DocLisboa ’25 | Ghost Elephants – Análise
Uma questão fulcral é colocada em “Ghost Elephants”. Devemos deixar o nosso sonho persistir como tal para sempre, ou procurar concretizá-lo? Como podemos viver com o nosso sucesso? Estas são as questões que atormentam um dos sujeitos principais representados no novo documentário de Werner Herzog, em estreia nacional no Doclisboa.
Ficção, filme documental, todo o tipo de formato fílmico é melhorado pela realização do mítico cineasta alemão Werner Herzog (“Aguirre”, “Into the Abyss”), que aos 83 anos de idade ainda está bem longe de perder o seu toque, como aliás podemos constatar neste documentário para a National Geographic que realizou e que agora podemos ver em Portugal, numa grande sala de cinema, como as belas paisagens africanas aqui captadas merecem.
A obra estreou originalmente no final de agosto no Festival de Veneza (Fora de Competição), num ano em que Herzog foi também o laureado com um prestigiante Leão de Ouro de Carreira.
A vida animal perante o olhar de Werner Herzog
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Noutras mãos, este documentário sobre a busca por uma espécie emblemática e quase fantasmagórica manada de elefantes angolanos poderia resumir-se a uma qualquer representação simplista daquilo que é o formato documental e especialmente o documentário dedicado à vida animal/ vida selvagem, que por norma, embora interessante do ponto de vista intelectual, consegue tornar-se deveras rotineiro e pouco inventivo.
Não com Herzog. A fórmula é deitada fora. Werner Herzog eleva a premissa e o voice over de um filme por ele escrito, realizado e narrado. A sua voz é emblemática como sempre, reconhecível como sempre, e carregada por cinco camadas deliciosas de sarcasmo que tanto nos acrescenta.
A premissa de Ghost Elephants – A caça a Moby Dick
De acordo com o próprio Werner Herzog, em “Ghost Elephants” assistimos a uma espécie de “caça à baleia branca”. O ponto de partida é o Instituto Smithsonian, onde está presente um enorme elefante, o maior animal terrestre alguma vez encontrado. Caçado em Angola na década de 50, este exemplar é atualmente quase mítico. As suas presas e mandíbula, tão volumosas que nem sequer eram fisicamente passíveis de serem expostas à entrada do museu.
Eis que entra Steve Boyes, cientista, zoologista, personalidade da internet. Há mais de uma década que Boyes procura os descendentes deste grande animal – os elefantes fantasmas que se encontram (ou não, teremos de descobrir ao longo do filme) num extenso Planalto angolano, em florestas densas e praticamente desabitadas.
A busca por esta manada de elefantes fantasmas há muito não tem obtido qualquer sucesso para Boyes. Ao fim de contas, o Planalto de Angola tem uma área tão extensa como todo o país de Inglaterra, propondo-se assim a encontrar uma agulha num palheiro.
Em “Ghost Elephants”, Werner Herzog e Steve Boyes partem, a partir da Namíbia e na companhia dos seus melhores mestres batedores, em direção a Angola, com o objectivo de estudar os elefantes fantasmas e provar a sua existência inequívoca.
“Seria melhor manter estes elefantes gigantescos como um sonho, como fantasmas, como a baleia branca”?

Uma vez concretizado, um sonho é substituído por outro. Ora, em “Ghost Elephants”, Steve Boyes caça a sua mítica baleia branca e vemos, captados através de telemóveis, estes gigantescos elefantes. Nenhum tão enormíssimo quanto o exemplar presente no Smithsonian, mas ainda assim impossivelmente majestosos e gigantes. Criaturas que se assemelham mais a sonhos que a animais reais.
Como afirmado pelo próprio Herzog no seu Director’s Statement para Veneza: “como muitos dos meus filmes, isto é uma exploração de sonhos, de imaginação, em confronto com a realidade”. É esta qualidade de sonho sonhado e interrompido que eleva o enredo e execução de “Ghost Elephants”, um documentário que vence também através da sua beleza extrema. Seja na captação das imagens dos elefantes, do impressionante planalto angolano ou das tribos na Namíbia.
Acima de tudo, depois de vermos “Ghost Elephants” sentimo-nos mais plenos, e embora Boye veja o seu sonho cumprido e portanto extinguido, há muita beleza aqui a captar para a posteridade, num documentário National Geographic que excede todas e quaisquer expectativas.
Já até dia 29 de outubro, o Cinema Ideal recebe sessões de filmes vencedores do DocLisboa. Embora sem sessão adicional de “Ghost Elephants”, que não competiu no certame, recomendamos ainda assim a exploração de alguns dos títulos principais deste festival!
Ghost Elephants - Análise
Conclusão
- Werner Herzog persegue sonhos no DocLisboa 2025, num documentário maravilhosamente bem narrado, como aliás já nos habituou. Este é “Ghost Elephants”.

