Do Livro à Tela | Se eu ficar
Do Livro à Tela
*
Se eu ficar
*
“Se eu ficar” foi um dos últimos romances a dar o salto das páginas para o grande ecrã. Dono de enorme sucesso, o pequeno livro tornou-se um bestseller mundial e o seu trailer deixou curiosos todos os que apreciam o género. Neste artigo vamos, uma vez mais, analisar as diferenças e o porquê dessas diferenças. Para todos aqueles que não leram e/ou não viram o filme, vamos tentar não oferecer muitos spoilers, mas a verdade é que eles existem, por isso ficam avisados. Se não querem ter algumas surpresas reveladas, parem agora a leitura.
“Se eu ficar” é um livro forte que nos tenta oferecer uma visão bem explorada e sentimental do que é um possível momento em que recordamos a nossa vida, tanto os momentos bons, que tentamos não esquecer, como os momentos maus, que teimam em não desaparecer mas que sempre nos ensinam algo.
Esta obra tem como base uma verosímil hipótese de uma pessoa em coma ter, de forma consciente ou não, a possibilidade de escolha sobre se quer viver ou não. Claro que podemos olhar para esta hipótese como uma metáfora para a nossa vontade de viver e quanto essa vontade por vezes nos salva nos mais variados momentos, como por exemplo uma doença complicada… mas deixemos possíveis metáforas de lado e vamos analisar tudo de forma direta.
Sendo um livro pequeno, não existe aqui grande necessidade de cortar no filme, mas os cortes existem sempre, para o bem ou para o mal, e as diferenças existem sem termos de fazer grande esforço para as detetar. Aqui vamos analisar algumas que, de alguma forma, condicionam a forma como vemos e recebemos esta história, culminando em duas experiência bem diferentes.
A base das diferenças está no foco que o filme dá ao romance entre o casal amoroso, Adam e Mia. A cena em que Adam pinta uma réplica do tecto em que Mia vai atuar é a demonstração que o filme quer mostrar o quanto Adam se preocupa e apoia Mia. Tal cena não existe no livro. A juntar a esta cena está o foco que o filme dá a Adam. No livro apenas temos o olhar de Mia (existe uma sequela mais focada em Adam), que se recorda de bons e maus momentos juntos, mas nunca temos a visão de Adam, não sabemos os seus medos e o que é a sua vida para lá da relação. No filme nota-se o objetivo de tornar Adam numa personagem muito importante, focando os seus problemas familiares e dando a importância necessária para um final de filme mais sentimental em alguns aspetos.
Se o espectador ainda não percebeu o foco que Adam recebe durante o filme, no fim Adam leva a preciosa carta a Mia e tal facto não acontece no livro. Novamente existe a tentativa de tornar Adam na personagem que se preocupa com Mia, aumentando o laço entre os dois. Este aumentar do foco no casal tem como expoente máximo a canção que Adam escreve para Mia, algo que não faz no livro, e que aqui se torna no grande peso da decisão final.
Mas este foco no casal também se nota no que outras personagens perdem, pois a família e amigos de Mia perdem bastante “peso” na adaptação para o cinema, visto que no filme Mia recorda muito menos a sua família e muito mais a sua relação com Adam, mas não só nas recordações vemos esta tendência, pois na própria cena do acidente se consegue reparar que o filme não é tão forte em relação à perda dos pais. No livro somos esmagados pelas fortes descrições e pelo sentimento de pânico e impotência de Mia ao ver os seus pais mortos. No filme toda a cena é muito mais soft e rapidamente somos canalizados para outros locais e outros temas.
Resumindo, e sem querer aprofundar ainda mais as diferenças, o que se nota é que o filme é sobre um casal e o livro é sobre uma vida. O livro é mais completo porque nos mostra tudo o que nos leva a querer viver… abraçar um irmão, brincar com o nosso animal, partilhar momentos de felicidade ou dor com os nossos pais. O livro leva-nos para a plenitude de acontecimentos que a vida de um adolescente pode ter. A decisão de Mia está aí, em fugir à dor da perda ou enfrentá-la e tentar repetir momentos com a sua futura família, acreditando que é a partilha de experiência o melhor que temos na vida, e vale a pena viver por esses momentos.
Outros leitores e espectadores poderão encontrar uma forma diferente de ver estas alterações, mas para nós, a diferença reside no facto de que o filme nos tenta passar a ideia que grande parte da base da decisão de Mia é a sua relação com Adam, mas o livro mostra-nos que é muito mais do que isso. São todas as pessoas que nos rodeiam e que nos fazem sorrir. São os momentos que estão para vir, os sonhos por concretizar, os sorrisos a alcançar. E por isso tudo dizemos que o livro é melhor, mais completo, mais forte, mais próximo do que é a realidade em que cada segundo pode ser um momento de felicidade. É verdade que gostámos do filme, sabemos que é uma adaptação interessante e competente, mas o livro consegue ser melhor.
E vocês, o que acharam desta adaptação?
LP
Para saberem mais sobre o livro, cliquem aqui.
Para lerem a crítica ao livro no blog Ler y Criticar, cliquem aqui.
Provavelmente o melhor artigo que li até hoje sobre o livro vs filme. Parabéns! 🙂
Obrigado pelo seu comentário e elogio, Verinha. É sempre gratificante sentir que os nossos artigos são apreciados e isso dá-nos motivação para continuar. Aproveitamos para deixar o convite para que continue a comentar os nossos artigos, sejam eles “Do livro à tela”, ou quaisquer outros, porque todos os comentários são uma forma de sabermos a opinião dos nossos leitores.
Se Eu Ficar: 5*
O filme não é 100% fiel ao livro, contudo o argumento consegue ser bastante leal ao filme e isso é sem dúvida uma mais-valia.
Li o segundo livro recentemente e já está na hora de fazerem um filme baseado em Espera por Mim, eu iria ver.
Apenas não gostei de uma coisa na adaptação cinematográfica de “Se Eu Ficar”, a mudança no nome da banda de Adam de Shooting Star para Willamette Stone.
Cumprimentos, Frederico Daniel.