The End of the F***ing World

The End of the F***ing World, primeira temporada em análise

The End of the F***ing World é uma road trip sangrenta e acidentada carregada do melhor humor negro. Instantânea série de culto, com a duração total de 163 minutos.

Faz-nos rir e desarma-nos. Apaixonamo-nos com e pela violência com que duas personagens teoricamente pouco empáticas se tornam inesquecíveis pela sua relação um com o outro. Ele, um rapaz que acha que é psicopata e que está pronto para matar pela primeira vez. Ela, uma rapariga rebelde de calão fácil, renegada pela família. Ele vê nela uma potencial vítima. Ela vê nele um escape e o tipo de rapaz pelo qual se podia apaixonar.

“The End of the F***ing World” passou despercebida a muita gente, mas os felizardos que descobriram James (Alex Lawther), o rapaz da camisola havaiana, e Alyssa (Jessica Barden), a rapariga do cabelo pintado em fuga, não lhes ficaram indiferentes. É impossível ficar.

The End of the F***ing World
The End of the F***ing World – Alex Lawther & Jessica Barden

A série, inspirada nas bandas desenhadas de Charles S. Forsman, estreou no britânico Channel 4 em outubro. Nos primeiros dias de 2018, a Netflix tratou de partilhar este tesourinho nada deprimente com o mundo inteiro. Com um humor negro sagaz e irresistível, “The End of the F***ing World” dá sequência à capacidade que as também britânicas “Skins” ou “Misfits” revelaram em colocar no ecrã o grito da juventude, e o dom ou fardo de sentir tudo ao mesmo tempo.

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Os oito episódios têm uma duração total de 163 minutos, o que faz com a série se devore em um ou dois dias. Também o formato, com emoções altamente concentradas, bebe a noção de fuga constante de quem nunca olha para trás. Uma espécie de não sei para onde vamos, mas vamos; não sei para onde vou, mas sei quem vai comigo. A narrativa, sob a forma de road trip sangrenta e acidentada, avança sempre a todo o gás em todos os episódios, e acontece sempre algo. “Thelma e Louise” (1991) e “Bonnie e Clyde” (1967) servem como referências.

Os desempenhos de Alex Lawther e Jessica Barden – com 22 e 25 anos respetivamente, mas passando muito bem por adolescentes – são fantásticos, revelando uma química decisiva no conforto que a série representa. Para Lawther, “The End of the F***ing World” é uma oficialização de todo o seu potencial, já demonstrado em “Black Mirror” e “O Jogo da Imitação”. Em relação a Barden, talvez se recordem dela em “A Lagosta” ou principalmente em “Penny Dreadful” como Justine. Sim, é ela.

The End of the F***ing World (Netflix)
The End of the F***ing World (Netflix)

Posto isto, o que é que torna “The End of the F***ing World” tão especial? Provavelmente o equilíbrio entre ser simultaneamente universal (todos passamos pela adolescência) e ter uma identidade tão vincada. Identidade essa na qual a banda sonora tem um peso significativo – sensacional trabalho de Graham Coxon, que faz acompanhar as suas composições originais por êxitos de Bernardette Carroll, Larry Chance & The Earls, The Vocaleers, Soko, Mazzy Star, Hank Williams ou Julie London. É tiro e queda: quando a “Voilá” de Françoise Hardy preenche os subúrbios britânicos no quinto episódio, a série já nos tem completamente na mão.

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Um dos segredos desta adaptação de Jonathan Entwistle e Charlie Covell é a forma como consegue navegar entre géneros (romance, drama, crime) sem nunca perder um ponto de vista cómico das situações. Com uma sensível e cirúrgica utilização de voz-off (I love him so much), dois protagonistas desajeitados e uma boa incorporação das dinâmicas parentais e da investigação em curso pelo rasto que James e Alyssa vão deixando.

The End of the Fucking World - James e Alyssa
The End of the F***ing World – James e Alyssa

Os gags acertam todos em cheio (tão bom aquele assalto à bomba de gasolina, com o filho do músico Nick Cave como Frodo), e a série consegue uma das coisas mais importantes – construir/ proporcionar imagens e momentos que garantem um lugar muito especial na memória dos espectadores. Andar pela floresta em tronco nu. Uma conchinha de quem acha que te quer matar mas começa a perceber que quer tudo menos isso. Uma dança em rodopio. Um corpo deitado no chão, outro na cama, e as mãos que quase tocam. Um reencontro no café e as mãos (a esquisita não) dadas.

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Iniciada naquela primeira interacção – I’ve seen you skating / You’re pretty shit – “The End of the F***ing World” é a rejeição do silêncio e da solidão, é a opção por sentir. É a consciência de que somos sempre nós contra o mundo, mas convém termos alguém ao lado. É uma série que sabe que todos já nos sentimos perdidos, sem saber para onde ir. Todos já tivemos medo. E todos já nos apaixonámos. Por vezes, tudo ao mesmo tempo.

Pode não existir segunda temporada porque o final é poético. Mas, se não for pedir muito, gostava de ler mais uns versos.

TRAILER | “THE END OF THE F***ING WORLD”

Já viste “The End of the F***ing World”? Apoias uma segunda temporada ou preferias que este fosse o final definitivo da série do Channel 4/ Netflix?

The End of the F***ing World - Temporada 1
The End of the Fucking World poster

Name: The End of the F***ing World

Description: James, que acha ser um psicopata, parte numa road trip com Alyssa, uma rapariga renegada pela família que vê nele um escape.

  • Miguel Pontares - 87
  • Filipa Machado - 80
  • Inês Serra - 85
84

CONCLUSÃO

O MELHOR – Alex Lawther e Jessica Barden fazem de James e Alyssa o mais improvável dos casais do ano. A road trip desajeitada, numa fuga constante, sangrenta e carregada de humor negro, reforça o talento que a televisão britânica têm para colocar no ecrã o grito da juventude e o dom ou fardo de sentir tudo ao mesmo tempo.

O PIOR – Os 163 minutos de duração total, embora contribuam para o concentrar de emoções fortes, passam a correr. Não é fácil, face à perfeição dos oito episódios, decidir entre prolongar este oásis ou deixá-lo como está.

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