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A Velha Guarda, em análise

Um original Netflix, “A Velha Guarda” aparenta ter tudo para ser um blockbuster de verão! Será Charlize Theron capaz de liderar um filme de acção?

Directo para a plataforma de streaming da Netflix, “A Velha Guarda” é uma agradável surpresa e, dada a situação actual, sem dúvida um dos blockbusters do verão de 2020. Em termos de características ideais para um filme de verão, tem tudo: acção, história, alguma mística, nomes fortes no elenco, e até alguns menos conhecidos, e potencial, muito potencial para ser mais do que um filme apenas (será que vem aí uma saga original da plataforma?).

Charlize Theron é o grande nome que lidera o elenco, e honestamente aquela que carrega o peso nos ombros de levar o filme a bom porto, ainda que Chiwetel Ejiofor não esteja nada mal como inicial “aliado”, mais tarde traidor, e novamente aliado no final da história. Com realização de Gina Prince-Bythewood, “A Velha Guarda” apresenta ainda novas estrelas como Kiki Layne, de “If Beale Street Could Talk”, enquanto aposta para ser a próxima geração.

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O filme segue quatro guerreiros imortais, que protegem a humanidade em segredo há séculos. Inesperadamente, quando tudo parecia calmo, são perseguidos pelos seus misteriosos poderes, justamente quando descobrem uma nova imortal. Uma premissa por si só interessante mas que peca por não ter sido aprofundada ao longo do filme.

De um argumento que se inspirou na banda desenhada homónima de Greg Rucka, Prince-Bythewood optou por aliar um lado mais pessoal e emocional à história de Andy (Theron) e a sua equipa de imortais, sendo que grande parte do filme alude à emoção e à humanidade cada um, independentemente dos séculos que já viveram (no caso dos imortais). Com uma história que claramente pode regressar a séculos e séculos de batalhas, “A Velha Guarda” apresenta um improvável grupo que sobreviveu aos tempos.

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Charlize Theron lidera um grupo de imortais em “A Velha Guarda” | © Netfllix

Theron é Andy, ou Andromecha de Scythia, a mais antiga imortal apresentada e que por pequenos discursos se percebe que remonta ao tempo da mitologia grega e dos deuses. Ao lado dela conhecemos Nicky (Luca Marinelli) e Joe (Marwan Kenzari), que ao longo dos anos se mantiveram um casal forte e unido, e ainda Booker (Matthias Schoenaerts), do tempo de Napoleão e que a par e Andy esta desgastado da vida imortal e do rumo que têm no planeta.

Como filme de acção, “A Velha Guarda” não desilude mas também não podemos dizer que se trate de uma genialidade de argumento. Se aqui o filme poderia ter seguido um rumo inteiramente sobrenatural, focando-se nos poderes imortais do grupo, a ordem de ideias foi criar uma história real, com ressonância na sociedade actual, e acima de tudo de ligação tangível com o espectador. E, se por um lado se distancia do típico filme de acção, o filme abre pelo menos uma porta na possibilidade de este ter sido apenas um filme veículo e de teste para uma nova saga, ao introduzir Kiki Layne como Nile. Uma nova personagem imortal, que se junta ao grupo e se torna claramente a peça chave, não do filme, mas de uma continuidade que queremos ver em eventuais sequelas.

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Chiwetel Ejiofor é nos apresentado como um antigo funcionário da CIA com uma missão aparentemente humanitária, apenas para desvendar motivos escondidos, financeiros, de interesses políticos, e que o juntam ao antagonista do filme: um miúdo rico, irritante, ganancioso e que para quem conhece bem a história do cinema, é inevitável deixar de gostar desde logo dele por ser o terno Dudley de “Harry Potter”. Nada nos faz apaixonar propriamente pelo elenco, ou pelo carisma das personagens, por pouco existe; o que ainda cativa é o interesse em perceber quem é Andy, e talvez a dinâmica do casal de guerreiros, que não deixam de ser as personagens a introduzir um pouco de humor no filme (pouco, mas de vez em quando lá aparece).

A Velha Guarda
Foi talvez o melhor casting… porque tudo o que associamos nele é irritante e ideal para a personagem de antagonista | © Netflix

Mas mesmo com pouca profundidade e desenvolvimento da personagem, Theron continua a ser uma actriz com uma força inabalável em qualquer que seja o seu papel. Em si, Charlize Theron incorpora uma guerreira de séculos, e uma angústia bem presente nas suas expressões, de alguém que está cansada do peso que carrega sobre si e de uma missão que parece não levar a lado nenhum – afinal o mundo parece não melhorar e a humanidade também não parece querer mudar.

E por isso mesmo, valorizamos ao longo do filme toda e qualquer cena de acção, com brilhantes coreografias de luta que enaltecem o melhor de Charlize Theron como uma das melhores actrizes de acção da sua geração. Depois de já ter mostrado os seus dotes em “Atomic Blonde“, Theron prova uma vez mais que consegue dar vida a este tipo de protagonista, sem descurar a parte emocional e fazendo qualquer espectador desejar ter a mesma agilidade que ela demonstra ter. As cenas de acção não são muitas mas talvez o equilíbrio perfeito com a história que foi apresentada.

A Velha Guarda
Charlize Theron continua a mostrar os seus dotes enquanto estrela de acção | © Netflix

Pecado mesmo foi a falta de profundidade das personagens quando se percebeu que todas elas carregam em si mundos de histórias, e a única em que houve um maior vislumbre do impacto da sua mortalidade foi Booker, que no final acaba exilado e é apenas a porta para a possível nova história da sequela: o regresso de uma imortal que se julgava há muito perdida. Nem a Andy deram tempo para mostrar mais do seu passado, a não ser que tinha traumas de perda, e que tinha feito questão de estar presente nos momentos mais históricos do mundo.

“A Velha Guarda” é um ótimo filme para os amantes de filmes de acção com um toque de história e mística – afinal de contas, o que é mais emocionante que um grupo de mercenários imortais? É um ótimo ponto de partida para uma saga de filmes, possível de ter múltiplas reviravoltas, e que irá sempre entreter o público. Se é uma obra prima do cinema? Não, de longe. Se é um bom filme para a imaginação? Sem dúvida. Mas para um filme que prometeu muita acção e estar quase equiparável a “Extracção” com Chris Hemsworth, ainda teria muito que caminhar…

A Velha Guarda, em análise
The Old Guard

Movie title: A Velha Guarda

Movie description: Quatro guerreiros imortais, que protegem a humanidade em segredo há séculos, são perseguidos pelos seus misteriosos poderes, justamente quando descobrem uma nova imortal.

Date published: 10 de July de 2020

Director(s): Gina Prince-Bythewood

Actor(s): Charlize Theron, Kiki Layne, Chiwetel Ejiofor, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Matthias Schoenaerts, Harry Melling, Van Veronica Ngo

Genre: Acção, Aventura

  • Marta Kong Nunes - 75
75

CONCLUSÃO

“A Velha Guarda” é um dos filmes de acção deste verão. A estreia pode ser exclusiva de streaming mas em tudo se assemelha a um blockbuster para entreter todo o público nas salas de cinema.

O MELHOR: As camadas de história que mostram que o filme ainda pode ser muito explorado e levado a novos spin-offs ou sequelas. E Charlize Theron claro!

O PIOR: A omissão de pistas para a origem da imortalidade desta velha guarda! O filme não desvendou nem um pouco, deixando apenas no ar que Andy (Andromache) vem do auge do império grego, fazendo alusão ao seu estatuto de deusa Andromache.

MKN

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