa;

Cons

As analepses constantes são cansativas e quebram o ritmo;

A longa-metragem não precisava (de todo) de duas horas de duração para contar a história proposta;

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