Entrevista com Ana Varela

 

Depois de vários trabalhos na televisão, a bela actriz ribatejana estreia-se agora no cinema em grande e no papel da sensata e tímida Branca, no remake de ‘O Leão da Estrela’, do realizador Leonel Vieira. Nesta entrevista fala-nos da sua vida e trabalho, das suas ambições e sobretudo como abraçou este projecto de participar nesta ‘comédias de enganos’, que no original já fez rir muitas gerações de portugueses.

ana varela

A BRANCA DO LEÃO

Ana Varela nasceu em Almeirim e tem um percurso ligado à televisão e ao teatro. No cinema participou em algumas curtas-metragens. Como muitos actores da sua geração, começou primeiro numa famosa série juvenil produzida para internet e para a RTP, intitulada ‘T2 para 3 Remodelado’ e depois no elenco de uma das temporadas de ‘Morangos com Açucar’, da TVI. Tinha então por volta dos 20 anos. Agora aos 27 anos estreia-se nos grandes ecrãs. Fomos conhecer melhor esta morena genuína e tipicamente portuguesa, que tem curiosamente um olhar, a beleza e sensualidade das estrelas de Hollywood, combinadas com a sensatez e a simplicidade da Branca, a sua personagem de ‘O Leão da Estrela’.

MHD: Quem é a Ana Varela?

ANA VARELA: Tenho 27 anos, sou actriz, sou mãe. Sou determinada, sou apaixonada pela vida, pela minha profissão e pela minha filha e também sou sensata como a minha personagem da Branca.

MHD: Sempre sonhou ser actriz desde criança?

A.V.: Não, mas olhando para trás, estava tudo lá. Cresci numa pequena aldeia ribatejana e ‘ser actriz’ nunca tinha sido uma opção para alguém de lá. Todos deviam ser doutores. E a verdade iniciei esse caminho. Por isso  estudei Economia na Universidade Nova de Lisboa. Rapidamente descobri que aquele não seria o meu caminho.

MHD: Aparentemente tudo começou na série ‘Morangos com Açucar’?

A.V.: Não. Mas foi esse projecto que me deu mais visibilidade. Antes fiz uma série para a RTP1, chamada ‘T2 para 3 Remodelado’. Fui escolhida para essa a série quando ainda andava na faculdade e foi ela que mudou a minha vida. Mas os “Morangos…” foram sem dúvida uma boa escola no sentido em que me obrigavam a assimilar um conjunto de técnicas de televisão num curto espaço de tempo, sem uma pedagogia forte, mas com um elevado nível de exigência. No entanto, é errado afirmar que os “Morangos” formava actores.

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‘…os “Morangos…”, foram sem dúvida uma boa escola…mas é errado afirmar que formava actores.’

MHD: Como foi a sua experiência no teatro?

A.V.: É fantástico, arrebatador, assustador, mas viciante. Amo fazer teatro! Aliás, como amo interpretar onde quer que seja, pois sou completamente apaixonada pela minha profissão! A minha última experiência teatral foi na peça ‘Atreva-se’, do autor brasileiro Maurício Guilherme. Foi brutalmente arrebatadora pois trabalhava directamente com o público num papel que vivia muito do contacto com a plateia e improviso. Foi maravilhoso. Chegava a casa todos os dias como se tivesse ganho uma batalha! Sente-se uma adrenalina e uma energia incríveis!

MHD: A maioria das pessoas pensa que na televisão é chegar ali ler o guião e as cenas do dia e toca a representar. É assim que funciona?

A.V.: Essa é a magia da televisão. Parece tudo tão fácil, mas não é? Tudo é feito para que pareça real, quotidiano, logo: fácil! Mas não é! Envolve construção de personagem, trabalho de pesquisa, estudo e análise de textos, de circunstâncias, de intenções, de acção. Na verdade, qualquer um pode fazer o seu trabalho com maior ou menor afinco. Eu trabalho as minhas personagens de televisão da mesma forma como trabalho qualquer outra.

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MHD: Esta é praticamentea sua estreia no cinema. Como surgiu o convite para interpretar Branca em ‘O Leão da Estrela’?

A.V.: Ainda não sabia da existência desta trilogia ‘Os Novos Clássicos’, quando fui convidada a reunir com o Leonel Vieira. Na reunião, ele desafiou-me a fazer um casting para conhecer melhor o meu trabalho, mas nunca revelando os projectos que estava a preparar. Passadas algumas semanas da prova, ligaram-me da Stopline com este maravilhoso convite. De facto foi fantástico, depois de ter feito algumas curtas-metragens que são uma oportunidade para experimentarmos coisas diferentes e arriscarmos ‘out of the box’, pois normalmente, são projectos que dão maior liberdade artística aos actores.

MHD: Viu as comédias portuguesas dos anos 40…também sabia alguns diálogos de cor e ria mesmo quando já as viu mais do que uma vez?

A.V.: Estão tão bem feitas que é impossível não rir de todas as vezes!

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‘…a minha Branca mantém uma expressão corporal bastante idêntica à da Maria Eugénia…’

MHD: Quantas vezes viu o filme original? De alguma forma influenciou o seu, trabalho de preparação para o papel ou limitou-se a pegar no novo guião?

