Dreams (Sex Love) é o vencedor-surpresa do Urso de Ouro da Berlinale 2025
“Dreams (Sex Love)” (ou “Drømmer”, no original) do norueguês Dag Johan Haugerud ganhou surpreendentemente o Urso de Ouro da Berlim 2025. A 75ª edição da Berlinale, festejou também o sucesso de filmes como “O Último Azul” do brasileiro Gabriel Mascaro, “El Mensaje”, do argentino Iván Fund, “Kontinental ’25″ do romeno Radu Jude e ainda uma menção honrosa para o documentário de co-produção portuguesa, “La Memoria de las Mariposas” da peruana Tatiana Fuentes Sadowsky.
A 75ª Berlinale (13-23 de fevereiro) terminou com o triunfo-surpresa de “Dreams (Sex Love)” o último filme de uma trilogia sobre a intimidade do norueguês Dag Johan Haugerud, que foi o vencedor do Urso de Ouro 2025.
O júri da Competição Internacional, presidido pelo cineasta norte-americano Todd Haynes e composto pelo realizador argentino Rodrigo Moreno, actriz alemã Maria Schrader, realizador marroquino Nabil Ayouch, actriz chinesa Fan Bingbing, designer de guarda-roupa Bina Daigeler e a crítica de cinema Amy Nicholson, recompensaram então “Dreams (Sex Love)” (“Drømmer”, no original), com o prémio máximo da Berlinale 2025.
Trata-se de mais um de três filmes que se iniciaram com “Sex”, exibido na secção Panorama da Berlinale de 2024, seguido pela segunda parte, “Love”, que estreou na Competição do Festival de Veneza 2024, e agora com a terceira parte, “Dreams (Sex Love)”, que marca o regresso de Dag Johan Haugerud, à Berlinale.
Esqueçam se vão à procura de mais um filme erótico, dos que têm marcado as tendências recentes, pois “Dreams (Sex Love)”, retrata de uma forma muito delicada, a paixão de uma jovem adolescente, aspirante a escritora, pela sua professora, algo que dá início a uma complexa investigação, mas ao mesmo tempo um drama leve, sobre o despertar romântico, desequilíbrio de poder e catarse criativa quase iniciática sobre a literatura.
Um palmarés todo surpreendente
O Grande Prémio do Júri (Urso de Prata) foi para o magnífico “O Último Azul”, do brasileiro Gabriel Mascaro (“Boi Neon”), um filme poderoso sobre o tratamento da sociedade aos idosos e como nunca é tarde para encontrar um sentido para a vida. Seguindo hierarquia e valor, o Prémio do Júri foi para “El mensaje”, do argentino Iván Fund, um filme encantador, de uma beleza, precisa e despretensiosa, um road-movie a preto e branco, ambientado no interior remoto da Argentina flagelar pela crise económica, sobre uma garotinha que ganha a vida (e a dos seus tutores) com o seu o dom de comunicar com animais, dando aos donos dos bichos, a ideia de oferecer-lhes consultas e tratamentos como médium animal.
O Urso de Prata de Melhor Realizador foi para “Living the Land”, dirigido pelo chinês Huo Meng, um filme que consegue um equilíbrio gracioso entre observação e narrativa que nos permite conectar com os muitos personagens individuais, os seus anseios, esperança, tristeza e felicidade, passado na China rural da década de 90, que iniciava então a sua profunda transformação e desafios devido aos avanços tecnológicos, que alteraram a vida das populações. A novidade em relação a outros filme chineses, é que neste, tudo é visto pelo olhar de uma criança.
Os prémios de interpretação sem género
Os Prémios de Interpretação na Berlinale, não têm distinção de género portanto, o Urso de Prata de Melhor Interpretação Principal foi para a actriz Rose Byrne, a protagonista de “If I Had Legs I’d Kick You”, um filme realizado pela norte-americana Rose Branstein. A interpretação da afectada psicanalista do serviço público de saúde norte-americana, salta e vibra quase para fora do ecrã, arrastando-nos para a escuridão, num filme de suspense do principio ao fim.
O Urso de Prata de Melhor Interpretação Secundária foi para uma estrela do momento: Andrew Scott pelo seu papel do compositor Richard Rodgers no fabuloso e putativo favorito ao Urso de Ouro, “Blue Moon”, de Richard Linklater, onde Ethan Hawke como protagonista brilha ao mais alto nível. Veremos como vai ser a carreira deste filme, nos próximos tempos.
Ensaios sobre o cinema no cinema
O cineasta romeno Radu Jude — que quem diria, afirma que se inspira muito no modelo português de produção cinematográfica — foi o vencedor do Urso de Prata de Melhor Argumento com “Kontinental ’25”. Rodado a telemóvel na famosa e tranquila cidade universitária de Cluj, Transilvânia, o filme romeno é uma mistura de drama e comédia absurda, com tópicos tão diversos como a crise imobiliária, a economia pós-socialista, o nacionalismo, o cristianismo da igreja ortodoxa e o poder da linguagem para manter o estatuto social, tudo combinado ainda com uma breve inspiração e homenagem ao “Europa ’51” de Roberto Rossellini.
O presidente do júri, Todd Haynes dedicou ainda o Urso de Prata de Contribuição Artística Excepcional a todo o conjunto criativo de “La Tour de Glace”, da realizadora francesa Lucile Hadžihalilović (“Earwig”), um filme dentro de outro filme, sobre uma adolescente que foge de um orfanato e aterra num estúdio de rodagem e que os jurados definiram como uma ‘realização sublime’ que mostra ‘um universo hipnotizante e uma meditação sobre o próprio cinema’.
Documentários poderosos e oportunos
O Berlinale Documentary Award, foi para “Holding Liat”, de Brendan Kramer, um filme que traça um caminho não de vingança, mas de humanidade, que conta a história de uma família, quando uma das filhas é feita refém do Hamas, no meio do conflito israel-palestiniano e o melhor é descobrir a sua incrível mensagem de sabedoria.
O júri concedeu ainda uma particular Menção Especial a “La Memoria de las Mariposas”, da peruana Tatiana Fuentes Sadowsky, pois trata-se de uma co-produção portuguesa com a Oublaum Filmes, de Ico Costa, um filme experimental, em vários formatos, que descontrói a história oficial do comércio extrativo e colonial da borracha do final do século XIX e início do século XX na América Latina.
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