"O Teu Nome É" ©Curtas Vila do Conde

Curtas Vila do Conde 2021 | Competição Nacional 2, em análise

No 2º dia da 29ª edição do Curtas Vila do Conde 2021, a Competição Nacional é marcada por um monólogo, ecologia e animação.

O programa da Competição Nacional 2 foi constituído por quatro curtas: “Armazónia” de Francisco Moura Relves, “Cassandra Bitter Tongue” de Ana Moreira, “O Lobo Solitário” de Filipe Melo e “O Teu Nome É” de Paulo Patrício. De seguida poderão descobrir a nossa opinião sobre 3 destas curtas-metragens.

O Teu Nome É (Your Name Is)

Curtas Vila do Conde 2021
Paulo Patrício realizador de “O Teu Nome É” ©Curtas Vila do Conde 2021

Paulo Patrício é um versátil ilustrador e também um veterano de realização de cinema de animação, autor de filmes como “Douro” (2012), “Ink blues” (2013), “Portugal pequenino” (2013), “Terras de Basto” (2013) e a sua obra mais conhecida “Surpresa” (2017). “Surpresa” ganhou os Prémio do Público no Curtas Vila do Conde de 2017 e no Monstra de 2018, em Espanha conquistou o prémio “Mikeldi de Prata” do Festival Internacional de Cinema Documental e Curta-Metragem de Bilbau e foi selecionada para o Festival de Cinema de Tribeca dos EUA.

O cineasta regressa este ano ao Curtas Vila do Conde com a animação “O Teu Nome É”, um relato com testemunhas reais e entrevistas inéditas de um caso de assassinato de 2006, no Porto, que chocou o país. Gisberta Salce Jr., transexual, seropositiva, toxicodependente e sem-abrigo foi violentamente torturada durante vários dias por um grupo de 14 adolescentes. A produção é uma colaboração entre a ANIMAIS AVPL, a AMBIANCES ASBL e a Luna Blue Film.

A curta utiliza uma bonita animação tradicional 2D, de desenho à mão, a preto e branco, com movimentos fluidos e realistas. A produção funde animação com realidade, documentário com reportagem, resultando num chocante e impactante recontar e aprofundar de um caso que apesar de já estar esquecido para o pais, merece ser relembrado.

A incursão social sobre o preconceito, a pobreza, a prostituição, a delinquência e o crime é como uma janela, que faz em muito lembrar o famoso livro “Os Filhos da Droga” de Christiane F., e que parece tão deslocada da realidade da maioria do público, que quase se diria que é ficção. “O Teu Nome É” é um relevante retrato de uma sociedade conservadora que precisa de projetos destes assim como de reportagens como a “REPÓRTER TVI: SENHOR TRAVECA” para mudar mentalidades, educar, progredir e impedir que episódios destes se repitam.

Classificação 78/100

Armazónia

Curtas Vila do Conde 2021
“Armazónia” ©Curtas Vila do Conde

A curta de Francisco Moura Relves e com produção da Filmesdamente com Roberto Santos, Victor Santos e Nuno Rocha, tenta criticar e consciencializar para a destruição da Amazónia, dos interesses políticos por detrás disso e a para a falta de sensibilização individual.

Francisco Moura Relves é um realizador, produtor, argumentista e editor ainda em fase de experimentação nas suas produções, possuindo ainda as suas arestas por limar. É o autor das longa-metragens de género documental “O Dr. Adrián e Os 5 Senhores” e “Ó Mãe, Ó Mãe”. Este ano marca a sua estreia na competição das Curtas.

O olhar low budget e parte ficcional acaba por ser uma crítica demasiado vazia e vulgar, fazendo uso de técnicas rudimentares preguiçosas, que não foram bem aproveitadas. Não é uma inspiração de produções dos anos 90, é um projeto com a qualidade atrasada umas décadas.

Classificação 40/100

Cassandra Bitter Tongue

Curtas Vila do Conde 2021
“Cassandra Bitter Tongue” ©Curtas Vila do Conde

De um texto original de Cláudia Lucas Chéu, Ana Moreira argumenta e realiza esta curta-metragem que teve a produção ao encargo da Take it Easy Film e com co-produção da RTP.

Ana Moreira é uma conhecida e premiada personalidade do cinema português, tendo-se destacado quer como atriz, quer como realizadora. No ano a seguir à sua estreia como atriz, com o filme “Os Mutantes” (1998) de Teresa Villaverde, recebe os Prémios de Melhor Actriz nos Festivais Internacionais de Cinema de Bastia e Taormina, para além de ter sido nomeada em 1999 pelo European Film Promotion para a Shooting Stars. Consegue o em 2006 o Globo de Ouro para a Melhor Actriz em Cinema em 2006, como protagonista do filme “Adriana” de Margarida Gil. Em 2018, no Curtas, venceu os prémios para Melhor Curta-Metragem Europeia e Melhor Realizador Português com “Aquaparque”.

“Cassandra Bitter Tongue” possuiu uma cinematografia com investimento, uma narrativa complexa e estratificada e um discurso trabalhado, incisivo e carismático. Começamos a ser levados por um via, que a meio do filme dá uma reviravolta inesperada acrescentando uma dimensão e relevância extraordinária. A interpretação de Iris Cayatte complementa e exponencia a ideia de Ana Moreira num filme que vale ver, ouvir e rever.

Classificação 73/100

A programação acima teve estreia no dia 18 de Julho, domingo, pelas 20h30, na Sala 1 do Teatro Municipal de Vila do Conde. Haverá exibições também no Cinema Trindade no Porto e no Cinema Ideal em Lisboa. O Festival Curtas Vila do Conde 2021 decorre até dia 25 de Julho. As sessões também podem ser vistas online recorrendo ao “Online Pass Curtas“.

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