A.V.: Vi o filme original algumas vezes no passado e fiz questão de o rever assim que entrei no projecto! No entanto, pouco me influenciei na preparação deste filme. Primeiro porque tem linguagem completamente diferente, vive uma época também muito diferente, em que o cinema tinha um registo muito próprio, e principalmente porque o novo guião era tão rico, tão bem construído, e as personagens estavam tão bem marcadas que nos desafiou automaticamente a fazer algo novo e afastado do original. No entanto, acho que a minha ‘Branca’ mantém uma expressão corporal bastante idêntica à ‘Branca’ da Maria Eugénia e frequentemente, ao longo das rodagens, reparava nesse facto.

MHD: E o guião é muito diferente do original? A sua personagem difere muito da Maria Eugénia?

A.V.: O guião é muito diferente. Para mim, este guião do Tiago R. Santos é um dos grandes pontos fortes deste filme. É um guião inteligente, com bastante piada e apesar de ser inspirado no clássico, é bastante original, inusitado e surpreendente. Paralelamente, as personagens também elas são mais ‘coloridas’ e com arcos próprios bem definidos.

MHD: Já tinha trabalhado no cinema, mas nunca numa produção desta dimensão. Como foi trabalhar com o Leonel Vieira?

A.V.: É verdade, esta experiência foi bastante mais intensa (positivamente intensa)! O Leonel, é um realizador com um carácter forte e muito próprio e, acima de tudo, é um excelente director de actores. Tem uma extrema sensibilidade e consegue dirigir e motivar os actores na perfeição, para que eles alcancem o resultado pretendido. Aprendi imenso com ele e com os fabulosos actores deste elenco. 

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‘Tive o privilégio de ser filha de um enorme Miguel Guilherme e de uma fantástica Manuela Couto’.

MHD: E com actores tão grandes como o Miguel, Manuela, Alexandra, José e igualmente com os seus colegas mais novos. Já tinha trabalhado com quase todos eles pelo menos nas telenovelas?

A.V.: Já tinha trabalhado com a Sara Matos e com o André Nunes. Tive o gigante privilégio de ser filha de um enorme Miguel Guilherme e de uma fantástica Manuela Couto. O ambiente era óptimo, muito divertido, e o trabalho fluiu de uma forma completamente fácil e natural.

MHD: Não sente uma grande responsabilidade ao interpretar o papel da Maria Eugénia,l? Conhecia a carreira da Maria Eugénia? Fico com a sensação que os espectadores hoje já não se lembram dela…

A.V.: Não sinto pois, como já referi, a minha intenção, assim como toda a intenção do filme, foi fazer diferente, fazer novo, fazer actual. O trabalho da Maria Eugénia é imaculado e respeito-o imenso. Talvez sinta que o público se recorda com mais facilidade de um António Silva, de um Artur Agostinho ou de uma Laura Alves, mas é algo completamente natural, são ícones do nosso cinema!

MHD: A pergunta é difícil, mas em sua opinião esta versão, e agora estou a falar com a espectadora, fica muito aquém ou não da versão original?

A.V.: Não é uma pergunta difícil! Não têm comparação estes filmes. Vivem em épocas e de guiões diferentes, apenas o conflito central é o mesmo. Este é um filme a cores, que fala de temas actuais e onde a liga dos últimos se torna mais interessante que o Porto -Sporting de 1947. Tem ingredientes diferentes e muito divertidos! É um filme delicioso!

MHD: Não acha que apesar do humor ser um dos fundamentos da cultura portuguesa e termos bons humoristas, que faltam comédias no cinema nacional?

A.V.: Curiosamente acho que alguém já percebeu isso. Em 2014 estrearam ‘MauMauMaria’ de José Alberto Pinheiro (no qual participei) e ‘Virados do Avesso’ de Edgar Pêra que levaram bastantes espectadores ao cinema e para este ano, além do projecto da Stopline que traz ‘O Pátio das Cantigas’ e ‘O Leão da Estrela’, já estreou ‘O Capitão Falcão’ do João Leitão e estão previstas mais estreias de comédias. Devemos continuar a fazer cinema em Portugal, independentemente de ser comédia ou não. Mas a comédia é dos nossos pontos fortes, sem dúvida! No entanto, eu sou uma fã incondicional do drama e espero que se faça muito drama (à boa maneira portuguesa também).

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‘Devemos continuar a fazer cinema em Portugal, independentemente de ser comédia ou não.’

MHD: Quais são os seus projectos de trabalho a médio prazo? Que está a fazer agora?

A.V.: Neste momento estou no elenco fixo de ‘A Impostora’ a nova novela da TVI

MHD: Está a dar os primeiros passos no cinema. Já lhe disseram que tem aquele olhar das ‘morenas’ do cinema clássico americano: Ava Gardner….Rita Hayworth????

A.V.: Já… E fico naturalmente derretida pela sugestão…Adoro o cinema clássico americano!

 

PERFIL


ana varelaAna (Catarina Silva) Varela. Nasceu a 16 de Maio de 1988. Iniciou a sua carreira em 2008 com a série “T2 para 3 Remodelado”. Em 2009, integrou o elenco de “Morangos com Açúcar – Geração Fame” e, em 2011, o elenco de “Pai à Força”, onde interpretou “Laura”. No cinema, estreou-­se com “Mau Mau Maria” de José Alberto Pinheiro estreia-se agora nas longas-metragens em “O Leão da Estrela” de Leonel Vieira, (2015).

 

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