Joker: Loucura a Dois, a Crítica | Esta sequela fará sentido?
Todd Phillips fez uma escolha ambiciosa e polémica ao transformar a nova sequela “Joker: Folie à Deux” num musical.
Em 2019, “Joker” foi o fenómeno do ano, que fez mais de um bilião de dólares em box office. Em Portugal continua a ser o sexto filme mais visto em vinte anos, levou quase um milhão de espectadores ao cinema, o que se traduziu em meio milhão de euros em receitas. O sucesso de “Joker” pode ser explicado em duas fases. A personagem “Joker”, do universo cinemático de Batman da DC já tem uma grande família de fãs, vindos da banda desenhada, dos filmes de Tim Burton ou da trilogia de Christopher Nolan, que ficaram ansiosos em ver uma nova adaptação de um dos seus vilões preferidos. A segunda razão tem que ver com a opção do realizador Todd Phillips de se distanciar desse mesmo universo da DC e dar uma nova roupagem ao Joker, onde aborda temas de muito interesse para a sociedade atual, como a saúde mental, a desigualdade social e a forma como os marginalizados são tratados e as consequências que advém dessas ações.
Joaquin Phoenix apresentou uma performance arrepiante e surpreendente no primeiro filme, que lhe garantiu o merecido Óscar de Melhor Ator. Em “Joker: Folie a Deux”, voltamos à história de Arthur Fleck, que agora se encontra a aguardar julgamento no Asilo Arkham, pelos seus crimes. Enquanto tenta lidar com a sua dupla personalidade, Arthur encontra o amor, por Harleen Quinzel, interpretada por Lady Gaga, também internada no asilo Arkham, e pela música. O segundo Óscar que “Joker” venceu foi para Hildur Guðnadótti, pela Melhor Banda Sonora do ano. Em “Joker: Folie a Deux” a música volta a ser um tema importante, pois desta vez o filme é mesmo um musical.
O uso da música
Foi um grande risco para Todd Phillips fazer um musical após o sucesso que foi “Joker”. No entanto, o realizador revelou que queria experimentar algo diferente, que não faria sentido voltar à história se tudo continuasse igual, pois a verdade é que “Joker” pode ser visto como um Stand Alone, não precisava necessariamente de uma sequela. Já no primeiro filme, Arthur Fleck tem uma ligação com a música, com o showmanship e o entretenimento, por isso, os números musicais são introduzidos em “Joker: Folie a Deux” de uma forma muito natural e fazem sentido. Joaquin Phoenix revelou em entrevista que as músicas no filme refletem aquilo por que as personagens estão a passar, não são apenas músicas e danças que acontecem por acaso. O que se sente ao ver o filme é que, através dos números musicais conseguimos entramos na cabeça de Arthur Fleck, é uma ilustração daquilo que ele está a passar e ajuda-nos a compreender o filme e as suas ações.
A utilização da música está feita de uma forma extremamente inteligente e é o ponto alto do filme. A banda sonora é composta por uma série de músicas já conhecidas do público, mas que se adequam perfeitamente ao sentido da história. Músicas como “For Once in My Life”, de Stevie Wonder, “That’s Entertainment” de Fred Astaire e “To Love Somebody” dos Bee Gees, são reimaginadas de forma brilhante para este novo musical. A única música original no filme é “Folie à Deux”, de Lady Gaga, que entra num dos mais memoráveis momentos musicais do filme e que é a ilustração perfeita da “Loucura a Dois”.
As grandes prestações de Joaquin Phoenix e Lady Gaga
De uma forma objetiva, seria impossível retirar o Óscar das mãos de Joaquin Phoenix. O ator volta a estar incrível, na sua prestação realista, crua e aterradora de Arthur Fleck. À grande dieta que o ator já tinha feito para o primeiro filme, em que perdeu vinte e cinco quilos, Joaquin Phoenix junta agora um conjunto de momentos musicais em que mostra os seus dotes de cantor e bailarino que o colocam num nível estratosférico enquanto ator. Ainda assim, e com vários outros grandes filmes a estrear este ano, ganhar um Óscar pela segunda vez, pela mesma personagem, é uma hipótese remota. Lady Gaga, ou Stephanie, como é chamada fora da sua personagem musical, está a afirmar-se como atriz. Os seus dotes musicais são inquestionáveis e após “Assim Nasce Uma Estrela” e, agora, “Joker: Loucura a Dois” está a entrar lentamente, mas firmemente no mundo do cinema.
A Polémica
Neste tipo de personagens e universos cinemáticos em que já estamos agarrados à personalidade de uma personagem, é difícil desligarmo-nos disso. O “Joker” que vemos aqui é diferente do de “Batman”, não tem as mesmas características caóticas, cómicas e anárquicas que conhecemos, nem tem que ter. Não deve ser comparado a algo que não é. O “Joker” de Todd Phillips tem o objetivo de espicaçar a sociedade, de nos obrigar a ver algo que existe mas que a maioria ignora e questiona como a sociedade molda os “monstros” que tanto teme. Por isso, “Joker: Folie a Deux” não tem a ação e o caos que estamos habituados, tem uma Harley Quinn que manipula em vez de ser manipulada, e um Harvey Dent que não tem duas caras e que é apenas um advogado. Este não é o “Joker da DC”.
Como filme, “Joker: Loucura a dois” entretém, impacta, emociona e aborda questões importantes. Como sequela, não trás nada de novo ou relevante à história de Arthur Fleck, senão a sua necessidade de amor e uma maior compreensão da sua personalidade, através da música. No entanto, o final do filme poderá ter o potencial de estragar o objetivo da personagem, a crítica social.
Já foste ao cinema ver o novo “Joker: Loucura a Dois?”
Joker: Loucura a Dois, a Crítica
Movie title: Joker: Loucura a Dois
Movie description: Arthur Fleck, agora a aguardar julgamento no Asilo Arkham, pelos seus assassinatos como "Joker", encontra o amor com Harleen Quinzel, também internada no asilo, e descobre uma nova paixão, a música.
Director(s): Todd Phillips
Actor(s): Joaquin Phoenix, Lady Gaga
Genre: Drama, Thriller, Musical
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Matilde Sousa - 70
Conclusão
Como filme, “Joker: Loucura a dois” entretém, impacta, emociona e aborda questões importantes. Como sequela, não trás nada de novo ou relevante à história de Arthur Fleck, senão a sua necessidade de amor e uma maior compreensão da sua personalidade, através da música. No entanto, o final do filme poderá ter o potencial de estragar o objetivo da personagem, a crítica social.
Pros
O brilhante uso dos números musicais para ilustrar as emoções de Arthur Fleck.
A prestação crua e impactante dos protagonistas do filme, Joaquin Phoenix e Lady Gaga
Cons
Para além da música, não trás nada de novo e relevante à história de Artur Fleck e da personagem “Joker”.