©PRIS Audiovisuais

O Bom Patrão, em análise

Muitíssimo bem interpretado por Javier Bardem, além das 20 nomeações aos Goya, ‘O Bom Patrão’, de León de Aranoa é o filme que representa a Espanha nos candidatos ao Óscar de Melhor Filme Internacional. E bem!

Javier Bardem é enorme em ’O Bom Patrão’ num regresso ao cinema espanhol e numa comédia muito ácida e realista de Fernando León de Aranoa, sobre o mundo do trabalho. Tem 20 nomeações para os Prémios Goya, incluindo Melhor Filme, Realizador e Actor. Selecionado também como representante da Espanha para o Óscar de Melhor Filme Internacional, ’O Bom Patrão’ a última comédia de Fernando León de Aranoa (‘Um Dia Perfeito’, 2015) proporciona a Javier Bardem, indiscutivelmente um dos grandes papéis da sua carreira. Javier Bardem interpreta como o próprio título sugere, um patrão ou melhor na linguagem moderna, um empresário tão magnânimo, tão justo e compreensivo, mas, e vamos ver, só até ao ponto em que as circunstâncias não lhe vão ao bolso. Este figura, por vezes caricata, em que se centra o filme é magistralmente interpretada por um Javier Bardem que exibe uma variedade de poses e gestos que o aproximam do seu brilhante Florentino (‘Amor em Tempos de Cólera’, 2007), numa demonstração de que os seus papéis cómicos, não prejudicam de forma nenhuma, nem destoam das suas premiadas e reconhecidas interpretações dramáticas.

Javier Bardem
©Pris Audiovisuias

Bardem, vestido em tons de cinza e fatos de marca, bem confeccionados, representa um próspero empresário provinciano, presidente da Básculas Blanco, uma empresa especializada na fabricação de balanças industriais. Efectivamente o equilíbrio e equanimidade são o padrão, e não  apenas o produto, deste self made man, sem formação académica em gestão, mas que como todos os grandes empreendedores gostam de enfatizar um certo estilo de vida — mesmo aqueles que vêm da posição de herança, como é o caso dele — mostrando que acumularam riqueza e currículo, normalmente e na prática algo, muito mais difícil para um pequeno-médio empresário local.

Lê Também:   O Perdão, em análise

VÊ TRAILER DE ‘O BOM PATRÃO’

O argumento de León de Aranoa — que começa muito bem, com um tom ambíguo e cinzento para ir evoluindo num humor negro, paralelamente ao crescimento do personagem — mostra que o Senhor Blanco (Bardem) não é um patrão qualquer, mas antes um chefe dedicado à sua equipa, aos seus trabalhadores, sobretudo porque os considera como a sua família. Vai dando igualmente a ideia que os seus trabalhadores e subordinados também o idolatram porque está sempre lá para ajudá-los: é compreensivo e conciliador, dentro e fora do trabalho. Blanco não é um homem de estar sentado à secretária, antes circula pela fábrica, para conviver com os funcionários e avaliar o trabalho. Porém, às vezes também tem que tomar decisões dolorosas, como despedir um funcionário, decisões estas que custam caro, para alcançar a perfeição e manter o equilíbrio da ‘família’. E isto acontece, justamente, quando uma comissão vem à fábrica, para avaliar a possibilidade de atribuição de um prémio de excelência empresarial. Na verdade, o único troféu que falta numa prateleira, cheia de reconhecimentos, no seu escritório. Mas há vários fatores que podem impedir Blanco de obter o prémio e que se torna necessário resolver: há um trabalhador que foi despedido que não se cansa de se manifestar e fazer barulho (Óscar de la Fuente) à porta da fábrica, um chefe-intermédio que anda deprimido (Manolo Solo) e por último uma estagiária ‘boa demais’ (Almudena Amor). A partir daí, entramos no campo da comédia de contradições, enganos e negócios, que começa a ganhar velocidade graças a um realizador focado em dirigir magistralmente um extraordinário grupo de atores sem exagerar na mise en scene (encenação) ou exercícios excessivos de realização. É notável ver como tudo flui e encaixa na perfeição, e tanto León de Aranoa quanto Bardem movem-se maravilhosamente, nessas águas turvas do equilíbrio narrativo, sem cair em clichés, caricaturas ou pantomimas. A câmera está sempre presente, mas torna-se quase invisível e todo peso da história é suportado — e bem —  pelas brilhantes interpretações de todos os actores. Destaque inclusive para os actores que interpretam personagens secundários, pois todos são importantes, todos ganham foco e todos têm os seus traços e mimos: desde o opinativo segurança do portão da fábrica, interpretado por Fernando Albizu, à esquecida e tradicional esposa (Sonia Almarcha) de Blanco.

O Bom Patrão
©Pris Audiovisuais

O protagonista é tirado da medida dos seus padrões e equilíbrio instável: nunca vacila, embora a sua preocupação com os seus funcionários não seja tão genuína, como suspeitávamos desde o início e tem claro, a ver com a produtividade da sua empresa. Como em Nas Nuvens (2009), em que George Clooney interpreta um executivo do Departamento de Recursos Humanos ou ‘Na Roda da Fortuna’ (1994), dos Irmãos Coen, ‘O Bom Patrão’ explora as contradições e hipocrisias das práticas empresariais modernas, confrontando-as com a pequenez (e mesquinhez) de uma empresa local, na qual o prémio não é a subida do preço das ações, o perigo de uma aquisição hostil ou a fusão com outra empresa maior. A recompensa final que a Básculas Blanco quer garantir é uma estatueta para colocar na prateleira, a única coisa que vai alimentar o ego do seu presidente. Talvez em outra época o retrato de um personagem como Blanco tivesse despertado mais relutância e desprezo. Porém agora, num mercado de trabalho cada vez mais hiper-competitivo, desumanizado, arrogante e agressivo, basta pensarmos nos muitos casos que ouvimos diariamente nas notícias, sobre conflitos laborais, despedimentos a pretextos de baixas de produtividade, idade ou qualquer outro motivo, ignorando circunstâncias e contextos; ou por exemplo quando ouvimos como tratam os seus trabalhadores, empresas como Amazon, a perspectiva de ter um chefe manipulador, mas carismático, é provavelmente o mal menor. É certo que um patrão como Blanco é um ‘anjo na terra’ e seria bastante mais tolerável e aceite pelos trabalhadores. Enfim venha o diabo e que escolha!

JVM

O Bom Patrão, em análise
O Bom Patrão

Movie title: El Buen Patron

Movie description: 'O Bom Patrão' do espanhol León de Aranoa, proporciona uma das melhores interpretações de sempre de Javier Bardem.

Date published: 16 de January de 2022

Country: Espanha

Duration: 120'

Director(s): Fernando León de Aranoa

Actor(s): Javier Bardem, Óscar de la Fuente, Manolo Solo, Almudena Amor

Genre: Comédia

  • José Vieira Mendes - 85
  • Maggie Silva - 89
87

CONCLUSÃO

O Bom Patrão’ a última comédia de Fernando León de Aranoa é uma sátira lúcida, brilhante e ácida sobre um típico empresário espanhol — que por extensão também podia ser um português. Trata-se de uma comédia sobre o mundo do trabalho, com uma história, ácida, fina e mordaz e sobretudo com um Julio Blanco (Javier Bardem, numa das melhores interpretações da carreira), um personagem principal, inqualificável e inesquecível. Absolutamente notável!

Pros

Javier Bardem e todo o elenco que carrega sem dificuldade e com competência uma história vulgar.

Cons

É mesmo é não vermos nas salas ou nas plataformas mais filmes assim.

Sending
User Review
3 (2 votes)
Comments Rating 0 (0 reviews)

Leave a Reply

Sending